Meditemos sobre a fuga da Sagrada Família, Jesus, Maria e José para o Egito e colhamos abundantes frutos espirituais.
Na segunda dor de Maria Santíssima, contemplamos a sua fuga, com o Menino Jesus e São José, para o Egito. Santo Afonso Maria de Ligório nos ajuda a meditar sobre esse profundo mistério do amor de Deus, que por vezes nos desinstala e nos leva para onde não queremos ir. A Sagrada Família de Nazaré viveu esse mistério de modo exemplar, como que para nos mostrar como devemos assumi-lo em nossas vidas.
A profecia do velho Simeão, segundo a qual uma espada de dor transpassaria o Coração Imaculado da Virgem Maria (cf. Lc 2, 35), foi um prenúncio deste mistério, que acompanharia a Mãe do divino Redentor por toda a vida. Este não era nenhuma novidade, pois as Sagradas Escrituras já alertavam a respeito dos que se fazem servos do Senhor: “se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2, 1). No entanto, o mistério do sofrimento na vida de Nossa Senhora tem algo de novo e muito importante para nos ensinar.
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A profecia de Simeão e a dor contínua de Maria Santíssima
Como cerva, que ferida pela flecha, aonde vai leva a sua dor, trazendo sempre consigo a flecha que a feriu, a Santíssima Virgem, depois da dolorosa profecia de São Simeão (cf. Lc 2, 34-35), levava sempre consigo a sua dor, com a memória contínua da paixão do seu Filho Jesus Cristo. Esta dor de Nossa Senhora aumentou depois que a profecia de Simeão começou a realizar-se na sua fuga com São José e o Menino Jesus para o Egito, a fim de escapar à perseguição de Herodes: “Surge et accipe puerum et matrem eius et fuge in Aegyptum ― Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito” (Mt 2, 13).
Que dor deve ter causado ao Coração de Maria, o ouvir da boca de José a necessidade daquele duro exílio com seu Filho, exclama São João Crisóstomo! “Ó Deus” – disse então a Virgem Santíssima suspirando, como contempla Santo Alberto Magno – “deve pois fugir dos homens aquele que veio a salvar os homens?”[1]
Os sofrimentos da Virgem Maria na fuga para o Egito
Cada um de nós pode considerar o quanto sofreu a Nossa Senhora naquela viagem. A estrada, conforme a descrição de São Boaventura, era ruim, desconhecida, cheia de bosques, pouco frequentada, e principalmente muito longa, de modo que a viagem durou pelo menos trinta dias. Era tempo de inverno, por isso, Jesus, Maria e José tiveram que viajar com neves, chuvas e ventos, por caminhos arruinados, cheios de lama, sem ter quem os guiasse ou servisse. A Virgem de Nazaré tinha na época apenas quinze anos de idade e era uma jovem delicada, que não estava acostumada a viagens tão longas e difíceis. Que compaixão ao ver a Santíssima Virgem fugir com o Menino Jesus nos braços, acompanhada de São José!
A respeito dessa dura viagem, pergunta São Boaventura: “Quomodo faciebant de victu? ubi nocte quiescebant? ― De que alimentavam-se? onde passavam as noites? E de que outra coisa podiam alimentar-se, senão de um pedaço de pão duro, trazido por São José, ou mendigado? ”[2] Além disso, onde poderiam dormir, especialmente no extenso deserto pelo qual deviam passar, senão sobre a terra, ao relento, com perigo de ladrões e de feras que eram abundantes no Egito? Quem encontrasse Jesus, Maria e José naquela situação, por quem lhes haveria de considerar senão por três pobres mendigos e vagabundos?
Santo Anselmo é da opinião de que a Sagrada Família habitou na cidade de Heliópolis, no Egito. Consideremos a extrema pobreza que Jesus, Maria e José viveram nos sete anos que ali permaneceram, como afirma Santo Antonino, Santo Tomás e outros. Naquele lugar, eram estrangeiros, desconhecidos, sem parentes ou amigos a quem recorrer, sem salários, sem dinheiro. São Basílio dizia que os três peregrinos sustentaram-se com dificuldade, com os seus pobres trabalhos. Landolfo de Saxônia escreve que a Virgem Maria se achava em tão grande pobreza – que isto seja dito para consolação dos pobres – que algumas vezes não tinha nem sequer um pouco de pão, que o Filho lhe pedia, obrigado pela fome.
A peregrinação com Jesus e Maria neste mundo
Ver que Jesus, Maria e José andaram fugitivos, peregrinando por este mundo, ensina a nós que também devemos viver nesta terra como peregrinos, sem nos apegar aos bens que o mundo oferece. Pois, em breve os deixaremos e iremos para a eternidade: “Non habemus hic manentem civitatem, sed futuram inquirimus ― Não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura” (Heb 13, 14). Ademais, ensina-nos a abraçar as nossas cruzes, já que neste mundo não podemos viver sem cruz.
A Bem-aventurada Verônica de Binasco, religiosa agostiniana, foi levada em espírito a acompanhar a Virgem Maria com o Menino Jesus na viagem ao Egito e, ao final, disse-lhe a divina Mãe: “Filha, acabas de ver com quantas fadigas chegamos a este país; sabe, pois, que ninguém recebe graças sem padecer”[3].
Se desejamos sentir menos os sofrimentos desta vida, devemos, à imitação de São José, tomar conosco Jesus e Maria: “Accipe puerum et matrem eius ― Toma o Menino e sua Mãe” (Mt 2, 13). “A quem pelo amor traz no coração este Filho e esta Mãe, se lhe tornam leves, quiçá doces e estimáveis, todas as penas. Amemo-los, pois, e consolemos a Maria acolhendo o seu Filho dentro dos nossos corações, que ainda hoje é continuamente perseguido pelos homens com os seus pecados”[4].
Assim, a profecia de São Simão acerca da Paixão de Jesus e das dores de Maria começou a realizar-se logo depois, na fuga que tiveram de fazer para o Egito, a fim de livrar o Filho de Deus da perseguição do rei Herodes: “Accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum ― Toma o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito” (Mt 2, 13). Pobre Mãe! quanto não devia ela sofrer, tanto na viagem como durante a sua permanência naquele país distante, entre os infiéis!
Ao meditar sobre a Sagrada Família na sua fuga para o Egito, lembremo-nos que nós também somos peregrinos neste mundo. Além disso, recordemo-nos que para sentirmos menos os sofrimentos deste exílio, à imitação de São José, tenhamos sempre conosco, no coração, Jesus e Maria.
Sagrada Família, Jesus, Maria e José, rogai por nós!
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A Apresentação de Jesus e a dor de Maria.
TODO DE MARIA. As dores de Jesus e Maria e a reparação.
TODO DE MARIA. Os sofrimentos e a luta contra o desânimo.
Referências:
[1] SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações para todos os dias e festas do ano – Tomo I, p. 314.
[2] Idem, ibidem.
[3] Idem, p. 315.
[4] Idem, p. 315-316.