Conheça o significado mais profundo da presença da Virgem Maria no Mistério da Ascensão do Senhor Jesus Cristo.
Na solenidade da Ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo, quarenta dias após o Domingo da Ressurreição, é significativo que meditemos sobre a presença discreta da Santíssima Virgem Maria. Pois, a sua presença foi importante não somente para os discípulos de Cristo que estavam naquele momento, mas também para todos os membros da Igreja de todos os tempos.
A presença de Maria Santíssima na Ascensão do Senhor é um dado que a tradição da Igreja nos transmitiu através da iconografia. E a Liturgia Bizantina recorreu aos ícones sagrados para elaborar seus ofícios litúrgicos para a solenidade da Ascensão, destacando a presença de Mãe do Senhor neste acontecimento.
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A presença de Maria nos ícones da Ascensão do Senhor
Desde a primitiva representação da Ascensão do Senhor, em Monza, datada do século IV ou V, Nossa Senhora ocupa o lugar central entre o grupo dos discípulos, que dirigem seu olhar ao Cristo que ascende aos Céus, rodeado por anjos. Estes anunciam que, tal como Jesus subiu aos Céus, Ele voltará cheio de glória (At 1, 10-11). O Evangeliário de Rabbula de Edessa oferece uma imagem da Ascensão com um colorido impressionante: “Os detalhes da Virgem Maria são espetaculares. De pé, entre o grupo dos apóstolos, Nossa Senhora ocupa o lugar central. Ela está revestida com um manto púrpura da ‘Theotokos’, a Mãe de Deus. Suas mãos estão numa posição de oração, como se quisesse acompanhar o movimento de ascensão de seu Filho”[1].
A Liturgia Bizantina recorre à iconografia para elaboração de alguns tropários – que são formas de poema presentes no rito das Igrejas do Oriente, tocados como forma do louvor – referentes à festa da Ascensão, dando voz à expressão iconográfica. Abaixo, temos um texto das Vésperas da solenidade da Ascensão do Senhor que transmite essa ideia:
Era conveniente que quem, como Mãe,
sofreu mais que ninguém a Paixão,
fosse agraciada por contemplar
a Glorificação de Teu Corpo[2].
Associando a Virgem Maria aos apóstolos, testemunhas essenciais dos acontecimentos, segundo as Sagradas Escrituras, a Liturgia Bizantina expressa a Teologia deste mistério com a seguinte oração:
Doce Jesus,
que sem abandonar a comunhão com o Pai,
quiseste submeter a nossa humanidade
entre os habitantes desta terra,
e que hoje, do Monte das Oliveiras
subiste em glória, elevando o homem contigo
por amor à natureza decaída,
fizeste este mesmo homem
sentar-se contigo junto a teu Pai.Por isso, os exércitos angélicos,
assombrados, cheios de reverência,
magnificam teu imenso amor pelos homens.Junto com eles, também nós habitantes da terra,
glorificamos tua vinda até nós
e tua ascensão aos céus.Encheste de alegria o grupo dos doze apóstolos
e a Bem-aventurada Virgem Maria que te gerou,
faz-nos dignos da glória dos eleitos,
por suas orações e tua grande misericórdia[3].
Ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre a “Solenidade da Ascensão do Senhor”:
O significado da presença de Maria na Ascensão de Cristo
A Teologia litúrgica que se desenvolve a partir da iconografia da Ascensão do Senhor trata amplamente o significado da presença da Rainha dos Apóstolos neste Mistério. Destaca-se especialmente o caráter eclesial desta presença de Maria, ou seja, a relação dessa presença com a Igreja. No meio dos discípulos, como uma antecipação da espera pelo Pentecostes (cf. At 1, 14), Maria Santíssima é a imagem da Igreja nesta Terra. “Sua atitude orante, com as mãos elevadas para o céu, é a expressão da epíclese, ou seja, a ardente invocação do Espírito Santo pela Igreja, esposa de Cristo. Desde o momento da Ascensão do Senhor, a Virgem suplica que o Espírito Santo venha habitar entre nós”[4].
A mesma série de ícones apresentada no Evangeliário de Rabbula apresenta a cena do Pentecostes com uma claríssima identidade com a da Ascensão. O lugar que ocupava o Senhor Jesus na cena da Ascensão é ocupado pela pomba, o Espírito Santo, que derrama chamas de fogo sobre as cabeças dos apóstolos e de Nossa Senhora. Não foi por um acaso, mas há uma razão profunda para a presença da Santíssima Virgem neste Mistério.
