Maria, mãe e modelo do sacerdote

Reflexão do Frei Raniero Cantalamessa ao Papa Bento XVI e à Cúria Romana sobre a proximidade entre a Santíssima Virgem Maria e o sacerdote.

Na carta a todos os sacerdotes, por ocasião da Quinta-Feira Santa de 1979, o Papa São João Paulo II disse que: “Há no nosso sacerdócio «ministerial» a dimensão estupenda e penetrante da proximidade da Mãe de Cristo”[1].

De Maria não se fala com muita frequência no Novo Testamento. No entanto, se prestarmos atenção, notamos que ela não está ausente em nenhum dos três momentos constitutivos do mistério cristão, que são: a Encarnação, o Mistério Pascal e o Pentecostes. Maria estava presente na Encarnação, porque ocorreu nela, estava presente no mistério Pascal, porque está escrito que: “perto da cruz de Jesus estava Maria sua mãe” (cf. Jo 19, 25); esteve presente no dia de Pentecostes, pois está escrito que os apóstolos “perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres — entre elas, Maria, mãe de Jesus” (cf. At 1, 14).

Reflexão do Frei Raniero Cantalamessa ao Papa Bento XVI e à Cúria Romana sobre a proximidade entre a Santíssima Virgem Maria e o sacerdote.

Nossa Senhora, Mãe dos Sacerdotes

Cada uma destas três presenças revela algo da misteriosa proximidade entre Maria e o sacerdote, mas […] gostaria de limitar-me à primeira delas, aquilo que Maria diz do sacerdote e ao sacerdote no mistério da Encarnação.

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1. Qual a relação entre Maria e o sacerdote?

Quero primeiramente mencionar a questão do título de sacerdote atribuído à Virgem na tradição. Um escritor do fim do século V chama Maria “Virgem e ao mesmo tempo sacerdote e altar onde se deu Cristo pão do céu para a remissão dos pecados”[2]. Depois dele, são frequentes as referências ao tema de Maria sacerdote, que tornou-se o objeto da observação teológica somente no século XVII, na escola francesa de São Sulpício. Nessa, o sacerdócio de Maria não se colocou tanto em relação com o sacerdócio ministerial como com o de Cristo.

No final do século XIX, espalhou-se uma verdadeira devoção à Virgem-sacerdote e São Pio X concedeu uma indulgência também à relativa prática. Mas quando se viu o perigo de confundir o sacerdócio de Maria com o ministerial, o Magistério da Igreja tornou-se reticente, e dois discursos do Santo Ofício colocaram praticamente fim a tal devoção[3].

Depois o Concílio continua a falar do sacerdócio de Maria, mas não vinculando-o ao sacerdócio ministerial, nem àquele supremo de Cristo, mas ao sacerdócio universal dos fiéis: ela possuía a título pessoal, como figura e primícias da Igreja, “o sacerdócio régio” (1 Pd 2, 9) que todos os batizados possuem a título coletivo.

Que podemos dizer dessa longa tradição que associa Maria ao sacerdote e da proximidade da qual fala João Paulo II? Continua a ser, ao meu ver, a analogia ou a correspondência dos planos, no interior do mistério da salvação. Aquilo que Maria foi no nível da realidade histórica, de uma vez por todas, o sacerdote o é cada vez que retorna ao plano da realidade sacramental.

Nesse sentido, podemos compreender as palavras de Paulo VI: “Qual é a relação e quais as distinções que há entre a maternidade de Maria, feita universal pela dignidade e caridade da posição atribuída por Deus no plano da Redenção, e o sacerdócio apostólico, constituído pelo Senhor para ser instrumento de comunicação entre Deus e os homens?”

Maria dá Cristo à humanidade; e também o sacerdócio de Cristo à humanidade, mas de um modo diverso, como é claro; Maria mediante a Encarnação e mediante a efusão da graça, da que Deus a preencheu; o Sacerdócio através do poder da Ordem sacra”[4].

A analogia entre Maria e o sacerdote pode-se exprimir assim: Maria, pela obra do Espírito Santo, concebeu Cristo e, depois de tê-lo nutrido e alimentado em seu seio, deu-o à luz em Belém; o sacerdote, ungido e consagrado pelo Espírito Santo na ordenação, é chamado também ele a preencher-se de Cristo para poder dá-lo à luz e fazê-lo nascer nas almas através do anúncio da Palavra, da administração dos sacramentos.

