Por que não nos consagramos direto para Jesus?

Saiba porque consagramos nossas vidas pelas mãos da Virgem Maria e não diretamente para Jesus Cristo.

Por que nos consagramos a Virgem Maria e não direto para Jesus Cristo?Muitos de nós já foi ou ainda será questionado, ou talvez se pergunte, a respeito da devoção e da consagração a Santíssima Virgem Maria: por que não consagramos nossas vidas diretamente para Jesus? Ou, por que eu não posso ir direto para Deus? Ou ainda, por que precisamos da Virgem Maria? Para nos questionar sobre a intercessão de Maria, na maioria das vezes, nossos irmãos protestantes se baseiam na Carta de São Paulo a Timóteo: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos”1. Para responder às questões colocadas acima, partiremos do texto de Timóteo, refletiremos outros textos bíblicos, e recorreremos à doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort.

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Para começar nossa reflexão, voltemos alguns versículos na Carta de São Paulo a Timóteo: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões, ação de graças, por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade”2. Nestes versículos, o Apóstolo dos Gentios pede que se “façam súplicas, orações, intercessões, ação de graças”3 pelas necessidades da comunidade e da sociedade. Ele ressalta ainda que “isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador”4. Paulo pede à Timóteo e à sua comunidade que intercedam por suas necessidades, pois tem a clareza que o Único Mediador é a Igreja, é o Cristo Total (Christus Totus), que é formado pela Cabeça, que é Jesus, e por nós, membros do Corpo Místico de Cristo5. Fazemos parte do Corpo de Cristo, por isso participamos da mediação do Único Mediador, que é Cristo.

Ora, se a Virgem Maria é Mãe de Jesus, que é a Cabeça da Igreja, não será ela também Mãe dos membros do Seu Corpo, que somos nós? Sendo Maria a Mãe da Igreja, de Cristo e de seus membros, não terá ela mais direito e autoridade para interceder pelos seus filhos diante do Filho? Foi esta intercessão que aconteceu nas Bodas de Caná, quando Maria pediu a Jesus por aquela festa de casamento: “Eles já não tem mais vinho”6. Embora relutasse, Jesus faz seu primeiro milagre naquela festa de casamento7, adiantando a sua hora8, por causa da intercessão de Nossa Senhora.

Assista vídeo do Padre Paulo Ricardo sobre a Intercessão dos Santos: 

Ouça áudio do Padre Paulo Ricardo sobre a Intercessão dos Santos: 

São Luís Maria nos questiona a respeito da única mediação de Cristo: “não teremos necessidade dum mediador junto do próprio Medianeiro? Será tão grande a nossa pureza que possamos unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual a seu Pai e, por conseguinte, o Santo dos santos, tão digno de respeito como o Pai? Pela sua infinita caridade tornou-se a nossa garantia e o nosso Medianeiro junto de Deus, seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que lhe devíamos. Mas será isso uma razão para termos menos respeito e temor à sua majestade e santidade?”9. Olhando para nós mesmos, para nossas fraquezas, infidelidades, e sendo sinceros, reconhecemos que “temos necessidade dum mediador junto do mesmo Medianeiro, e que Maria Santíssima é a pessoa mais capaz de desempenhar esta função caridosa. Foi por Ela que nos veio Jesus Cristo; é por Ela que devemos ir a Ele”10.

Podemos ainda nos questionar: por que não consagramos nossas vidas diretamente para Jesus? Ora, nossas vidas já foram consagradas a Jesus Cristo quando fomos batizados. No Batismo, morremos e renascemos com Cristo para uma vida nova, fazemos parte do Corpo Místico de Cristo, fomos consagrados, separados, para Deus. Porém, por causa das nossas fraquezas, não conseguimos ser fiéis às promessas do nosso Batismo, não conseguimos ser fiéis a Deus, pois neste mundo nosso coração estará sempre dividido entre Ele e o mundo. Porém, quando nos consagramos, assumimos a Mãe que Jesus nos entregou, em seu testamento espiritual, para nos ajudar: “Eis aí a tua Mãe” (Jo 19, 27). Entregando sua Mãe ao Discípulo Amado, Jesus nos entregou a Sua própria Mãe para nos ajudar a vencer o Demônio, o mal e o pecado, que nos afastam de Deus e da Sua santíssima vontade. Da mesma forma que Adão recebeu em Eva um auxílio para suas necessidades (cf. Gn 2, 18), em Cristo, o novo Adão, recebemos a Virgem Maria, a nova Eva, como auxílio para nossas fraquezas e necessidades, materiais e espirituais. Temos em Maria uma Mãe, que nos foi dada pelo próprio Filho de Deus. Qual será a nossa atitude diante dessa entrega? Nós a acolheremos naquilo que é nosso (cf. Jo 19, 27), como o Discípulo Amado? Ou vamos renegá-la?

Assim, não consagramos nossas vidas diretamente para Jesus, não por que Ele necessite de um mediador, mas porque nós necessitamos. Por causa de nossas fraquezas, precisamos de um mediador junto ao Único Mediador, que é Cristo, para nos entregar inteiramente a Deus. Não podemos ir direto para Deus porque somos imperfeitos, cheios de defeitos, e por nós mesmos não conseguimos a perfeição, a santidade, a comunhão plena com Deus. Precisamos da Virgem Maria para chegar a Jesus Cristo, como nos ensina São Bernardo e São Boaventura, nas palavras de São Luís Maria: “segundo eles, temos de subir três degraus para chegar até Deus: o primeiro, que está mais perto de nós e mais conforme à nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo, e o terceiro é Deus Pai. Para ir a Jesus é preciso ir a Maria: Ela é a nossa Medianeira de Intercessão. Para ir ao Eterno Pai é preciso ir a Jesus: nosso Medianeiro de Redenção”11. Por isso, para chegar a Deus Pai, nos consagremos de todo coração, com os nossos sentimentos, coma a nossa razão, com a nossa vontade, a Virgem Maria, nossa Mãe e mediadora junto ao Único Mediador, Jesus Cristo.

Referências:

1 1 Tim 2, 5-6.

2 1 Tim 2, 1-2.

3 1 Tim 2, 1.

4 1 Tim 2, 3.

5 A doutrina do Corpo Místico está presente em vários versículos das Cartas de São Paulo, dos quais citamos alguns: 1 Cor 12, 12; Cl 1, 18; Ef 5, 23; Rm 12, 4-5.

6 Jo 2, 3.

7 Cf. Jo 2, 7-10.

8 Cf. Jo 2, 4.

9 MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 85.

10 Idem, ibidem.

11 Idem, 86.

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