O que é e como usar o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo?

O que é o escapulário, como ele deve ser usado e qual o seu significado espiritual? Confira nesta matéria tudo o que você precisa saber sobre este antigo sacramental da Ordem de Nossa Senhora do Carmo.

Voltando às origens…

A origem do escapulário de Nossa Senhora do Carmo está ligada a um difícil momento histórico da Ordem Carmelitana.

O que é o escapulário, como ele deve ser usado e qual o seu significado espiritual? Confira nesta matéria tudo o que você precisa saber sobre este antigo sacramental da Ordem de Nossa Senhora do Carmo.

Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Os eremitas que viviam nas grutas do Monte Carmelo buscando, à semelhança de Maria, a intimidade com Deus no silêncio e na oração, viram-se obrigados a migrar, após a tomada da Terra Santa, para a Europa. Uma vez chegados no Ocidente, encontraram vários obstáculos para aí se estabelecerem. De um lado, os carmelitas tinham um estilo de vida bastante diferente das demais Ordens religiosas; de outro, a crise econômica pela qual passava então o continente europeu não os tornava benquistos, pois representavam mais alguém a compartilhar as pobres esmolas dos fiéis. O Carmelo corria até mesmo o risco de se extinguir.

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Na época, era Superior Geral Frei Simão Stock[1]. A tradição nos conta que ele recorria à Maria sem cessar, com muito fervor, pedindo-lhe que manifestasse sua proteção aos carmelitas e que não deixasse morrer a Ordem que nascera para honrá-la e imitá-la. E a oração de São Simão Stock chegou ao coração materno de Nossa Senhora…

Segundo a tradição da Ordem e antigos testemunhos, no dia 16 de julho de 1251 — e é por isso que a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora do Carmo neste dia do mês de julho —, a Virgem Maria apareceu a São Simão Stock e lhe entregou o escapulário dizendo: “O escapulário será para ti um privilégio, e quem morrer piedosamente revestido com ele será preservado do fim eterno”.

Desde então, o escapulário passou a fazer parte integrante do hábito dos carmelitas.

Mas, o que se deve entender pelo termo “piedosamente” empregado pela Virgem Maria? Trata-se, é lógico, de levar uma vida cristã coerente, seguindo os mandamentos de Deus e da Igreja e, ainda, de cultivar com empenho a vida espiritual, buscando o contato mais íntimo com Deus mediante os sacramentos — sobretudo a Eucaristia e a Confissão — e a assídua oração. Em outros termos, usar piedosamente o escapulário significa não tê-lo meramente como um amuleto de sorte, um sinal protetor mágico que nos isenta de viver as exigências cristãs e nos garante a salvação eterna sem esforços de nossa pessoa.

Além disso, evidentemente, usar o escapulário implica na manifestação de um carinho especial pela Mãe de Deus. Se ela nos concede um sinal de proteção, nós, de nossa parte, também devemos lhe demonstrar uma profunda gratidão por esta predileção. É por isso que quem usa o escapulário tem o costume de fazer diariamente alguma prática mariana. Não há nada prescrito como obrigação; cada um escolhe a prática mariana que melhor lhe convier, conforme as próprias possibilidades. O importante é não deixar de dar mostras do amor e da gratidão à Virgem Maria que nos oferece sua proteção mediante o escapulário. Eis alguns exemplos: a recitação do terço, a visita a uma imagem de Nossa Senhora, pequenas mortificações, ou até mesmo a simples recitação de 3 Ave-Marias.

Mas o que é o escapulário?

Escapulário é uma peça de vestuário bastante comum na Idade Média. Tratava-se de duas longas tiras de pano — uma que pendia sobre o peito, outra que caía às costas — ligadas por largas alças, colocadas sobre os ombros. Daí procede seu nome. Escapulário vem da palavra latina scapula, que quer dizer “espáduas, ombros”. Seria uma espécie de avental a ser vestido sobre a túnica para protegê-la durante o trabalho, para não sujá-la ou estragá-la.

Nossa Senhora, ao dar o escapulário para São Simão Stock, quis simbolizar a proteção que exerceria sobre todos os membros da Ordem. Os carmelitas, de sua parte, também viram no uso do escapulário uma maneira externa de manifestar a razão principal de suas vidas: revestirem-se das virtudes de Maria.