Nesse sentido, a relação entre Maria e o sacerdote tem uma longa tradição atrás de si, muito mais autorizada do que a de Maria-sacerdote. Tomando um pensamento de Agostinho, o Concílio Vaticano II escreve: “a Igreja… torna-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção da palavra de Deus: efetivamente, pela pregação e pelo Batismo, gera, para vida nova e imortal, os filhos concebidos por ação do Espírito Santo e nascidos de Deus”[5].

O batistério, diziam os Padres, é o seio no qual a Igreja dá à luz os seus filhos e a Palavra de Deus é o leite puro que os alimenta: “O pródigo místico! Um é o Pai de todos, um também o Verbo de todos, um e idêntico por todas as partes é o Espírito Santo e única é a Virgem Mãe: assim eu amo chamar a Igreja. Pura como uma virgem, amável como uma mãe, reunindo os seus filhos, alimenta-os com o leite sagrado que é a Palavra às crianças depois do nascimento (cf. 1 Pd 2, 2)[6].

O beato Isaac de Estella, em uma página que lemos no ofício de leitura de sábado passado, fez uma síntese desta tradição: “Maria e a Igreja, escreve, são uma mãe e muitas mães, uma virgem e muitas virgens. Uma e outra mãe, Uma e outra virgem. Uma e outra concebida sem concupiscência pelo próprio Espírito; uma e outra dão a Deus Pai a prole sem pecado. Aquela, sem pecado algum, deu ao corpo a Cabeça; esta, na remissão de todos os pecados, dá o corpo à Cabeça”[7].

O que é dito nesses textos se diz da Igreja como um todo, como sacramento de salvação, deve-se aplicar de uma forma especial aos sacerdotes, porque, ministerialmente, são estes que, na prática, geram Cristo nas almas mediante a Palavra e os sacramentos.

2. Maria acreditou

Até agora, a analogia entre Maria e o sacerdote esteve sobre o plano, por assim dizer, objetivo, da graça. Mas há também uma analogia no plano subjetivo, ou seja, entre a contribuição pessoal que a Virgem deu à graça da eleição e a contribuição que o sacerdote é chamado a dar à graça da ordenação. Nenhum dos dois é um mero canal, que deixa passar a graça sem contribuir com nada próprio.

Tertuliano fala de uma versão do docetismo gnóstico, segundo a qual Jesus nasceu, sim, de Maria, mas não concebido nela ou por ela; o corpo de Cristo, vindo do céu, teria passado pela Virgem, mas não gerado nela ou por ela; Maria teria sido um caminho para Jesus, não uma mãe, e Jesus para Maria um hóspede, e não um filho[8]. Para não se repetir essa forma de docetismo na sua vida, o sacerdote não pode limitar-se a transmitir aos outros um Cristo aprendido dos livros que não se fez primeiro carne da sua carne e sangue do seu sangue. Como Maria (a imagem é de São Bernardo), eles devem ser um reservatório que transborda do que está preenchido, não um canal que se limita a fazer passar água sem reter nada.

A contribuição pessoal, comum a Maria e ao sacerdote, resume-se na fé. Maria, escreve Agostinho, “pela fé concebeu e pela fé deu à luz” (fide concepit, fide peperit)[9]; também o sacerdote, pela fé leva Cristo em seu coração e mediante a fé o comunica aos demais. Será o centro da meditação de hoje: que o sacerdote pode aprender da fé de Maria.

Quando Maria foi visitar Isabel, esta a acolheu com grande alegria, e “cheia do Espírito Santo” exclamou: “feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1, 45). Não há dúvida de que este ter acreditado refere-se à resposta de Maria ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra” (Lc 1, 38).

À primeira vista, parece que o ato de fé de Maria foi fácil, inclusive evidente. Converter-se em mãe de um rei que teria reinado para sempre sobre a casa de Jacó, mãe do Messias! Não era o que sonhava toda jovem judia? Mas este é um modo de pensar sumamente humano, carnal. Maria encontra-se em solidão total. A quem pode contar o que aconteceu com ela? Quem acreditará quando disser que o menino que leva no seu seio é “obra do Espírito Santo”? Isso não havia sucedido a ninguém antes e não acontecerá tampouco depois. Maria conhecia certamente o que estava escrito no livro da lei, quer dizer, que se a jovem, no momento do casamento, não era virgem, devia ser expulsa pela porta da casa do pai e apedrejada pelas pessoas do povoado (Cf. Dt 22, 20s). Nós falamos de diariamente do risco da fé, entendendo por isso geralmente o risco intelectual, mas no caso de Maria tratava-se de um risco real!

