O mistério da Mãe de Deus nos ajuda a compreender a profundidade do seu amor por Jesus Cristo e a nossa incapacidade de O amar.
No início deste Ano Nacional Mariano, meditemos sobre a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, e o seu amor incomensurável por seu Filho Jesus Cristo. No primeiro Domingo deste ano, dia 1º de Janeiro, celebramos a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, o título mais importante de Nossa Senhora. Costumamos celebrar Nossa Senhora e ter devoção a ela com seus vários títulos. Aqui no Brasil, 2017 será um ano mariano especial, no qual veneraremos a Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, em comemoração pelos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição e da pesca milagrosa. Em Portugal, a devoção se volta para Nossa Senhora de Fátima, na comemoração dos 100 anos das suas aparições. Então, 2017 é um Ano Mariano, um ano especial, no qual nos voltamos para a Virgem Maria e contemplamos verdadeiramente o mistério de Nossa Senhora. Sendo assim, vamos começar 2017 no clima adequado, voltando-nos de todo nosso coração para meditar esse mistério que é Nossa Senhora.
Tudo aquilo que Nossa Senhora é, seja no seu título de Aparecida ou de Fátima, não existiria se não fosse o fato dela ser Mãe de Deus. Nossa Senhora é Mãe de Deus e é daí que decorrem todos os privilégios, todas as graças, toda a missão da Virgem Maria na história da salvação. Deus quis verdadeiramente que a salvação entrasse no mundo através da Nossa Senhora, pois infeliz e desgraçadamente a perdição e o pecado entraram no mundo através de Eva (cf. Gn 3, 1ss). Sendo assim, devemos ter grande gratidão a Deus por ter nos dado a Virgem Maria. Vamos meditar a respeito desse título de Nossa Senhora como Mãe de Deus e ver como é que isso pode frutificar em nossa vida espiritual de forma bem concreta.
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A grandiosidade do mistério da maternidade divina
Por mais que as pessoas não queiram admitir e dizem assim: a Virgem Maria é especial sim, mas ela é um dos tantos santos, um dos tantos discípulos de Cristo, um dos tantos seguidores de Jesus, como foi São Pedro, São Paulo, São Tomé, Santo Antônio, Santo Tomás, e tantos outros santos, não podemos colocar Nossa Senhora no mesmo nível e no mesmo lugar dos outros santos. Pois, nenhum santo gerou o Filho de Deus aqui na Terra como a Virgem de Nazaré gerou. Isto tem que ser uma coisa bem clara para nós: aqui estamos no centro do mistério de nossa fé cristã!
Todos os homens da face da Terra que acreditam em algum deus, em alguma divindade, podem até acreditar que existe um Deus que é criador do Céu e da Terra. Mas, somente nós cristãos cremos que Deus não é sozinho, porque Ele é Amor. Ele é Pai, Filho e Espírito Santo. Somente nós sabemos disso, por causa da maravilha da Revelação divina. Houve um Homem que nasceu em Belém, da Virgem Maria. Este Homem não era um homem qualquer. Ele era o próprio Filho de Deus, que se fez homem. A partir disso, nós ficamos sabendo, foi revelado esse mistério, que Deus tinha um Filho eterno, e que este Pai, que é Deus, ama o Filho, que também é Deus, e que o amor entre o Pai e o Filho é uma outra Pessoa divina, que se chama Espírito Santo. Esse mistério de Amor, Pai, Filho e Espírito Santo, foi revelado, quando este Filho veio ao mundo.
A Virgem Maria recebeu uma missão extraordinária, envolta em um mistério tão profundo, que poderíamos dizer que é um abismo da Sabedoria divina. Ela, criatura humana, recebeu a missão de fazer aqui na história, neste mundo, no nosso tempo, o que o próprio Deus faz na eternidade: gerar o Filho! Esse mistério não tem absolutamente paralelo, não tem com que compararmos. Deus gera seu Filho na eternidade, sempre gerou e sempre gerará. Esse Filho é eterno, sempre existiu e sempre existirá.
O Pai gera o Filho no seu amor infinito e esse amor tem um nome: Espírito Santo. Este amor infinito, que é o Espírito Santo, vem sobre a Virgem Maria para que ela realize aqui na Terra o mistério insondável de gerar, na fragilidade da natureza humana, na nossa carne, o Filho eterno de Deus (cf. Lc 1, 35). Isso significa que a Virgem Maria é filha de Deus Pai, – como todos nós somos filhos por adoção, através de Jesus Cristo – mas, ela recebeu uma missão especial. De alguma forma ela é a expressão do amor de Deus Pai pelo seu Filho aqui neste mundo.
