A plenitude da maternidade espiritual de Maria

Meditemos sobre a plenitude da maternidade espiritual da Virgem Maria sobre todos e cada um de seus filhos.

A plenitude da maternidade espiritual da Santíssima Virgem Maria está intimamente ligada à sua incomparável santidade. Para conhecer a santidade da Virgem, é preciso aproximá-la do Verbo encarnado. Nós não tentaremos descrever a glória de que ela goza no Céu, esta glória que a coloca acima de todas as glórias e lhe faz atribuir um culto de hiperdulia[1]. Queremos falar de seu papel que continua aqui na terra.

Convém recolocá-la aqui não ao lado do Verbo, mas ao lado do Espírito Santo. É Nosso Senhor quem vive na Igreja, mas a edificação do Corpo místico é atribuída mais especialmente ao Espírito Santo. Ora, por toda parte onde age o Espírito Santo, a Virgem age também, e o que nós atribuímos ao Espírito Santo deve ser atribuído à Virgem.

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A maternidade espiritual da Virgem Maria

No seio da Trindade, o Espírito Santo é Amor substancial do Pai e do Filho, dom de Deus a quem são atribuídas as obras: ele santifica, difundindo a caridade. A Virgem também é um dom de Deus na Igreja e santifica as almas.

Sua missão é tão vasta como a do Espírito Santo. Ela é a criatura que ele escolheu para si e associou-a como esposa. Maria exerce uma maternidade verdadeira: toda luz e toda graça nos vêm, por ela, e chamam-na, com justo título, medianeira de todas as graças. Este privilégio é menos conhecido do que aquele de sua Imaculada Conceição. São Pedro Damião já dizia que a Santíssima Virgem tem, em suas mãos, todas as riquezas divinas[2]. São Jerônimo e outros Padres da Igreja se esforçam por mostrar que todas as graças de vocação, de perseverança, nos chegam através de Maria. A Virgem Maria, entregue a João que ficara no Calvário (cf. Jo 19, 27), não é somente um símbolo, mas uma realidade absoluta: Maria é dada aos homens. Isso é absolutamente razoável: esse privilégio de medianeira de todas as graças é a consequência de seu papel de corredentora. Lá onde Nosso Senhor foi Redentor, ela lhe foi associada, e continua com essa missão.

Além disso, ela é Mãe, e essa graça de maternidade espiritual opera não como a maternidade natural, por divisão ou separação, mas, ao contrário, por absorção na unidade. Esse modo exige uma influência continua, sem fissura. Sobre a terra, todas as graças, sem exceção, devem remontar à sua fonte.

No Céu, a Virgem dá aos bem-aventurados uma alegria acidental, a maior após a contemplação do Verbo. Ela intercede pelas almas do Purgatório cujos sofrimentos ela conhece; ela obtém seu alívio pelas correntes de oração criadas pela Igreja, assim como pelas graças colocadas à sua disposição pelas almas que lhe abandonam todos os seus méritos.

Essa missão imensa junto das almas de toda a Igreja, a Virgem a exerce com um poder soberano; ela continua ordenando como em Caná: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2, 5). E seu poder avança a Hora de seu Filho. Vede suas promessas audaciosas pelo escapulário: a salvação[3]. Deus salvará a alma que tiver recorrido a ela, e que a honrar soberanamente com um culto interior. Enquanto o poder dos santos é limitado, o seu não tem limites.

A plenitude da maternidade de Nossa Senhora

Esse poder de Rainha é colocado a serviço de uma missão de medianeira, que ela exerce com um amor materno total: tota Mater. Desde o começo, Deus a viu Mãe, e ela recebeu dele todas as suas graças em vista de sua maternidade: é o privilégio único de sua missão. Sua santificação lhe foi dada para isso, e toda a sua beleza vem de ela ter realizado este querer de Deus: ser Mãe. Os outros estados não eram senão intermediários para chegar a esse. Sua virgindade está compreendida na sua maternidade, ela foi virgem somente para ser mãe.