É este o fundamento da devoção ao escapulário: pedir a proteção de Maria e empenhar-se em imitar sua vida, procurando praticar as mesmas virtudes que ela praticou.

Revestir-se de Maria

Maria, por ser a Mãe de Deus, foi preservada de toda mancha de pecado. Em sua vida, foi sempre agradável a Deus, tomando atitudes que eram conformes à vontade divina e praticando as virtudes com a máxima perfeição. Vejamos algumas delas:

  • Maria era uma alma de oração. Estava sempre atenta para escutar e acolher a Palavra de Deus; louvava o Senhor, cantando as maravilhas nela operadas; meditava em seu coração os fatos de sua vida;
  • Maria aceitava com amor a vontade de Deus. Deu à luz Jesus num estábulo; abandonou sua terra, fugindo para o Egito; aos pés da Cruz, vendo seu Filho morrer, renovou seu “sim” ao Pai;
  • Maria tinha um espírito apostólico. Abandonada ao plano da Redenção, soube unir-se à imolação de seu Filho e oferecer seu coração transpassado em beneficio da humanidade;
  • Maria praticava a caridade e era solícita para com todos. Foi em auxílio de sua prima Isabel, socorreu os noivos de Caná;
  • Maria vivia de fé e de esperança, pois acreditou nas palavras do Anjo, não duvidou que Jesus poderia mudar a água em vinho, esperava a ressurreição;
  • Maria tinha um coração eclesial. Amava a Igreja que seu Filho fundara e, por isso, rezou no Cenáculo à espera do Espírito Santo. Não só ficava em oração com os apóstolos, mas os amparava espiritualmente em suas missões na Igreja nascente.

E, olhando para o Evangelho, quantas coisas ainda poderiam ser lembradas!

O Escapulário se espalha pelo mundo

Muitos devotos de Nossa Senhora, conhecendo o simbolismo do escapulário expressaram o desejo de também trazê-lo consigo. Surgiu, assim, entre os carmelitas o costume de “impor” às pessoas que o quisessem um escapulário de dimensões reduzidas feito de pano marrom, por ser esta a cor do hábito carmelitano.

Estas pessoas ficariam espiritualmente unidas à família do Carmelo, mediante o empenho comum de levar uma vida semelhante à da Mãe de Deus. Assim, atualmente a família carmelitana é constituída não só dos frades e monjas, mas também de todos os leigos que se revestem do escapulário.

Com o passar dos anos, este costume foi aprovado pela Igreja e hoje é incentivado como autêntica devoção mariana.

Privilégio Sabatino?

Em meio às lendas e tradições da Ordem Carmelitana, narra-se outra aparição de Nossa Senhora ligada ao escapulário. Ela teria aparecido ao Papa João XXII e lhe teria dito: “A quem tiver usado piedosamente o meu escapulário durante a vida, eu, Mãe bondosa, descendo ao Purgatório no primeiro sábado após sua morte, livrá-lo-ei e o conduzirei ao monte santo da vida”.

De fato, não existe uma documentação histórica a respeito dessa aparição da Virgem do Carmo, mas o importante é que tais palavras são substancialmente as mesmas dirigidas aos carmelitas por meio de São Simão Stock: a proteção de Maria nesta vida e a salvação eterna. Aqui, porém, a Nossa Senhora estende sua promessa a todos aqueles que, através do escapulário, estão unidos à família carmelitana.

Porque Nossa Senhora se referiu ao dia de sábado, convencionou-se chamar esta promessa de “privilégio sabatino”. No entanto, é necessário esclarecer bem o significado deste termo.

Empregando a palavra sábado, a Virgem Maria usou de um recurso simbólico para manifestar sua intercessão em nosso favor. Se por acaso precisarmos passar pelo Purgatório antes de contemplar a face de Deus no Céu, Maria, qual Mãe bondosa — como ela mesma se denomina — virá em socorro de seus filhos, daqueles que na vida terrena manifestaram-lhe filial devoção com o uso do escapulário. É esta a razão pela qual ela diz que virá no “primeiro sábado” — sábado é o dia mariano —, entendendo com isso que usará de sua intercessão junto a Deus para abreviar o nosso tempo de Purgatório. Isso não significa, absolutamente, que virá no primeiro sábado após a morte da pessoa que usava o escapulário, contando os dias como nós o fazemos nesta terra. Deus é eterno; desconhece as dimensões do tempo e, para Ele, mil anos é a mesma coisa que um dia. Se tivermos que passar pelas purificações do Purgatório, nós ali permaneceremos tanto quanto nos for preciso para nos encontrarmos dignos de comparecer na presença do Deus Santo, mas saberemos que a Virgem Maria estará intercedendo por nós, a fim de que cumpramos esta etapa o mais breve possível e possamos ir ao Céu.

