Bem-aventurados os que choram

No Sermão da Montanha, Jesus nos ensinou: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!”.

Na segunda Bem-aventurança, Jesus Cristo declarou: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!” (Mt 5, 4). Como todos os cristãos, os consagrados marianos devem também observar e dar credibilidade às palavras do Senhor no Sermão da Montanha. O que nosso Senhor lá falou, são os compromissos a serem assumidos. Se tivermos fé, poderemos ser consolados. Dependendo dos motivos que nos fazem chorar, seremos beneficiados, segundo a promessa de Jesus.

No Sermão da Montanha, Jesus nos ensinou: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!”.

Santo Agostinho, Nossa Senhora da Consolação e Santa Mônica

Mesmo que muitos digam que o mundo é dos fortes, dos destemidos e valentes, e afirmem que “homem que é homem, não chora!”, é fundamental que estejamos atentos e compenetrados nas Bem-aventuranças. Precisamos ter certeza e convicção de que aqueles que “choram” por causa do Reino dos Céus, serão consolados. Só assim, passaremos pelo “vale das lágrimas”, confiantes e sustentados pelas juras do Alto.

Todos os choros são virtuosos? O que nos tem feito chorar?

O ato de “chorar” significa lacrimejar. A lágrima é um efeito fisiológico do choro dos seres humanos. Todos os homens e mulheres, independentes de suas idades cronológicas e de suas situações financeiras, passam por tribulações, provações e privações. Nesta peregrinação aos Céus, ninguém está livre das dores e sofrimentos.

Muitos chorarão arrependidos de seus pecados por “contrição perfeita” ou “contrição de caridade” (por amor a Deus), outros por “contrição imperfeita” ou “atrição” (por medo do castigo eterno)1.

O homem, na vida comunitária, passa por alegrias, conflitos, por crises que podem levá-lo ao choro. Você já chorou? Jesus chorou? Sim! Você já perdeu alguém muito próximo? Você já vivenciou o luto? O Filho de Deus chorou quando soube da morte de seu amigo Lázaro (cf. Jo 11, 35-36). Jesus também chorou quando olhou para a cidade de Jerusalém e profetizou a sua ruína (cf. Lc 19, 41). Por vezes, chorar é inevitável e este ato pode ter várias motivações, boas ou más, com consequências, também boas ou más:

O medo desencadeia o choro! Caim matou seu irmão Abel, por inveja (cf. Gn 4, 1-8). Você tem ambicionado as coisas do outro? Caim teve medo do castigo. Você tem?

A inveja desperta o choro! O rei Acab chorou por não ter a vinha de Nabot, à qual cobiçava, e conspirou, com ajuda da rainha Jezabel, para que ele fosse morto para tomar o seu vinhedo (cf. 1 Rs 21, 4-14). Você já chorou por perdas materiais?

As frustrações provocam choro! Esaú chorou quando perdeu a primogenitura (cf. Gn 27, 38; Hb 12, 17). E você, já vendeu seu direito de ser filho de Deus? Já chorou por perder algo? Quais as contrariedades que você passou, que lhe causaram decepção e até mesmo dor física?

As carências aguçam o choro! José chorou quando reencontrou os seus irmãos (cf. Gn 43, 30). E você, já entrou em seu quarto e chorou? Já viu alguém passar fome?

O arrependimento conduz ao choro! A Bíblia diz que há muita alegria no céu por um pecador que se arrepende (cf. Lc 15,7). Davi chorou por ter ofendido a Deus (cf. Sl 51, 1ss). Mas, quando este Rei viu seu filho em risco de morte, jejuou, chorou e orou (cf. 2 Sm 12, 21). E você, além de chorar, tem feito sacrifícios?

Será que todos que choram serão consolados?

A necessidade de ser contemplado com a misericórdia de Deus, faz o homem “despencar” em prantos, arrepender-se de seus pecados e os confessar. Este choro é pelo desejo de ser absolvido, redimido e salvo!

