O Ano Mariano e a doutrina da Imaculada

Neste Ano Mariano, comemorativo dos 300 anos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, meditemos sobre o mistério da Imaculada Conceição de Maria.

Neste Ano Nacional Mariano, no qual comemoramos os 300 anos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, é significativo que meditemos sobre o sublime mistério da Imaculada Conceição de Maria. Em nossa meditação, nos voltemos para Carta Encíclica Fulgens Corona, na qual o Sumo Pontífice Papa Pio XII nos transmite a doutrina da Imaculada conforme os Santos Padres e Doutores, a Tradição e o Magistério da Santa Igreja Católica.

Neste Ano Mariano, comemorativo dos 300 anos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, meditemos sobre o mistério da Imaculada Conceição de Maria.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição

Através da Carta Encíclica Fulgens Corona, o Papa Pio XII proclamou o primeiro Ano Mariano para toda a Igreja Católica na história, em comemoração do primeiro centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Nesta Carta, Pio XII convidou os fiéis a aprofundar o conhecimento da doutrina da Imaculada Conceição. Por ocasião do Ano Nacional Mariano, é muito oportuno que meditemos piedosamente esta doutrina, tendo em vista que nossa padroeira é Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

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A origem bíblica do dogma da Imaculada Conceição

Primeiramente, o fundamento da doutrina da Imaculada Conceição da Virgem Maria encontra-se nas Sagradas Escrituras. Naquele que é também chamado de Protoevangelho, Deus, criador de todas as coisas, depois da miserável queda de Adão, dirige à tentadora e corruptora serpente estas palavras, que muitos Santos Padres, Doutores da Igreja e autorizados intérpretes das Escrituras aplicam à Virgem Mãe de Deus: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela…” (Gn 3, 15). A respeito dessa inimizade, diz o Sumo Pontífice:

Ora, se, por algum tempo, a bem-aventurada virgem Maria fosse privada da graça divina, como inquinada [manchada], na sua concepção, pela mancha hereditária do pecado, ao menos naquele momento, embora brevíssimo, não haveria entre ela e a serpente aquela perpétua inimizade de que se fala, desde a mais antiga tradição até a solene definição da Imaculada Conceição, mas, ao contrário, haveria certa sujeição[1].

Ademais, como a Santíssima Virgem é saudada pelo Arcanjo São Gabriel com as palavras “cheia de graça” (Lc 1, 28) – kekaritoméne em grego – e “bendita entre todas as mulheres” (Lc 1, 42), claramente se manifesta com essas palavras – como, aliás, sempre a Tradição católica entendeu, com essa singular e solene saudação, nunca até então ouvida na Revelação divina –que “a Mãe de Deus foi a sede de todas as graças divinas, e ornada com todos os carismas do Espírito Santo, e, mais ainda, com o tesouro quase infinito e inexaurível abismo deles, de tal forma que nunca esteve sujeita à maldição”[2].

Os Santos Padres, desde os primeiros anos da Igreja, claramente ensinaram essa doutrina, sem que nenhum deles a contradissesse, e afirmaram que a Santíssima Virgem Maria foi:

… lírio entre espinhos, terra absolutamente intacta, imaculada, sempre bendita, livre de todo contágio do pecado, lenho incorruptível, fonte sempre límpida, a única e a só filha da vida e não da morte, o germe não da ira mas da graça, completamente ilibada, santa, alheia a toda espécie de pecado, mais bela que a beleza, mais santa que a santidade, a única santa, superior a todos, com exceção de Deus, por natureza mais bela, mais formosa, mais santa que os próprios querubins, serafins e todo o exército dos anjos[3].

A Imaculada Conceição e a Maternidade Divina

Ao considerarmos diligentemente, sob a iluminação do Espírito Santo, esses louvores da Bem-aventurada Virgem Maria, quem de nós ousará duvidar de que aquela que é mais pura que os anjos e que sempre permaneceu pura, estivesse sujeita a qualquer espécie de pecado, em qualquer momento de sua vida, por mínimo que fosse? Por isso, com toda a razão, Santo Efrém se dirige a Jesus Cristo, o divino Filho da Virgem Maria, com estas palavras: “Na realidade, só vós e vossa Mãe é que sois completamente belos. Não há em vós, Senhor, e nem em vossa Mãe mancha alguma”[4]. Com essas palavras, compreendemos claramente que entre todos os santos e santas, somente de uma podemos dizer que é pura, quando falamos de qualquer mancha do pecado, que nem sequer é possível a questão, e que este singularíssimo privilégio, a mais ninguém concedido, o alcançou do Senhor, porque foi elevada à dignidade de Mãe de Deus.

Esta excelsa missão de ser a Mãe do Verbo de Deus encarnado, acima da qual nenhuma outra maior parece existir, exige a graça divina em toda a sua plenitude, a alma libertada de qualquer mancha e requer, depois de Cristo, a mais alta dignidade e santidade:

Na verdade, dessa sublime missão da Mãe de Deus, nascem, como duma misteriosa e limpidíssima fonte, todos os privilégios e graças que adornam, duma forma admirável e numa abundância extraordinária, a sua alma e a sua vida. Por isso, com razão declara S. Tomás de Aquino: “A bem-aventurada virgem Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, tem do bem infinito, que é Deus, certa dignidade infinita”. E um ilustre escritor desenvolve e explica esse mesmo pensamento, com estas palavras: “A bem-aventurada virgem Maria… é Mãe de Deus: por isso, é puríssima e santíssima, de tal maneira que, depois de Deus, não podemos conceber outra pureza maior”[5].