O amor da Virgem Maria ao seu Filho Jesus Cristo
Quando Jesus veio a este mundo, Ele podia ser recebido da maneira mais inadequada, do jeito que nós O tratamos na paixão, com cuspes, xingamentos, açoites, ingratidão, pecado, traição, flagelo, cruz, pregos, coroa de espinhos. Poderíamos receber Jesus com todas essas ofensas. Mas, Deus não quis que fosse assim. Deus quis que a entrada de seu Filho neste mundo fosse diferente e que Ele entrasse sendo amado por um Coração que fosse expressão do Seu amor eterno pelo Filho. Que alegria saber que foi assim!
Se amamos verdadeiramente Jesus, temos que ficar muito felizes, muito alegres, em saber que Ele foi recebido neste mundo por um Coração que O amava do jeito que Ele merecia ser amado: a Virgem Maria. Deus preparou esse Coração com esmero. No Antigo Testamento, temos páginas e páginas onde Deus prepara o Templo (1 Rs 6, 1-38) e a Arca da Aliança (cf. Ex 25, 1-40). É interessante ver aqueles detalhes: com que material que tinha que ser construído, com que material deveria ser feito o Templo. E esse Templo abrigaria a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus. Mas, o fato, porém, é que Deus não morava naquele Templo. Ele tinha uma presença, mas não igual àquela que Ele teria mais tarde.
No Antigo Testamento, a Arca da Aliança era um sinal, uma preparação, uma profecia, poderíamos dizer, de outra Arca da Aliança que viria, de outro Templo, que é a Virgem Maria. Pois isso, aquele esmero, aquelas minúcias, aqueles detalhes, a preciosidade dos materiais que Deus escolheu para fazer o seu Templo no Antigo Testamento é uma figura do preparo extraordinário com que Deus fará a Virgem Maria e moldará o seu Coração Imaculado. Este Coração foi preparado, foi sonhado por Deus, desde toda a eternidade, para ser o lugar onde o Filho Jesus seria acolhido aqui neste mundo.
A Virgem Maria foi um trono digno do Filho de Deus vir aqui se sentar aqui neste mundo. É interessante que, em uma poesia, Santa Teresinha recorda isso: que Jesus, ao olhar para a Virgem Maria de lá do Céu, Ele preferiu o ventre e o Coração de Maria ao seu trono celeste[1]. Como recorda a Carta aos Hebreus, citando os Salmos, Ele veio a este mundo dizendo: “Eis que venho, venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10, 7; cf. Sl 39, 8). Ele veio a este mundo, mas não para o mundo da miséria e do pecado em primeiro lugar.
A preparação do coração da Virgem Maria
Deus preparou um jardim. Da mesma forma que o primeiro Adão foi acolhido neste mundo no paraíso (cf. Gn 2, 8), o jardim que Deus preparou para o seu Filho vir ao mundo foi o Coração da Virgem Maria. E ninguém neste mundo jamais amou Deus como a Virgem Maria ama. Esse é o grande mistério da Imaculada. Quando nós falamos que Nossa Senhora foi concebida sem o pecado original, as pessoas só se lembram do lado negativo, ou seja, que ela foi concebida sem pecado. Mas, o mistério da Imaculada não é somente isso. Existe o fato de que ela era cheia de graça. Ela era vazia de pecado e, ao mesmo tempo, era cheia de graça.
A graça é uma capacidade que Deus dá à criatura de amá-Lo. E a Virgem Maria recebeu graça mais do que os querubins, do que os serafins, do que os anjos, do que todos os coros celestes. Ela a recebeu a graça de Deus numa plenitude tal, numa superabundância, de uma forma tão transbordante e plena, que nós podemos dizer que toda a graça concedida a todas as criaturas em toda a história da salvação não chega aos pés da graça que foi concedida a Nossa Senhora. Deus Pai quis agraciá-la de uma tal maneira, que ela tivesse uma capacidade inimaginável de amar Jesus, para que Ele fosse acolhido no ventre de Maria com um amor semelhante àquele amor com o que Ele o ama no Céu.
O Pai gera o Filho na eternidade e, para revelar, para que saibamos com que amor Ele ama o Filho na eternidade, preparou um jeito para que o seu Filho fosse gerado no tempo com um amor que fosse sinal desse amor. Claro, o amor da Virgem Maria é infinitamente menor do que o amor do Pai eterno. Mas, mesmo assim, é incomensuravelmente maior do que tudo que possamos imaginar. Seu amor é infinitamente menor que o amor de Deus, mas é maior do que possamos imaginar. Se nós víssemos o amor do coração da Virgem Maria pelo seu Filho Jesus, nós morreríamos diante da exuberância desse mistério.
