Saiba porque um verdadeiro devoto da Virgem Maria não se perde, mas alcança a libertação das ciladas do demônio e a salvação eterna.
Um verdadeiro devoto da Santíssima Virgem Maria, que fielmente a serve e a ela recorre, jamais se perderá. A princípio, esta afirmação pode parecer um tanto quanto exagerada e fora da realidade. No entanto, antes de rejeitar esta proposição, meditemos a respeito. Quando dizemos que é impossível perder-se um devoto da Mãe de Deus, não estamos falando daqueles que abusam da devoção mariana para pecar com menos temor da condenação. Há quem desaprove que celebremos as misericórdias de Nossa Senhora para com os pecadores, dizendo que estes abusam dela para pecar mais. Mas, o fazem injustamente, pois esses que se acham salvos, por esta sua temerária confiança, merecem castigo e não misericórdia.
Aqui tratamos somente daqueles devotos da Santíssima Virgem que, ao desejar mudar de vida, perseveram nesse propósito. Bem-aventurados os que praticam as virtudes de Nossa Senhora, e caminham sobre as pegadas de sua vida, com o socorro da graça divina. Se procedermos dessa forma, seremos felizes neste mundo devido à abundância de graças e de doçuras que a Virgem Maria nos comunica de sua plenitude, com muito mais fartura do que aos outros, que não a imitam com tanto esforço. Seremos felizes também em nossa morte, que será doce e tranquila, sob os cuidados da Mãe de Deus, que nos conduzirá às alegrias eternas. Seremos felizes na eternidade, pois jamais se perdeu nenhum dos seus servos, que durante a vida tenham imitado fielmente as suas virtudes.
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A devoção a Maria é sinal certo de salvação eterna
Santo Anselmo diz que “é impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção, […] e também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem, e por ela é olhado com amor”1. As pessoas das quais Nossa Senhora afasta seus olhos misericordiosos não se salvam. Entretanto, salvam-se certamente os que por ela são vistos com amor e protegidos por sua intercessão. Diante dessas afirmações, devem tremer aqueles que desprezam a devoção a Mãe de Deus, ou que a abandonam por descuido da própria salvação.
Não há possibilidade de salvação para nós se não somos amparados pela Mãe do Senhor. A esse respeito, Santo Alberto Magno dizia: “Todos os que não são vossos servos hão de perder-se, ó Maria”2. Se não recorremos a Virgem Santíssima, não entraremos no Reino dos Céus. Não nos salvaremos e nem esperança de salvação teremos se Nossa Senhora afasta de nós o seu olhar. Nós, pobres pecadores, não seremos salvos a não ser por meio da Santíssima Virgem, cuja misericordiosa intercessão salva muitos de nós, que deveríamos ser condenados pela justiça divina. Nesse sentido, a Igreja aplica a Mãe de Deus esta passagem: “Mas quem me ofende, prejudica-se a si mesmo; quem me odeia, ama a morte” (Pr 8, 36).
Nossa Senhora é semelhante a um navio mercador (cf. Pr 31, 14). Se não estivermos a bordo desse navio, seremos submergidos no mar deste tempestuoso deste mundo. Nesse sentido, a pouca devoção a Virgem Maria é indício certo de condenação. Por outro lado, a Mãe de Deus diz: “Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna” (Eclo 24, 31). Quem a ela recorre e ouve as suas palavras não se perderá. E se esforçamo-nos em servir Nossa Senhora, estaremos longe da condenação, ainda que no passado tenhamos ofendido muito a Deus. Por isso, o demônio trabalha para que, depois de perdermos a graça de Deus por causa de nossos pecados, percamos também a devoção a Virgem Santíssima.
Sara observava que Isaac pegava os maus costumes de Ismael, com quem brincava. Por isso, pediu a Abraão que o expulsasse e também sua mãe Agar. “Expulsa a escrava com seu filho!” (Gn 21, 10). Sara não se contentou em mandar embora o menino, mas exigiu que Abraão expulsasse também a sua mãe. Pois, imaginou que, se esta ficasse, o filho viria à casa para ver sua mãe. Do mesmo modo, o demônio não se contenta em ver que nos separamos de Jesus Cristo. Ele quer também nos ver separados de sua Mãe Santíssima. O demônio quer que expulsemos Jesus e Maria de nossas vidas, pois teme que a Mãe, com suas preces, reconduza o Filho a nós. Ele teme com razão, pois não tarda em encontrar o Filho de Deus quem é fiel em servir a Mãe de Deus.
A devoção a Maria Santíssima é um salvo-conduto que nos livra do inferno. Nossa Senhora é a protetora dos condenados. Pois, não lhe falta poder, nem vontade para nos salvar. Ela tem poder, porque é impossível que não seja atendida uma oração sua. Suas orações jamais ficam sem ser atendidas, mas sempre alcançam o que pretendem. A Virgem Maria tem vontade de nos salvar, porque deseja nossa salvação, mais do que nós mesmos a desejamos. Dessa forma, como perder-se-á um fiel devoto de Nossa Senhora?
