Por que a Virgem Maria é Mãe da Igreja?

Saibamos por que a Virgem Maria é Mãe da Igreja e quais as consequências espirituais da sua maternidade sobre nós.

No dia 13 de Maio de 1967, o Papa Paulo VI declarou solenemente, através da “Exortação Apostólica Signum Magnum”, que a Santíssima Virgem Maria é Mãe da Igreja e modelo de todas virtudes. Em decorrência dessa declaração, no dia 3 de Março de 2018, o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, publicou e comentou oficialmente o “Decreto sobre a celebração da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, no Calendário Romano Geral”. O Decreto foi promulgado no dia 11 de Fevereiro de 2018, na memória da Bem-aventurada Virgem Maria de Lurdes, em conformidade com a decisão do Papa Francisco.

Saibamos por que a Virgem Maria é Mãe da Igreja e quais as consequências espirituais da sua maternidade sobre nós.

Detalhe do mosaico da “Mater Ecclesiae” (Mãe da Igreja).

A partir da promulgação do Decreto, a Memória da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, deve ser celebrada em toda a Igreja Católica de Rito Romano na segunda-feira depois da Solenidade de Pentecostes, que este ano será no dia 21 de Maio.

Apesar de ser doutrina da Igreja Católica, há pessoas que não compreendem por que a Virgem Maria é Mãe da Igreja. Outras têm a tendência de dizer que ela é membro da Igreja e, portanto, não pode ser Mãe da Igreja. Para compreender melhor a questão, vejamos quais são as razões teológicas que fundamentam a afirmação de que Nossa Senhora é verdadeiramente Mãe da Igreja.

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A Virgem Maria como discípula de Cristo e membro da Igreja

A Santíssima Virgem é a primeira e mais perfeita discípula de nosso Senhor Jesus Cristo e também a primeira evangelizadora da Igreja. “A máxima realização da existência cristã como um viver trinitário de ‘filhos no Filho’ nos é dada na Virgem Maria que, através de sua fé (cf. Lc 1, 45) e obediência à vontade de Deus (cf. Lc 1, 38) assim como por sua constante meditação da Palavra e das ações de Jesus (cf. Lc 2, 19-51), é a discípula mais perfeita do Senhor”[1].

A Virgem Maria esteve intimamente unida ao Pai em seu projeto de enviar seu Filho ao mundo para a salvação da humanidade e, por acolher com fé este desígnio salvífico de Deus, ela torna-se o primeiro membro da Igreja nascente, fundada por Jesus, e se faz colaboradora no renascimento espiritual dos discípulos. “Sua figura de mulher livre e forte, emerge do Evangelho conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai”[2].

Verdadeira discípula do Filho, Maria foi formada para estar aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25), em comunhão profunda com o projeto de salvação do Pai, e entrar plenamente no mistério da Nova Aliança em Cristo.

Nossa Senhora como Mãe de Cristo e Mãe da Igreja

A Santíssima Virgem tem em comum conosco o fato de que ela é filha de Deus, discípula de Cristo e membro da Igreja. No entanto, ela tem também algo que a diferencia de nós de modo incomparável e a coloca em um plano muito superior, que é a maternidade divina, o primeiro dos dogmas marianos. Maria Santíssima é Mãe do Verbo de Deus encarnado e, consequentemente, não pode ser colocada no mesmo plano que os outros membros da Igreja. Em decorrência da maternidade divina, há ainda mais uma razão para que ela não seja um membro qualquer do corpo de Cristo.

A tradição aplica a Virgem Maria o seguinte versículo dos Salmos: “Um grande número de homens nasceu nela – Homo et homo natus est in ea” (Sl 86, 5). Segundo alguns Santos Padres, o primeiro homem nascido em Maria é o homem-Deus, Jesus Cristo; o segundo é um simples homem, filho de Deus e de Maria por adoção. A partir dessa interpretação das Sagradas Escrituras, São Luís Maria Grignion de Montfort nos ajuda a compreender com mais profundidade o mistério da maternidade da Virgem Maria sobre os membros do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja:

Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu nela, os predestinados, que são os membros deste chefe, devem também nascer nela, por uma consequência necessária. Não há mãe que dê à luz a cabeça sem os membros ou os membros sem a cabeça: seria uma monstruosidade da natureza. Do mesmo modo, na ordem da graça, a cabeça e os membros nascem da mesma mãe, e, se um membro do Corpo Místico de Jesus Cristo, isto é, um predestinado, nascesse de outra mãe que Maria, que produziu a cabeça, não seria um predestinado, nem membro de Jesus Cristo, e sim um monstro na ordem da graça[3].

Assista ao programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A Virgem Maria depois de Pentecostes”:

O cuidado maternal da Virgem Maria sobre seus filhos

A Virgem Maria é Mãe da Igreja não somente por ser Mãe dos membros do seu Corpo Místico Jesus Cristo. Segundo o Papa Paulo VI, a sua maternidade sobre cada um de nós, seus filhos, tem um alcance ainda maior:

Como, na verdade, cada mãe humana não pode limitar a sua missão à geração de um novo homem mas deve alargá-la à nutrição e à educação, assim se comporta também a bem-aventurada Virgem Maria. Depois de ter participado no sacrifício redentor do Filho, e de maneira tão íntima que lhe fez merecer ser por Ele proclamada Mãe não só do discípulo João, mas – seja consentido afirmá-lo – do gênero humano, por aquele de algum modo representado, Ela continua agora no céu a cumprir a missão que teve na terra de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Esta é uma consoladora verdade, que por ser livre beneplácito de Deus sapientíssimo faz parte integrante do mistério da salvação humana; por isso ela deve ser considerada como de fé por todos os cristãos[4].

A respeito do cuidado materno da Santíssima Virgem, São Luís Maria nos recorda o ensinamento de Santo Agostinho, que nos leva ainda mais longe em nossa reflexão:

…se qualquer fiel tem Jesus Cristo formado em seu coração, pode atrever-se a dizer: “Mil graças a Maria! este Jesus que eu possuo é, com efeito, seu fruto, e sem ela eu jamais o teria”. Pode-se ainda aplicar a Maria, com mais propriedade que São Paulo aplica a si próprio, as palavras: “Quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis” (Gal 4, 19): Dou à luz todos os dias os filhos de Deus, até que Jesus Cristo seja nele formado em toda a plenitude de sua idade. Santo Agostinho, sobrepujando a si mesmo, e tudo o que acabo de dizer, confirma que todos os predestinados, para serem conformes à imagem do Filho de Deus, são, neste mundo, ocultos no seio da Santíssima Virgem, e aí guardados, alimentados, mantidos e engrandecidos por esta boa Mãe, até que ela os dê à glória, depois da morte, que é propriamente o dia de seu nascimento, como qualifica a Igreja a morte dos justos. Ó mistério de graça, que os réprobos desconhecem e os predestinados conhecem muito pouco[5].

Assim, podemos nos entregar com confiança a Virgem Maria, nossa Mãe, que nos guardará, alimentará, manterá e engrandecerá em seu ventre até o dia de nosso nascimento para a vida eterna.

Ó Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A celebração da Memória da Virgem Maria, Mãe da Igreja.
TODO DE MARIA. A história da veneração de Maria como Mãe da Igreja.
TODO DE MARIA. Maria, Mãe dos Crentes e Mãe da Igreja.

Referências:


[1]  CELAM. Documento de Aparecida. São Paulo: Santuário, 2007, 266.
[2]  Idem, ibidem.
[3]  SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 32.
[4]  PAPA PAULO VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, 1.
[5]  SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 33.

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