Conheça cada um dos quatro passos da lectio divina e saiba como vivenciar bem cada um deles em nosso contato com a Palavra de Deus.
Nesta aula do curso “Ensina-nos a orar”, Padre Paulo Ricardo nos explica quais são os quatro passos da lectio divina, ou seja, da leitura orante da Bíblia. Além disso, o Sacerdote nos ensina, de forma simples, mas com profundidade, como viver bem cada um desses passos. Cada um deles é importante, pois juntos nos levam a uma experiência com Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14).
A tradicional lectio divina possui quatro passos fundamentais, que em latim se chamam lectio (leitura), meditatio (meditação), oratio (oração) e contemplatio (contemplação). Cada um desses passos é como que uma escada espiritual usada pelos monges desde o século III para elevarem-se até Deus através das Sagradas Escrituras. Originalmente uma oração monástica, a lectio divina popularizou-se e é indicada a todos nós católicos enquanto “diálogo entre Deus e o homem; porque ‘a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos’”[1], dizia Santo Agostinho.
O passo da leitura (lectio)
A lectio divina é a meditação, a leitura orante, das Sagradas Escrituras. Ela tem tradicionalmente quatro passos. O primeiro passo é a leitura, é evidente. Mas, não é óbvio que as pessoas saibam ler a Bíblia. Pois, nós não estamos lendo um livro qualquer. Nós estamos lendo as Sagradas Escrituras, que são um instrumento para nós entrarmos em contato com Jesus ressuscitado. Então, nós precisamos ler as Sagradas Escrituras num sentido espiritual, que nos leve ao Cristo. Em outros episódios comentaremos sobre os sentidos espirituais das Escrituras. Todavia, é importante que neste primeiro momento nós já compreendamos que é o Cristo vivo que nos fala. Ele é o Verbo encarnado, é a Palavra de Deus, que se fez carne, que está falando conosco.
Na lectio divina, quando fazemos a primeira leitura de uma passagem das Sagradas Escrituras, seria importante que guardássemos alguma coisa em nosso coração, que retivéssemos algo na memória. As pessoas hoje em dia usam muito pouco a memória. Precisamos nos aperfeiçoar nisso, reter mais informações na nossa memória. Porque, uma vez que pegamos aquilo que basicamente é o texto que estamos lendo, nós então vamos para um segundo passo, que é a meditação. É claro que podemos ter o texto bíblico em nossas mãos, voltar e conferir as passagens bíblicas que nos falaram, quase que como os passarinhos fazem quando bebem água. Eles baixam o bico, pegam um pouco de água e depois elevam a cabeça, para que a água desça para o corpo. Assim deve ser a nossa lectio divina.
O passo da meditação (meditatio)
Nós lemos e nos dirigimos a Deus numa meditação em que estamos ouvindo Jesus, que fala ao nosso coração. Ele está iluminando a nossa alma com aquela verdade que meditamos. Mas, se nós, ao invés de ficar voltando ao texto a todo o momento já o tivermos no nosso coração, as coisas ficam mais fáceis. Porque poderemos também, com aquele texto que memorizamos, durante o dia voltar e revisitar aquela palavra. Desse modo, podemos ruminá-la sempre. Os antigos não tinham como nós a facilidade de ter a Bíblia, num volume só, toda encadernada. Os antigos tinham um único volume para um mosteiro inteiro. Eles ouviam uma leitura de manhã e faziam o possível para reter na memória alguma coisa, para poder, durante o dia, “mastigar” aquilo que retiveram.
O mais importante é sabermos que estamos ouvindo o Cristo e agora nós vamos buscar a verdade do Cristo que ilumina a nossa alma. Não se trata de buscar sentimentos. Trata-se de buscar uma verdade. A verdade do amor de Cristo manifestada por nós. É importante que, quando pegamos um trecho do Evangelho, compreendamos que nele Cristo pensava em nós particularmente. Porque Ele veio ao mundo para a humanidade como um todo, mas, ao mesmo tempo, para cada um de nós em particular. A palavra que lemos está dirigida pessoalmente para nós e não à humanidade de forma geral, pois através desta palavra Jesus nos fala. Este encontro pessoal com o Senhor é também muito importante. Tudo isso se dá na primeira parte, na lectio e na meditatio.
Assista ou ouça aula do Padre Paulo Ricardo sobre “Leitura meditada – Quais são os passos da “Lectio Divina”?”:
O passo da oração (oratio)
Uma vez que Deus falou conosco, trata-se agora de responder. Uma verdade nos iluminou, então damos de volta a Palavra de Deus para Ele, nos dois outros passos: o passo da oração e o da contemplação. A oração é mais a realidade da oração vocal, na qual pegamos a Palavra de Deus e a transformamos em oração de volta, ou seja, em resposta a Deus. Na oração, nós realmente queremos manifestar o nosso amor pelo Cristo.
E aqui, na oração vocal, como nós já aprendemos, os atos mais importantes que devemos fazer são aqueles que alimentam as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Então, nós rezamos e dizemos: eu creio nessa verdade que o Senhor está dizendo para mim, eu creio no Seu amor por mim! A partir deste ato de fé, dizemos: Senhor dá-me a graça, para que eu possa corresponder a esse amor, a esperança, na qual esperamos uma intervenção da graça e finalmente amamos. Se não amamos ainda, então dizemos: Senhor, eu quero amar, eu quero parar de mentir e dizer que amo de verdade. Então, acontece a oração.
O passo da contemplação (contemplatio)
E finalmente a contemplação, o último passo da lectio divina, que é um permanecer na presença de Deus. Dialogamos com Ele, estamos ali, a nossa presença e a presença d’Ele. Lembremos que a presença de Deus é uma presença ativa. Jesus está presente, Se doando a nós. Então, permaneçamos nessa presença como o evangelista São João, que se reclinou no peito do Mestre (cf. Jo 13, 23). Dessa forma, nos encontramos verdadeiramente com Jesus Cristo. Enfim, esses são os quatro passos da lectio divina: leitura, meditação, oração e contemplação.
Fonte: PADRE PAULO RICARDO. Leitura meditada – Quais são os passos da “Lectio Divina”?
Transcrição e adaptação: Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus em Maria.
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Referência:
[1] CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum, 25. Agostinho, De civ. Dei, XVII, 6, 2: PL 41, 537: CSEL XL 2, 228.