Ainda que sejamos grandes pecadores, podemos nos salvar, se com perseverança e propósito de mudança de vida nos confiarmos a essa boa Mãe. Ela dará a nós o conhecimento de nosso miserável estado, e nos conduzirá ao arrependimento de nossos pecados. A Mãe de Deus obterá para nós a perseverança no bem e finalmente uma boa morte. Se uma mãe, que pode livrar seu filho da morte com um simples pedido ao juiz, certamente intercede para livrá-lo da condenação, igualmente podemos pensar que a Virgem Maria, Mãe tão dedicada para conosco, livrará a nós da morte eterna. Pois, para ela é possível e muito fácil conseguir a salvação para nós. Sendo assim, podemos invocar com confiança o auxílio da Mãe de Deus:
Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salvo. Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção para convosco é uma segura arma de salvação, por Deus concedida só aos que deseja salvar. Por isso até Erasmo assim saudava a Santíssima Virgem: Deus vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a confiança em vós assegura a salvação3.
A devoção a Maria nos protege da fúria de Satanás
A perseverante devoção a Virgem Maria desagrada muito os demônios.Certo dia, Afonso Alvarez, homem muito devoto de Nossa Senhora, foi atormentado pelo demônio com fortes tentações contra a pureza durante as suas orações. O inimigo disse a ele: deixa a devoção para com Maria que eu deixarei de lhe atormentar. Este empenho do demônio em nos afastar da devoção mariana tem uma razão: Deus concedeu a Santíssima Virgem, em consideração ao Filho, a graça de não deixar cair no inferno os pecadores que a ela recorrem devotamente. O próprio Davi pediu a Deus que o livrasse pelo amor que tinha à Sua casa: “Senhor, amo a habitação de vossa casa, e o tabernáculo onde reside a vossa glória. Não leveis a minha alma com a dos pecadores” (Sl 25, 8-9a). Davi fala dessa “casa”, porque a Virgem Imaculada foi certamente a casa que o próprio Deus preparou na terra para Sua habitação, onde fez-Se homem e encontrou o Seu repouso. Em honra a esta bela casa, o Senhor não deixará perder-se quem é fiel à devoção a Virgem Mãe de Deus. Nunca aconteceu, nem acontecerá, que um humilde e fiel servo de Maria se perca eternamente.
Nós permaneceríamos obstinados no pecado, e nos condenaríamos para sempre, se Nossa Senhora não intercedesse junto ao seu Filho, para Ele usar de misericórdia em nosso favor. A Virgem Maria alcançou de Deus a suspensão da sentença e a vida para fazerem penitência à muitas pessoas mortas em estado de pecado mortal. Foi o que aconteceu a um homem que, morto e prestes a ser sepultado, voltou a viver e contou que viu o lugar do inferno, ao qual já estava condenado. A Mãe de Deus alcançou-lhe a graça de voltar a este mundo para fazer penitência. Experiência semelhante viveu um cristão romano, que morreu na impenitência, a quem a Virgem Maria alcançou a graça de retornar ao mundo para receber o perdão de seus pecados.
Estes e outros exemplos não devem servir para nos autorizar a imprudência dos que vivem em pecado, confiantes de que Nossa Senhora os livrará do inferno ainda que morram impenitentes. Seria uma loucura semelhante a lançar-nos para dentro em um poço, na esperança de ver-nos livres da morte, porque a Mãe de Deus já salvou a outros em casos idênticos. Muito maior loucura seria arriscar-nos a morrer em estado de pecado, pensando que a Virgem nos preservará do inferno. Estes exemplos devem servir para reanimar a nossa confiança, ao considerarmos que a intercessão de Maria Santíssima é tão poderosa que pode livrar do inferno até os que morrem em pecado mortal. Muito maior será este poder para impedir que se perca quem nesta vida a ela recorre com intenção de mudar de vida e ser fiel em lhe servir! Por isso, com confiança, digamos a Virgem Maria:
Ó nossa Mãe, que será de nós que somos pecadores, mas nos queremos emendar e recorremos a vós, que sois a vida dos cristãos? Ouvimos S. Anselmo garantir, ó Senhora, que não se perderá eternamente todo aquele por quem orais uma só vez. Rogai por nós, então e seremos salvos do inferno4.