Carlo Carretto, em seu livreto sobre a Virgem, conta como chegou a descobrir a fé de Maria. Quando vivia no deserto, tinha sabido por alguns amigos tuaregs que uma jovem do acampamento tinha sido dada como prometida a um jovem, mas que não tinha ido viver com ele, pois era muito jovem. Relacionou este fato com o que Lucas diz sobre Maria. Por este motivo, ao regressar depois de dois anos por aquele acampamento, perguntou pela jovem. Constatou um certo mal-estar entre seus interlocutores e, depois, um deles, aproximando-se, fez-lhe um sinal: passou a mão na garganta com um gesto característico dos árabes quando querem dizer: “vão lhe cortar a cabeça”. Estava grávida antes do casamento e a honra da família exigia acabar com ela. Então voltou a pensar em Maria, nos olhares sem piedade das pessoas de Nazaré, compreendeu a solidão de Maria, e nessa mesma noite a escolheu como companheira de viagem e como mestra de sua fé[10].

Deus não tira nunca de suas criaturas seu consentimento, escondendo-lhes as consequências, o que terão de enfrentar. Vemos isso em todos os chamados de Deus. Jeremias preanuncia, “te farão a guerra” (1, 19), e diz-se a Ananis sobre Saulo “pois eu vou lhe mostrar o quanto ele deve sofrer pelo meu nome” (At 9, 16). Poderia atuar de outra maneira com Maria, com uma missão como a dela? Com a luz do Espírito Santo, que acompanha o chamado de Deus, certamente vislumbrou que seu caminho não seria diferente do restante dos que são chamados. De fato, Simeão muito rápido expressará este pressentimento, quando lhe dirá que uma espada atravessaria sua alma.

Um escritor moderno, Erri De Luca, descreveu de maneira poética este pensamento de Maria no momento do nascimento de Jesus. Está sozinha, na gruta; José vela do lado de fora (segundo a lei, nenhum homem pode assistir ao parto). Acaba de dar à luz seu filho, quando curiosos pensamentos se amontoam em sua mente: “Por que, filho meu, nasces precisamente aqui, em Bet-Lehem, Casa do Pão? E por que temos de chamar-te de Ieshu?… Faz que este estremecimento da coluna vertebral, este calafrio do futuro fique longe dele”. A mãe pressagia que o filho será arrebatado, então diz a si mesma: “Até a primeira luz, Ieshu é só meu. Quero cantar uma canção com estas três palavras e basta. Esta noite, aqui em Bet Lehem, é só meu”. E com estas palavras aproxima-o do peito para amamentá-lo[11].

Maria é a única que acreditou “de maneira contemporânea”, quer dizer, enquanto sucedia o fato, antes de toda confirmação e de toda convalidação pela parte dos acontecimentos da história[12]. Jesus diz a Tomé: “Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!” (Jo 20, 29): Maria é a primeira dos que creram ser ter visto.

São Paulo diz que Deus ama quem dá com alegria (2 Cor 9, 7) e Maria pronunciou seu “sim” a Deus com alegria. O verbo com o que Maria expressa seu consentimento, e que é traduzido como “fiat”, ou “faça-se”, no original, encontra-se no optativo (génoito), um modo verbal que em grego se usa para exprimir o desejo e inclusive a gozosa impaciência de que algo aconteça. Como se a Virgem dissesse: “Eu também desejo, com todo meu ser, o que Deus deseja; que se cumpra o que ele quer”. Na verdade, como dizia Santa Agostinho, antes que em seu corpo, ela concebeu a Cristo em seu coração.

Mas Maria não disse “fiat”, pois não falava latim, e nem “génoito”, que é palavra grega. Que coisa disse então? Qual é a palavra que, no idioma falado por Maria, corresponde melhor a esta expressão? Quando queria dizer a Deus “sim, assim seja”, um judeu dizia “amém”. Se é lícito tentar remontar-se, com uma reflexão de fé, à mesmíssima palavra, à palavra exata que saiu dos lábios de Maria, ou ao menos à palavra que existia na fonte judaica usada por Lucas, esta deve ser precisamente a palavra “amém”. Acaso os salmos na Vulgata latina não terminavam com a expressão: “fiat, fiat”? O texto grego dos Setenta, neste caso, diz “génoito, génoito”, e no original hebraico conhecido por Maria aparece “amém, amém”.

