No Concílio Vaticano II, a Virgem Maria é exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens, logo abaixo do seu Filho Jesus Cristo.
A partir do século XIX, uma grande onda de devoção mariana surge na Igreja. A proclamação dos dogmas marianos da Imaculada Conceição, em 1848, e da Gloriosa Assunção de Maria, em 1950, se dão em um contexto que foi marcado pelos recentes santuários marianos na Europa, particularmente Lourdes e Fátima. Esta onda de devoção esteve ligada a uma das correntes teológicas de mariologia, dita maximalista, que teve influência no Concílio Vaticano II; tendo, porém, que se harmonizar no Concílio com uma teologia renovada, que era emergente (cf. LAURENTIN, 1969, p.11).
A corrente teológica que primava pelo maximalismo mariano, via no Vaticano II uma oportunidade para a proclamação de um quinto dogma mariano através do título de corredentora. Uma segunda corrente teológica, emergente no Concílio e ligada à teologia renovada, com ênfase nas fontes bíblico-patrísticas, tendia a preocupar-se mais em purificar abusos ou deturpações na devoção mariana que pudessem prejudicar a ação pastoral da Igreja e o diálogo ecumênico (cf. LAURENTIN, 1969, p.11).
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A teologia mariana da Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, é de alguma forma o fruto do diálogo entre essas duas perspectivas. Por Maria não ser independente de Cristo e da Igreja, mas ser também membro da Igreja (cf. LG 53), o Concílio opta não em um documento próprio a respeito da mariologia, mas a desenvolve como parte da Constituição Dogmática sobre a Igreja (cf. LAURENTIN, 1969, p.27-32).
Assim, a Lumen Gentium é marcada por uma teologia mariana equilibrada, no que diz respeito à devoção (cf. LAURENTIN, 1969, p.27-32). O Concílio afirma que “Maria é exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e todos os homens, logo abaixo do seu Filho” (LG 66) e por isso a Igreja “a honra com um culto especial” (LG 66), que difere do culto de adoração prestado à Santíssima Trindade (cf. LG 66). O Concílio afirma também que os pregadores e teólogos abstenham-se tanto de um reducionismo a respeito de Maria (cf. LG 67), como também de exageros que possam, de alguma forma, colocar em dúvida ou ofuscar a centralidade de Cristo (cf. LG 67).
O Concílio não proclama nenhum novo dogma mariano, nem mesmo utiliza o discutido termo de corredentora, mas em compensação, afirma profundamente, nas suas entrelinhas, o núcleo central do termo em questão, frisando que Maria cooperou de forma singular na salvação do mundo, por sua fé, esperança e caridade, gerando Cristo, alimentando-o e o seguindo-o até a cruz, tornando-se mãe da Igreja na ordem da graça (cf. LG 61); no mistério da comunhão dos santos, intercede pelos homens, em uma mediação que não concorre nem ofusca a mediação de Cristo, mas antes a promove, porque é subordinada a Ele (cf. LG 62).
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A Virgem Maria e o Concílio Vaticano II”:
Sendo uma mediação que possui um caráter maternal (cf. RM 38), o Papa Beato Paulo VI, durante o Concílio, a proclamou com o título de Mãe da Igreja[1]. A Lumen Gentium recorre também à eclesiologia do primeiro milênio para apresentar Maria no mistério da Igreja. Assim, Maria é considerada figura (tipo) da Igreja, sendo ao mesmo tempo virgem e mãe (cf. LG 63-64). O documento enfatiza ainda as virtudes de Maria (cf. LG 65), sendo ela modelo para todos os discípulos de Cristo. Assim, Maria é estabelecida pelo Concílio na sua relação com a Igreja como figura, modelo mãe.
Autor: Padre Francisco Amaral, sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá-MT e vigário da Paróquia Santo Antônio de Várzea Grande. Compartilha algumas de suas homilias em seu canal do Youtube.
Bibliografia:
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja. Vaticano, 1964.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater sobre a bem-aventurada Virgem Maria na Igreja que está a caminho. Vaticano, 1987.
LAURENTIN, Rene. In: KOEHLER, Théodore; LARENTIN, Rene; MANTEAU-BOHAMY, Henry Marie. Nossa Senhora na Lumen Gentium. São Paulo: Paulinas, 1969.
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A infância espiritual e a devoção a Virgem Maria.
TODO DE MARIA. Maria, a Porta do Céu.
TODO DE MARIA. Maria, Mãe dos Crentes e Mãe da Igreja.
Referência:
[1] PAPA PAULO VI. Discurso na clausura da terceira sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II. 1964.