Se considerarmos atentamente esses divinos mistérios e principalmente se voltarmos o nosso pensamento ao profundíssimo e suavíssimo amor com que Deus, sem dúvida, amou e continua a amar a Mãe de seu unigênito Filho, como poderemos sequer pensar que ela esteve, ainda que por brevíssimo tempo, sujeita ao pecado e privada da graça? Sendo Deus onipotente, podia conceder-lhe, em atenção aos merecimentos de seu Filho Redentor, esse singular privilégio. Sendo assim, nem sequer podemos pensar que Deus não o tenha feito. “Convinha, na verdade, que a Mãe do Redentor fosse o mais digna possível dele. Ora, se Maria fosse manchada com o pecado original, ainda que só no primeiro instante da sua concepção, não seria digna, porque estaria sujeita ao triste domínio do demônio”[6].

A Imaculada Conceição de Maria e a Redenção de Cristo

A Imaculada Conceição da Virgem Maria em nada diminui o mistério da Redenção de Cristo, porque sem aquela, esta não se estenderia a toda a descendência de Adão. Dessa forma, algo seria tirado à missão e à dignidade de nosso Senhor Jesus Cristo. Se considerarmos profunda e diligentemente essa questão, na realidade, facilmente verificamos que o divino Redentor remiu de forma perfeitíssima a sua Mãe. Pois, Deus preservou a Virgem de Nazaré de toda a mancha do pecado original, no primeiro momento da sua concepção, em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo. Sendo assim, a infinita dignidade de Filho de Deus e o múnus da sua redenção universal não diminuem nem se enfraquecem com a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, mas, ao contrário, muito se elevam. Pois, se salvar um pecador é uma obra maior do que criar o céu e a terra[7], segundo diz Santo Agostinho, muito maior é a obra especialíssima de preservar Nossa Senhora de todo pecado.

Ao considerarmos essas verdades de fé, vemos que é injusta a crítica e a censura que fazem não poucos acatólicos e protestantes à nossa devoção para com a Virgem Mãe de Deus, como se tirássemos alguma coisa do culto devido somente a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Ao contrário, tudo o que for para a honra e a veneração a nossa Mãe Maria Santíssima, sem dúvida que resulta em maior glória para o seu divino Filho Jesus Cristo, não só porque d’Ele vêm todas as graças e dons excelsos, mas também porque “os pais são a glória dos filhos” (Pr 17, 6).

Desde os mais remotos tempos da Igreja, a doutrina da Imaculada Conceição da Mãe de Deus cada vez mais se esclareceu e se confirmou, quer entre os sagrados pastores, quer na convicção e no espírito dos féis. Esta doutrina acerca da Virgem Maria, atestam os escritos dos Santos Padres, os concílios e os atos dos romanos pontífices. Além disso, as antigas liturgias, cujos livros, desde os mais antigos, consideram essa festa como transmitida a nós pelos nossos antepassados. Até mesmo entre as comunidades dos cristãos orientais nunca faltaram nem faltam aqueles que acolheram esta doutrina e todos os anos celebram a festa da Virgem Imaculada. Certamente, nada disso se daria se não tivessem recebido esta verdade dos tempos mais antigos, isto é, antes de se terem separado do único rebanho de Cristo.

Assim, a doutrina da Imaculada Conceição, segundo o juízo dos Padres, foi mencionada nas Sagradas Escrituras, por eles mesmos transmitidas, expressa por tantos e tão grandes testemunhos, celebrada por tantos escritos célebres da veneranda antiguidade, foi finalmente proposta pelo mais alto e autorizado juízo da Igreja. Dessa forma, podemos dizer que nada é mais doce e mais querido para os sagrados pastores e para os féis do “que honrar, venerar, invocar e pregar, por toda a parte, com o mais fervoroso ardor, a virgem Mãe de Deus concebida sem pecado original”[8].

Nossa Senhora da Imaculada Conceição, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A Santíssima Trindade e a Imaculada Conceição.

TODO DE MARIA. Rezemos o Ofício da Imaculada Conceição.

TODO DE MARIA. Três propósitos para 2017, o Ano Mariano.

Referências:


[1]  PAPA PIO XII. Carta Encíclica Fulgens Corona, 7.

[2]  Idem, 8. Cf. Bula Ineffabilis Deus.

[3]  Idem, 9. Cf. Bula Ineffabilis Deus.

[5]  Idem, ibidem. Com. a Lapide, in Matth., I,16.

[6]  Idem, 11.

[7]  Cf. SANTO AGOSTINHO. Tratados sobre o Evangelho de São João, 72, 3.

[8]  Idem, 10. Cf. Bula Ineffabilis Deus.

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