Amém é uma palavra hebraica, cuja raiz significa solidez, certeza; era utilizada na liturgia como resposta de fé à Palavra de Deus. Com o amém se reconhece o que nos foi dito com uma palavra firme, estável, válida e vinculante. Sua tradição exata, quando é uma resposta à Palavra de Deus, é esta: “Assim é e que assim seja”. Indica fé e obediência ao mesmo tempo; reconhece que o que Deus diz é verdade e se submete. É dizer “sim” a Deus. Neste sentido, aparece nos próprios lábios de Jesus. “Sim, amém, Pai, pois assim foi do teu agrado…” (Mt 11, 26). É mais, Ele é o Amém personificado: “Assim fala o Amém…” (Ap 3, 14) e, através dele, qualquer outro “amém” de fé pronunciado na terra já se eleva a Deus (cf. 2 Cor 1, 20). Também Maria, depois do Filho, é o amém a Deus feito pessoa.

A fé de Maria é, portanto, um ato de amor e de docilidade, livre, ainda que suscitado por Deus, misterioso como misterioso é cada vez o encontro entre a graça e a liberdade. Esta é a verdadeira grandeza pessoal de Maria, sua bem-aventurança, confirmada pelo próprio Cristo: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram” (Lc 11, 27), diz uma mulher no Evangelho. A mulher proclama que Maria é bem-aventurada porque levou Jesus; Isabel a proclama beata porque acreditou; a mulher proclama como uma bem-aventurança levar Jesus no seio, Jesus proclama bem-aventurado que o leva no coração: “Bem-aventurados os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam”, responde Jesus. Deste modo, ajuda aquela mulher e a todos nós a compreender onde está a grandeza pessoal de sua Mãe. Quem “guardava” melhor as palavras de Deus que Maria, de quem a Escritura diz em duas ocasiões que “guardava todas estas coisas, e as meditava em seu coração”? (cf. Lc 2, 19.51).

Não deveríamos terminar nossa contemplação da fé de Maria com a impressão de que Maria acreditou uma vez e nada mais em sua vida; que só se deu um grande ato de fé na vida da Virgem. Quantas vezes, depois da Anunciação, Maria foi martirizada pelo aparente contraste de sua situação com tudo o que estava escrito e conhecia sobre a vontade de Deus, no Antigo Testamento, e sobre a própria figura do Messias! O Concílio Vaticano II nos ofereceu um grande presente ao afirmar que também Maria caminhou na fé, e mais, avançou na fé, quer dizer, cresceu e se aperfeiçoou nela[13].

3. Acreditemos também nós!

Passemos agora de Maria ao sacerdote. Santo Agostinho escreveu: “Maria acreditou e nela o que acreditou se cumpriu. Acreditemos também nós para que o que se cumpriu nela possamos também nós aproveitar”[14]. Acreditemos também nós! Que a contemplação da fé de Maria nos leve a renovar perante todos o ato de fé e abandono a Deus.

Todos devem e podem imitar Maria em sua fé, mas de modo muito especial deve fazê-lo o sacerdote. “Meu justo – diz Deus – viverá pela fé” (cf. Hab 2, 4; Rm 1, 17): isto se aplica, em especial, ao sacerdote. Ele é o homem da fé. A fé é o que determina, por assim dizer, seu “peso específico” e a eficácia de seu ministério.

O que os fiéis captam imediatamente em um sacerdote, em um pastor, é se “crê”, se crê no que diz e no que celebra. Quem busca no sacerdote antes de tudo a Deus, se dá conta em seguida; que não busca nele a Deus, pode ser facilmente enganado e induzir a engano o próprio sacerdote, fazendo que se sinta importante, brilhante, ao ritmo da moda, quando na realidade é “bronze que soa e címbalo que retine” (1 Cor 13, 1).

Inclusive quem não crê se aproxima do sacerdote com um espírito de busca, entende em seguida a diferença. O que o colocará saudavelmente em crise não são em geral as mais cultas discussões sobre a fé, mas encontrar-se perante alguém que crê verdadeiramente com todo seu ser. A fé é contagiosa. Alguém não se contagia só escutando falar dos vírus ou estudando-os, mas entrando em contato com ele: assim é a fé.

Às vezes, sofre-se e inclusive se lamenta em oração com Deus, porque as pessoas abandonam a Igreja, não saem do pecado, porque falamos, falamos… e não acontece nada. Um dia, os apóstolos tentaram expulsar o demônio de um pobre jovem, mas sem conseguir. Depois de Jesus em pessoa expulsar o demônio do jovem, aproximaram-se de Jesus, retirando-se de lado, e perguntaram: “Por que nós não conseguimos expulsar o demônio?” Ele respondeu: “Por causa da fraqueza de vossa fé” (Mt 17, 19-20).