O Evangelho segundo São João nos fala a respeito de uma mulher que fora apanhada em adultério e que foi levada até Jesus pelos escribas e fariseus (cf. Jo 8, 3). Esta recebeu uma consolação do Senhor: “Nem eu te condeno”. Entretanto, Jesus Cristo também lhe deu, além desta consolação, uma ordem: “Vai e não tornes a pecar” (Jo 8, 11). Simão, o pescador, reconheceu o Senhor como “o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Mas, mesmo assim, chorou amargamente, ao perceber sua própria fraqueza quando, por medo, negou Jesus Cristo (cf. Lc 22, 62). Mas, este se arrependeu e foi confortado ao ser interrogado por Cristo na terceira vez: “Amas-me?”. Neste encontro, Pedro compreendeu que, mesmo com o seu amor imperfeito por Cristo, limitado pela fragilidade humana, o Senhor queria a sua colaboração: “Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21, 17).

Já chorastes nas vezes que perdestes Jesus?

Acredite, você poderá ser um dos favorecidos com esta Bem-aventurança: ser consolado! (cf. Mt 5, 4). Contudo, existem condições para ser envolvido por este consolo. Para ser consolado, depende do motivo, do por que você chora. Pense naquele dia em que você chorou. Qual a razão de ser, qual a causa que desencadeou o choro em você?

Dois anjos perguntaram a Maria Madalena depois da morte de Jesus: “Mulher, por que choras?” (Jo 20, 13). É legítimo que o conforto que Deus pode nos proporcionar é a “paz”, e este equilíbrio nos faz ver além das aparências, encontrar um sentido em tudo que é vivenciado. Podemos dizer que esta promessa de sermos consolados, nos faz transcender, ultrapassar a nossa visão limitada dos acontecimentos.

É real: nem todos os que choram serão consolados. Provavelmente você esteja se perguntando: Para que “um choro” seja bendito, quais as condições necessárias? As condições para que nossas lágrimas sejam benditas são as seguintes:

1. Deve haver um motivo sublime e divino para este choro (exemplo: dor pelas blasfêmias dirigidas aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, bem como também pela profanação da Igreja, das coisas sagradas, dos seus mandamentos, do templo de Deus que é o nosso corpo);

2. Nossas lágrimas devem ter como fim último suportar os sofrimentos para a maior glória de Deus;

3. Todas as emoções e/ou sentimentos, dolorosos devem ser ofertados para que, somados a Paixão de Cristo e aos méritos Dele, possam produzir frutos de salvação. Afinal, é melhor chorar agora ou depois da condenação? Recordemos que no inferno haverá choro e ranger de dentes (cf. Mt 8, 12).

4. Lamentar-nos pelos nossos próprios pecados e arrepender-nos copiosamente nossa própria “desventura”, de não ter amado Deus sobre todas as coisas;

5. Ter sensibilidade de espírito e chorar pela dor, pelo pecado do outro;

6. Compreender que o nosso sofrimento é mínimo quando comparado ao de Jesus Cristo e que a Virgem das Dores, vendo e acompanhando o seu Filho, sofreu em espírito e verdade todas as Suas dores, mais do que poderia ter sofrido se o martírio fosse em si mesma.

Chorar em Deus é mais que uma descarga emocional. É uma virtude natural, ou melhor, espiritual e sobrenatural. E, sendo assim, não provoca desequilíbrio, descontrole e desespero. Pelo contrário, este choro é confiante, resignado e sereno.

Com certeza, “não serão consolados” os que simularam o choro, com objetivo de chamar a atenção, que dramatizaram para satisfazerem os seus caprichos. Algumas pessoas choram por remorso e não por arrependimento. O interessante é que há pessoas que choram porque não querem perder seu padrão econômico e/ou amoroso. Mas, muitas não estão “nem aí” quando perdem o padrão espiritual, por causa dos próprios pecados, e não respeitam a sua dignidade de imagem e semelhança de Deus. Também há aquelas pessoas desumanas e infelizes, que manifestam frieza, apatia e indiferença diante da crueldade e da injustiça. Nestas, encontramos literalmente a dureza de coração, ou coração de pedra (cf. Ez 36, 26). Há quem diga que, quem não chora, é porque não tem emoções e sentimentos. Há até quem diga que, quem não tem sentimentos, faz os outros chorarem.

