A dor de Maria em consentir na morte de Jesus

O consentimento, as dores e os merecimentos da Virgem Maria na paixão e morte de Jesus Cristo.

Embora a Santíssima Virgem Maria já tivesse consentido na morte de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, desde que aceitou a maternidade divina, o Pai Eterno quis que ela renovasse o seu consentimento no tempo da Paixão, a fim de que, juntamente com a vida do Filho, fosse também sacrificado o coração da Mãe.O consentimento, as dores e os merecimentos da Virgem Maria na paixão e morte de Jesus Cristo.

Pelos merecimentos deste consentimento tão espontâneo quanto doloroso, a Santíssima Virgem tornou-se reparadora do gênero humano e merecedora de toda a nossa gratidão. Quantos, porém, retribuem o seus favores com a ingratidão mais desmedida e brutal, renovando, pelo pecado, a paixão do Filho de Deus e as dores de sua Mãe Santíssima!

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As dores da Mãe no oferecimento do Filho

Santo Tomás de Aquino ensina que, conferindo à qualidade de mãe direitos especiais sobre os filhos, parece conveniente que Jesus, inocente e sem culpa própria merecedora de suplício, não fosse destinado à morte de cruz sem que a Santíssima Virgem consentisse e oferecesse espontaneamente seu Filho para morrer. A verdade é que a Virgem de Nazaré já havia dado o seu consentimento quando foi escolhida para ser a Mãe do Redentor (cf. Lc 1, 26-38). No entanto, o Eterno Pai quis que a Virgem Maria renovasse seu consentimento no tempo da Paixão, a fim de que, juntamente com o sacrifício da vida do Filho, fosse também sacrificado o coração da Mãe.

A Bem-Aventurada Virgem, ao pensar no Filho amado, que em breve ia perder, tinha os olhos sempre cheios de lágrimas, e, como ela mesma revelou a Santa Brígida, um suor frio corria-lhe pelo corpo, por causa do temor do doloroso acontecimento que se aproximava. Eis que, chegando finalmente o tempo previsto, Jesus Cristo, entre lágrimas, despediu-se de sua Mãe, para entregar-se à morte. Para compreender a dor que Maria sentiu nesse momento, seria necessário conhecer a profundidade do amor que a Virgem Mãe nutria para com seu divino Filho. Como, porém, poderemos fazer ideia disso?

Ah! os títulos unidos de serva e Mãe, de Filho e Deus acenderam no coração da Santíssima Virgem um incêndio composto de mil incêndios, de tal ponto de São Guilherme de Paris chegar a dizer que Maria amou tanto a Jesus Cristo que uma simples criatura jamais seria capaz de amá-lo mais: Quantum capere potuit hominis modus. No tempo da Paixão de Cristo, todo esse incêndio de amor se converteu num mar de dor. Nesse sentido, São Bernardino afirma que: “‘Todos os sofrimentos do mundo, se fossem ajuntados, não poderiam igualar à dor de Maria’. Pobre Mãe! E nós, não nos compadeceremos dela?”[1]

Os merecimentos de Maria na Paixão de Cristo

Tendo em vista a participação da Virgem dolorosa na Paixão de Cristo, podemos lhe atribuir as palavras da carta de São Paulo aos Romanos: “Não poupou a seu próprio Filho, mas entregou-o por nós todos – Proprio Filio suo non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum” (Rm 8, 32).

Os santos Padres diziam que Nossa Senhora – pelos merecimentos que adquiriu oferecendo a Deus o grande sacrifício da vida de seu Filho – deve, com razão, ser chamada de: “Reparadora do gênero humano; restauradora das nossas misérias, Mãe de todos os fiéis cristãos, nova Eva que nos gerou para a vida, dissemelhante da outra Eva que foi a causa primeira da nossa perdição”[2]. Por isso, Santo Alberto Magno afirma que, assim como devemos ser agradecidos e vinculados a Jesus Cristo pela paixão e morte às quais se submeteu por nosso amor, devemos igualmente dar graças a Maria e lhe ser comprometidos pelo martírio que, na ocasião da morte do seu Filho, ela quis sofrer espontaneamente pela nossa salvação.

Infelizmente, porém, quantos de nós cristãos, em vez de nos mostrarmos agradecidos, pagamos à nossa boa Mãe com a mais monstruosa ingratidão! Certa vez, a Santíssima Virgem se queixou exatamente a esse respeito à Bem-aventurada Colleta, franciscana. Nesta aparição, mostrou-lhe Jesus Cristo, todo desfigurado pelas chagas, e disse-lhe: “Filha, eis aí como os pecadores tratam continuamente a meu Filho, renovando-lhe a morte e a mim as dores”[3].

Assim, supliquemos a graça de não mais renovar, por causa de nossos pecados, a morte de Jesus Cristo e as dores de sua Mãe Santíssima.

Assista ao programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Memória de Nossa Senhora das Dores”:

Oração a Virgem Maria, Rainha dos Mártires

Ó minha bendita Mãe! é assim que os homens respondem ao amor que lhes mostrastes, consentindo em que vosso Jesus morresse pela nossa salvação. Ingratos como são, nem depois de o haverem crucificado, deixam de persegui-lo com os seus pecados, e assim continuam também a afligir-vos, ó grande Rainha dos Mártires. Eu também fui um daqueles infelizes.

Ah! minha Mãe dulcíssima, alcançai-me lágrimas para chorar tamanha ingratidão. Pela dor que sentistes, quando vosso Filho se despediu de vós para ir de encontro à morte, obtende-me a graça de contemplar sempre com fruto os mistérios dolorosos da sua Paixão, especialmente nestes dias em que a Igreja faz dela recordação especial. Esta graça eu vos peço pelo amor do mesmo Jesus Cristo; de vós a espero[4].

Links relacionados:

TODO DE MARIA. As dores de Jesus e Maria e a reparação.
TODOD DE MARIA. A glorificação das dores da Virgem Maria.
TODO DE MARIA. A veneração às dores de Nossa Senhora.
TODO DE MARIA. Maria recompensa a veneração de suas dores.

Referências:


[1]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações: para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I, p. 373.
[2]  Idem, ibidem.
[3]  Idem, p. 374.
[4]  Idem, ibidem.

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