São Boaventura relata como um dia, enquanto estava no monte da Verna, lhe veio à mente o que dizem os santos Padres, quer dizer, que a alma devota, pela graça do Espírito Santo e a força do Altíssimo, pode espiritualmente conceber pela fé o bendito Verbo do Pai, dá-lo à luz, dar-lhe nome, buscá-lo e adorá-lo com os Magos e finalmente apresentá-lo felizmente a Deus Pai em seu templo. Escreveu então um opúsculo intitulado “As cinco festas do Menino Jesus”, para mostrar como o cristão pode reviver em si cada um destes cinco momentos da vida de Jesus. Limito-me ao que Boaventura diz das duas primeiras festas, a concepção e o nascimento, aplicando-o em particular ao sacerdote.

O sacerdote concebe Jesus quando, descontente da vida que leva, estimulado por santas inspirações e acendendo-se de santo ardor, desapegando-se firmemente de seus velhos costumes e afetos, fica como fecundado espiritualmente pela graça do Espírito Santo e concebe o propósito de uma vida nova.

Uma vez concebido, o bendito Filho de Deus nasce no coração do sacerdote, quando, após ter feito um sadio discernimento, pedido um conselho oportuno, invocado a ajuda de Deus, põe imediatamente por obra seu santo propósito, começando a realizar o que desde tempos estava amadurecendo, mas que tinha sempre deixado por medo de não ser capaz.

Este propósito de vida nova deve, no entanto, traduzir-se em seguida, sem vacilações, em algo concreto, em uma mudança, possivelmente também externa e visível, em nossa vida e em nossos costumes. Se o propósito não se realiza, Jesus é concebido, mas não é dado à luz. Será um de tantos abortos espirituais dos que infelizmente está cheio o mundo das almas.

Há duas brevíssimas palavras que Maria pronunciou no momento da Anunciação e que o sacerdote pronuncia no momento de sua ordenação: “Aqui estou!” e “Amém”, ou “Sim”. Recordo o momento quando estava perante o altar para a ordenação com uma dezena de companheiros. Em um determinado momento, pronunciou-se meu nome, e eu respondi emocionadíssimo: “Aqui estou”.

Ao longo do rito, foram-nos dirigidas algumas perguntas: “Queres exercer o ministério sacerdotal por toda vida?”, “Queres realizar digna e fielmente o ministério da palavra na pregação?”, “Queres celebrar com devoção e fidelidade os mistérios de Cristo?”. A cada pergunta, respondemos: “Sim, quero!”.

A renovação espiritual do sacerdócio católico, desejada pelo Santo Padre, será proporcional ao impulso com que cada um de nós, sacerdotes ou bispos da Igreja, formos capazes de pronunciar de novo um gozoso “Aqui estou!” e “Sim, quero!”, fazendo reviver a unção recebida na ordenação. Jesus entrou no mundo dizendo: “eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10, 7). Nós o acolhemos […] com as mesmas palavras: “eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!”.

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Referências:


[1]  PRESBÍTEROS. Carta aos sacerdotes de João Paulo II (1979).
[2]  Ps. Epifanio, Omelia in lode della Vergine (PG 43, 497).
[3]  Cf. su tutta la questione, R. Laurentin, Maria – ecclesia – sacerdotium, Parigini 1952; art. “Sacerdoti” in Nuovo Dizionario di Mariologia, Ed. Paoline 1985, 1231-1242.
[4]  Paolo VI, Udienza generale del 7, Ott. 1964.
[5]  Lumen gentium, 64.
[6]  Clemente Alessandrino, Pedagogo, I, 6.
[7]  B. Isacco della Stella, Discorsi 51 (PL 194, 1863).
[8]  Tertulliano, De carne Christi, 20-21 (CCL 2, 910 ss.).
[9]  S. Agostino, Discorsi 215, 4 (PL 38,1074).
[10]  C. Carretto, Beata te che hai creduto, Ed. Paoline 1986, pp. 9 ss.
[11]  E. De Luca, In nome della madre, Feltrinelli, Milano 2006, pp. 66 ss.
[12]  Tertulliano, De carne Christi, 20-21 (CCL 2, 910 ss.).
[13]  Lumen gentium, 58.
[14]  S. Agostino, Discorsi, 215,4 (PL 38, 1074).

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