Assista programa da Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus sobre “Os que Choram”:

Nossa Senhora: a Bem-aventurada, consoladora dos aflitos

Na mistério da Anunciação, a Virgem Maria foi surpreendida pelo anjo Gabriel: “O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). Ele era mensageiro de uma promessa de Deus: “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1, 32-33). Através da Virgem Maria, podemos compreender que Deus, sempre que consola os seus, enche o seu povo de encorajamento, dando-lhes suporte nas adversidades. A Menina de Nazaré foi capacitada, constituída “cheia de graça” e de favores de Deus. A honra de ser Mãe de Deus foi um presente particularmente concedido a Ela.

A Igreja intitula a Mãe de Deus como “Consoladora dos Aflitos”. Por ela, obtemos de Deus o Espírito de força e uma santa alegria no sofrimento. Estando com Ela, conquistamos a paciência para sofrer a perseguição, conforto nos momentos infelizes, a ponto de nos livrarmos das tristezas.

Tudo que a Virgem Maria ensina com o seu testemunho de vida, são virtudes, como uma fé viva e uma obediência cega em seguir os mandamentos de Deus. Sendo consagrados a ela, carregaremos nossas cruzes com uma maior doçura. Perseverando no caminho da Graça, Satanás terá diminuída a sua capacidade de oprimir os homens de detê-los nas garras das tristezas.

Santa Mônica, que era uma mãe aflita e desolada por causa da vida desregrada de seu filho Agostinho, recorreu à intercessão de Nossa Senhora da Consolação, e teve seu filho convertido.

Sem o pecado original, a Virgem Maria sempre foi consolada pela Providência de Deus, daí ela ter também a graça de consolar. Os apóstolos sentiram-se desamparados após a morte de Jesus, mas nela encontravam um porto seguro, sustento, firmeza, proteção, confiança, encorajamento, em meio as suas fragilidades, infidelidades, quedas, temores e agonias. Ela atraía o Espirito Santo Consolador para os seguidores de seu Filho.

A verdadeira devoção a Nossa Senhora como princípio da consolação

A Virgem Maria acreditava nas promessas de Deus e foi contemplada com muitas dádivas! Ela quer nos fazer entender que o “consolo” de Deus, sempre será motivo de alegria e satisfação. Ser confortado por Deus, é um prêmio, uma retribuição, uma amabilidade da parte do Pai, para os seus filhos.

São Luís Maria Grignion de Montfort, em seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, nos ensina que a verdadeira devoção mariana já é o princípio das Bem-aventuranças, das consolações divinas, em meio ao vale de lágrimas deste mundo:

A verdadeira devoção a Virgem Maria é terna, quer dizer, cheia de confiança na Santíssima Virgem, da confiança de um filho em sua mãe. Impele uma alma a recorrer à Santíssima Virgem em todas as necessidades do corpo e do espírito, com extremos de simplicidade, de confiança e de ternura. A alma implora o auxílio de sua boa Mãe em todo tempo, em todo lugar, em todas as coisas: em suas dúvidas, para ser esclarecida; em seus erros, para se corrigir; nas tentações, para ser sustentada; em suas fraquezas, para ser fortificada; em suas quedas, para ser levantada; em seus abatimentos, para ser encorajada; em seus escrúpulos, para ficar livre deles; em suas cruzes, trabalhos e reveses da vida, para ser consolada. Em todos os males do corpo e do espírito, enfim, Maria é seu refúgio, e não há receio de importunar esta boa Mãe e desagradar a Jesus Cristo2.

Na Virgem Maria, encontramos além das “sete dores”, a plenitude das alegrias. Pois, a Mãe de Jesus tudo suportou pelo consolo da possibilidade de ver os resgatados por seu Filho serem salvos e poderem habitar no novo Céu e na nova Terra (cf. Ap 21, 1), onde Deus “enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (Ap 21, 4).

Mara Maria, fundadora da Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus.

Links relacionados:

DISCÍPULOS DA MÃE DE DEUS. História da Fundação.

TODO DE MARIA. Meditações sobre as Bem-aventuranças.

TODO DE MARIA. Bem-aventurados os pobres de coração.

TODO DE MARIA. Mara Carvalho e a Discípulos da Mãe de Deus.

Referências e notas:

1 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1451-1453. A contrição consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro”. Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, contrição é “perfeita” (contrição de caridade). A contrição chamada “imperfeita” (ou “atrição”) nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor).

2 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 107.

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