Podemos, então, dizer que o “privilégio sabatino” consiste na materna intercessão de Maria para abreviar o nosso tempo de Purgatório.

Como usar o escapulário

O escapulário deve ser usado constantemente, de dia e de noite. Quando, por alguma razão, seu uso se torne dificultoso, a Igreja dá a possibilidade de substituí-lo por uma medalha em que, na frente, esteja cunhada a imagem de Nossa Senhora do Carmo, e, atrás, a do Sagrado Coração de Jesus. É a medalha de Nossa Senhora do Carmo que, no lugar do escapulário, deve ser sempre carregada com a pessoa.

Da primeira vez que se recebe o escapulário, é necessário apresentá-lo ao sacerdote, a fim de que ele o abençoe e o imponha. Por ser confeccionado com tecido, o escapulário desgasta-se facilmente. Uma vez gasto, basta trocá-lo por outro, não sendo, então, mais preciso recorrer ao sacerdote.

Muitas pessoas se perguntam como se desfazerem do escapulário velho. Dado que se trata de um sacramental[2] e, portanto, um objeto religioso que recebeu uma bênção, o ideal seria queimá-lo de modo que ele se deteriorasse completamente. Se, por qualquer motivo, isso se apresentar difícil, pode-se enterrá-lo de maneira que, com o tempo, a umidade da terra venha a apodrecê-lo, causando sua decomposição. Se nada disso for possível, o ideal é entregá-lo a uma igreja onde o sacristão se encarregará de desfazer-se dele.

O escapulário e as indulgências

É também interessante lembrar que o uso do escapulário permite aos fiéis lucrarem algumas indulgências:

Indulgência parcial – O uso piedoso do escapulário ou da medalha (por exemplo: um pensamento, uma lembrança, um olhar, toque ou beijo etc.), além de favorecer a união com Maria Santíssima e com Deus, obtém uma indulgência parcial, cujo valor aumenta na proporção das disposições de piedade e fervor da pessoa.

Indulgência plenária – Pode-se lucrá-la no dia em que se recebe pela primeira vez o escapulário, na festa de Nossa Senhora do Carmo (16 de julho), de Santa Teresa de Ávila (15 de outubro), de São João da Cruz (14 de dezembro), de Santo Elias (20 de julho), de Santa Teresinha do Menino Jesus (1º de outubro), de todos os santos carmelitas (14 de novembro) e de São Simão Stock (16 de maio). Para lucrar tais indulgências plenárias, são exigidas as seguintes condições:

  • Confissão, Comunhão eucarística, oração pelo Sumo Pontífice (por exemplo: um Pai-nosso e uma Ave-Maria);
  • Propósito firme de querer observar os compromissos da associação do escapulário.

Que ao usar o escapulário, enfim, você não só se sinta protegido pela Virgem Maria, mas, sobretudo, cresça na imitação de suas virtudes.

Fonte: PADRE PAULO RICARDO. O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A Senhora do Carmo e as aparições de Fátima.
TODO DE MARIA. O Escapulário e a espiritualidade do Carmo.
Rito de benção e imposição do Escapulário (em formato .pdf).

Referências:


[1]  São Simão Stock nasceu na Inglaterra, no Condado de Kent, em 1165. Aos 12 anos de idade, desejou a vida consagrada a Deus, mas seus pais não o permitiram. Apesar desta oposição, partiu para a solidão, escolhendo por habitação a concavidade do tronco de uma árvore. É deste fato que lhe advém o nome Stock, que significa “tronco”. Mais tarde, abandonou a solidão e, completando seus estudos, foi ordenado sacerdote carmelita. Em 1245, foi eleito Geral. Faleceu em 16 de maio de 1265, tendo passado toda a sua vida no serviço à Santíssima Virgem.

[2]  Chamamos de sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes circunstâncias da vida (CIC 1667).

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