A Virgem Maria foi testemunha da entrada do Filho de Deus neste mundo pelo Mistério da Encarnação em seu ventre. Da Virgem de Nazaré, o Verbo eterno recebeu a carne que agora é levada à glória do Reino dos Céus e é introduzida para sempre no seio da Santíssima Trindade. Maria Santíssima aparece como testemunha da humanidade de Cristo, que é glorificada. Da mesma forma que a Virgem de Nazaré sentiu o Filho do Altíssimo se encarnar em seu seio, ela também foi digna de vê-lo subir para Sua glória aquele Corpo que passou por tantos sofrimentos. Desde modo, encerra-se a presença visível de seu Filho Jesus Cristo na Terra. Mas, o Verbo de Deus encarnado se faz presente visivelmente nos Sacramentos da Igreja.
A Ascensão do Senhor e o lugar de Maria na Igreja
Nas cartas apostólicas, ficamos intrigados com a ausência de passagens que mencionem a Mãe do Senhor. Depois da narrativa dos Atos dos Apóstolos (cf. At 1, 14), não encontramos nenhuma menção a respeito da Mãe de Jesus. Na carta aos Romanos, encontramos certa Maria, mas esta não é a Mãe do Senhor (cf. Rm 16, 6). A Virgem Maria desaparece no mais profundo silêncio. “Depois de Pentecostes, é como se ela tivesse entrado para a clausura”[5]. A vida de Maria “está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 3). O silêncio de Nossa Senhora inaugura um novo tempo na Igreja. “Maria inaugurou na Igreja aquela segunda alma, ou vocação, que é a alma escondida ou orante, ao lado da alma apostólica ou ativa”[6]. Depois do Pentecostes, os Apóstolos começam a pregar, depois partem em missão, fundando e dirigindo igrejas (cf. At 2, 14ss). A respeito de Nossa Senhora nada se fala, pois ela permanece “em oração unida com as mulheres no Cenáculo, mostrando que na Igreja a atividade, mesmo pelo Reino, não é tudo, sendo indispensáveis as almas orantes que a sustentam. Maria é o protótipo desta Igreja orante”[7].
O ícone da Ascensão de Jesus Cristo ao Céu fixa o momento da ida do Senhor à glória celeste, mas também nos mostra qual é o carisma e o lugar de Maria Santíssima no tempo da Igreja. A Virgem está de pé, com os braços abertos em atitude orante, isolada do restante da cena pela figura dos dois anjos em vestes brancas. Ao redor dela, os Apóstolos estão com um pé ou uma mão levantados, em movimento, representando a Igreja ativa, que está em missão, que fala e age. “Maria está imóvel, debaixo de Jesus, no ponto exato de onde ele subiu, quase como para manter viva a sua memória e a sua espera”[8].
Para entender esta imagem e o carisma da Virgem Maria, nos voltamos para a vocação de Santa Teresinha do Menino Jesus. Tendo contato com a vocação de Paulo e com a sua descrição dos carismas, ela teria desejado ser apóstolo, sacerdote, mártir. Tais desejos a perturbavam constantemente, até que ela fez uma descoberta: “o corpo de Cristo tem um coração, que move todos os membros e sem o qual tudo pararia. E no auge de sua alegria exclamou: ‘No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e assim serei tudo!’ O que descobriu Teresa naquele dia? Descobriu a vocação de Maria. Ser, na Igreja, o coração que ama, o coração que ninguém vê, mas que move tudo”[9].
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A Bíblia e a fé de Abraão e Maria para a Igreja.
TODO DE MARIA. A Virgem Maria, o coração que ama e reza!
TODO DE MARIA. Nossa Senhora e seu auxílio nas perseguições.
Referências:
[1] ECCLESIA. A Virgem Maria no Tempo da Páscoa.
[2] Idem, ibidem.
[3] Idem, ibidem.
[4] Idem, ibidem.
[5] RANIERO CANTALAMESSA. Maria, um espelho para a Igreja, p. 130.
[6] Idem, p. 131.
[7] Idem, ibidem.
[8] Idem, ibidem.
[9] Idem, p. 137.