Assim, tudo nela é amor; é um amor de graça não somente incriado, mas criado. Este último toma nela, para nós, proporções inconcebíveis, formas humanas, pode-se dizer, pois Maria é de nossa raça, viveu junto de nós, nos compreende e nos ama. É sob esse aspecto que devemos considerá-la. Ela é Mãe, e não pode ser outra coisa; ora, quem diz maternidade diz misericórdia. Nosso Senhor será juiz das almas, a Virgem não o será jamais. Para nossas almas, sempre ela é mãe, mãe de misericórdia, distribuidora de graças espirituais, a um ponto tal que os teólogos e os místicos estão de acordo em pensar que há como duas partes de Deus: a Justiça, que ele se reservou e que exerce sozinho, e a Misericórdia, que ele exerce por ela, confiando- lhe, por assim dizer, seu poder nessa parte.

É preciso reter isto da Virgem: ela é toda Mãe, tota Mater, toda envolvida nessa graça, todos os seus privilégios se confundem neste privilégio único da maternidade espiritual.

Assista à palestra do Padre Paulo Ricardo sobre A Salve Rainha explicada”:

A maternidade de Maria Santíssima e a consagração

Renovai vossa consagração à Virgem. Nós a vimos grande, certamente muito acima de nós; nós a admiramos, mas isso não é tudo, nem mesmo o essencial. É preciso nos lembrarmos de que ela é nossa Mãe, de que ela pertence toda inteira a cada um de nós. Ela possivelmente não nos conheceu de antemão, como Nosso Senhor nos conhecia[4]. Mas ela nos conhece agora com sua ciência, e sua poderosa visão, até o fundo do nosso ser, nos nossos sentimentos e nossos pensamentos.

A solicitude da Virgem se estende a todos os detalhes de nossa vida. Ela está maternalmente inclinada sobre todos os progressos de nossa alma. E se nós achamos que nossa santificação é lenta, é porque ela sabe que nossas forças não são consideráveis para receber a luz e o amor, de modo que Deus nos dará tempo. Façamos-lhe, pois, nosso dom completo de nós mesmos, demos-lhe toda a nossa confiança. Vamos a ela constantemente, façamos tudo passar por ela. É preciso ir à Virgem para encontrar o Verbo. Que nossa oração, nossos descansos, nossos trabalhos lhe sejam oferecidos.

Peçamos a Deus que coloque sua Mãe em nossas almas; peçamos a graça de lhe votar uma confiança filial total, constante. Nossa vida espiritual, se nós a colocamos em suas mãos, será mais suave, mais rápida.

Nossa Senhora da Vida será a Mestra e a Mãe de nossas vidas, de nossas almas. É ela que fará se desenvolver a graça em germe, ela nos tomará, porque nós nos oferecemos para ser inteiramente dela, seus filhos totalmente.

Fonte: FREI MARIA-EUGÊNIO DO MENINO JESUS. Virgem Maria: Mãe em plenitude, p. 49-53.

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Referências:


[1]  Em virtude de sua participação pessoal no mistério da Encarnação, Maria acha-se acima de todas as criaturas, e ainda dos anjos. Continua sendo certamente criatura e, por conseguinte, não a adoramos, mas prestamos-lhe um culto de veneração (em grego dulia) por excelência (em grego hyper).
“Este culto todo particular de hiperdulia: contém em si e expressa o vínculo profundo que existe entre a Mãe de Cristo e a lgreja” (João Paulo ll, Redemptoris Mater, n o 42).
[2]  Cf. Serm. 45, Nativ. B.M.V., PL 144, col 740.
[3]  Segundo a tradição do Carmelo, a Virgem Maria entregou a são Simão Stock, em 1251, o escapulário da Ordem, com estas palavras: “Este é o privilégio que te concedo a ti e a todos os filhos do Carmelo: todo aquele que morrer vestindo este hábito se salvará”. Ver Pe. Eliseu da Natividade, O Escapulário do Carmelo, Estudo Histórico, Ed. do Carmel, Tarascon, 1958, em particular pág.12. Em sinal da proteção maternal que suplicam à Santíssima Virgem, numerosos cristãos no mundo inteiro trazem a “medalha do escapulário”. Essa medalha tem o mesmo significado que a larga tira de fazenda, que, com frequência, faz parte do hábito religioso.
[4]  Graças à visão beatifica, Jesus, o Homem-Deus já durante sua vida terrena conhecia-nos a todos e a cada pessoalmente. Por isso são Paulo pode dizer: “Amou-me e se entregou por mim” (Gl 2, 20). Maria não teve este conhecimento e, por conseguinte caminhou na obscuridade da fé enquanto viveu neste mundo.

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