Quem ousará dizer-nos que Deus não nos será propício no dia do juízo se estiverdes ao nosso lado, ó Mãe de Misericórdia? A exemplo dos santos, confiemos nas mãos de Maria as nossas almas. Pois, se o Juiz tiver de nos condenar, a sentença passará pelas mãos misericordiosas da Virgem que, nesse caso, suspenderá a execução. Sendo assim, digamos continuamente com São Boaventura: “Em vós, Senhora, pus toda a minha esperança, por isso seguramente espero não me ver perdido, mas salvo no céu para louvar-vos e amar-vos para sempre”5.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A Mãe do Salvador e a Nossa Vida Interior”:
A história do estudante salvo pelas mãos da Virgem Maria
Pelo ano de 1604 viviam numa cidade de Flandres dois jovens estudantes que, desleixando dos estudos, se entregavam a orgias e devassidões. Uma noite entre outras foram a certa casa de tolerância. Um deles, chamado Ricardo, depois de algum tempo, retirou-se para casa e o outro ficou. Chegando Ricardo a casa, estava para acomodar-se, quando se lembrou que não havia rezado umas Ave-Marias, como era de seu costume fazê-lo em honra da Santíssima Virgem. Acabrunhado pelo sono, sem nenhuma vontade para rezar, fez, contudo, um esforço e rezou as Ave-Marias, embora sem devoção e por entre bocejos de sono. Deitou-se depois e adormeceu. Mas não tardou a ouvir bater à porta com muita força. E imediatamente, sem ele a abrir, vê diante de si o companheiro de farras, mas desfigurado e medonho.
– Quem és tu? – perguntou aterrorizado.
– Tu não me conheces? – respondeu o outro.
– Mas como te mudaste tanto? tu pareces um demônio.
– Ai, pobre de mim! – exclamou aquele infeliz – que, ao sair daquela casa infame, veio um demônio e me sufocou. O meu corpo ficou meio da rua, e a minha alma está no inferno. Sabes, pois, acrescentou, que o mesmo castigo te tocava também a ti. Mas a bem-aventurada Virgem, pelo teu pequeno obséquio das Ave-Marias, te livrou dele. Ditoso de ti, se tu souberes aproveitar deste aviso, que a Mãe de Deus te manda por mim. Depois destas palavras, o condenado entreabriu a capa e mostrou as chamas e as serpentes que o atormentavam e desapareceu. Então Ricardo, chorando copiosamente, com o rosto em terra, deu graças a Maria, sua libertadora. Enquanto pensava como mudar de vida, ouviu tocar Matinas no convento dos franciscanos. Logo pensou: É aí que Deus me quer para fazer penitência. E foi pedir aos frades que o recebessem. Cientes de sua má vida, não queriam eles aceitá-lo. Contou-lhes então entre lágrimas o que havia acontecido. Dois religiosos foram à rua indicada, achando efetivamente o cadáver do companheiro, sufocado e negro como um carvão. Depois disso, foi Ricardo admitido e levou uma vida penitente e exemplar. Mais tarde, foi como missionário pregar nas Índias e em seguida no Japão, onde teve finalmente a graça de morrer mártir, queimado vivo por amor de Jesus Cristo6.
Oração de Santo Afonso Maria de Ligório a Nossa Senhora
Ó Maria, Mãe caríssima, em que abismo de males me havia de achar, se não me tivésseis salvado tantas vezes com vossas mãos piedosíssimas? Há quantos anos estaria no inferno, se vossa poderosa intercessão dele não me houvesse preservado? Para lá me impeliram meus gravíssimos pecados; a justiça divina já me havia condenado; os demônios bramiam, procurando executar a sentença. Vós, porém, correstes sem eu vos chamar, ó Mãe; sem vo-lo pedir, me salvastes.
Ó minha querida libertadora, que vos darei eu por tantas graças e por tanto amor? Vencestes a dureza do meu coração e me levastes a amar-vos e a confiar em vós. Ai! em que abismo de males teria caído mais tarde, se com vossa mão piedosa não me tivésseis auxiliado tantas vezes nos perigos em que tenho estado próximo a cair! Continuai a livrar-me do inferno e primeiramente do pecado que para lá me pode levar. Não permitais que haja de amaldiçoar-vos no inferno. Ó Senhora minha diletíssima, eu vos amo. Será possível que vossa bondade sofra que um servo vosso, que vos ama, seja condenado? Ah! obtende-me a graça de não ser mais ingrato para convosco, nem para com meu Deus, que por amor vosso tantas graças me tem dispensado. Maria, que dizeis? Será possível que eu venha a me condenar? Condenar-me-ei se vos abandonar. Mas como terei jamais a presunção de abandonar-vos? Como poderei esquecer vosso amor para comigo? Sois, depois de Deus, o amor de minha alma. Eu não quero viver mais sem amar-vos. Eu hei de vos querer bem, eu vos amo e espero que sempre vos hei de amar, no tempo e na eternidade, ó criatura a mais bela, a mais santa, a mais doce, a mais amável deste mundo. Amém!7
Nossa Senhora, refúgio dos pecadores, rogai por nós!
Natalino Ueda, escravo inútil de Jesus por Maria.
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A Visitação de Maria, Medianeira das Graças.
TODO DE MARIA. Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa.
TODO DE MARIA. Ó Virgem Maria, esperança nossa, salve!.
Referências:
1 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria, p. 183.
2 Idem, ibidem.
3 Idem, p. 185.
4 Idem, p. 187-188.
5 Idem, p. 188.
6 Idem, p. 188-189.
7 Idem, p. 189-190.