Deus escondeu a Virgem Maria até dela mesma. Isso não deve nos deixar perplexos, porque Deus nos esconde de nós mesmos. O que nós somos e a profundidade de nossa alma nós somente vamos enxergar no Céu. Da mesma forma, aconteceu com Nossa Senhora. Ela foi escondida dela mesma, para que não se envaidecesse, para que não perdesse o foco, porque, em vez de ficar olhando para si mesma, ela precisava ficar toda voltada para seu Filho Jesus.
A escola de amor do Coração de Nossa Senhora
O Coração de Maria amava Jesus de uma forma que precisaríamos aprender. Viver esse Ano Mariano é entrar nessa escola do amor, na escola de Maria, Mãe e Mestra, que nos ensina a amar Jesus, e dizer para ela:
Mãe Santíssima, eu estou terminando o ano de 2016 e devo dizer: eu não sei amar Jesus. De alguma forma, o meu coração é um coração paraplégico, um coração incapaz de se mover na direção do amor. Mas, é tão extraordinário, minha Mãe, ver que o vosso Coração não é assim, e que amais Jesus como ele merece ser amado.
Ó minha Mãe, gerai em mim um coração novo. Ajudai-me a arrancar esse coração de pedra e dá-me um coração de carne, realiza em mim a profecia de Ezequiel: “tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ez 36, 26).
Esse é o espírito do Ano Mariano, que voltado para a Virgem Maria, nos conduzirá a Jesus. Todos os grandes santos, todos os grandes devotos de Nossa Senhora chegaram a esse porto, a esse mesmo ancoradouro final. Toda a devoção mariana é uma grande viagem que nos leva a um porto final: um amor a Jesus que, de alguma forma, está unido a este amor incomensurável, que é o amor de Maria por Cristo.
A reparação ao Imaculado Coração da Virgem Maria
Assim, vamos viver este Ano Mariano de forma especial. Em Fátima, Nossa Senhora apareceu a três crianças mostrando o quanto o coração dos homens é ingrato, o quanto o coração dos homens é pecador, egoísta, infiel, esquecido de Deus. É interessante que, nos relatos de Irmã Lúcia, a Virgem Maria nunca sorriu nas aparições. Ela sempre foi a Mãe meiga, amorosa, porém, uma Mãe, de certa forma, entristecida. Havia sempre um traço de certa tristeza, de certa seriedade, no rosto daquela Mãe. Claro, porque se no Coração dela arde este amor incomensurável por Cristo, como é que ela não se entristeceria de ver como os homens são tão esquecidos do seu Filho? Vemos os dois lados desta moeda: enquanto olhamos para o coração de Maria e nos entusiasmamos, sentimos nosso coração se alargar e se alegrar, exultar de alegria de ver que o Coração dela ama Jesus como Ele merece ser amado, ela olha para o nosso coração. Então, com um certo traço de tristeza e decepção, ela vê que nós esquecemos do seu Filho e não O amamos de volta.
Celebrar a Mãe de Deus é fazer, no início deste ano, o firme propósito de sermos verdadeiramente filhos desta Mãe, para que ela gere em nós um coração novo. Ela é Mãe de Deus, mas é também nossa Mãe. Por isso, os nossos povos, tanto do Brasil quanto de Portugal, irmanados na mesma herança e na mesma identidade espiritual, se unem nesse ano especialíssimo: centenário de Fátima e tricentenário de Aparecida, em que nos confessamos filhos desta Mãe bendita, que tanto amou o Cristo e quer que nós também O amemos.
Durante este ano de 2017, tomemos a peito o firme propósito de reparar as ofensas feitas a este Coração Imaculado, que tanto ama Jesus, que é o Coração de Maria. O site padrepauloricardo.org está propondo a todos os alunos, a todos que fazem parte da sua família espiritual, está propondo que todos os primeiros sábados deste Ano Mariano, fazermos aquilo que Nossa Senhora pediu a Irmã Lúcia, que nós dediquemos um tempo para meditar os mistérios do Rosário, rezar o Terço, fazer uma Confissão e uma Comunhão, para desagravarmos esse coração de Mãe, tão entristecido.
Olhamos para a Virgem Maria e nos alegramos em ver que Jesus é amado, mas olhamos para o coração dos homens e com ela nos entristecemos por ver que Jesus é esquecido e ofendido. Sobretudo também está muito claro na Mensagem e Fátima é o fato de que Jesus é profanado, ofendido, com tantas comunhões sacrílegas, ou seja, pessoas que, sem abandonar o pecado, se aproximam da comunhão. Precisamos verdadeiramente reparar. As pessoas estão perdendo essa consciência e essa sensibilidade com o Sagrado. Vamos então viver esse projeto nesse ano de 2017. Que a Virgem Maria – sob os títulos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e Nossa Senhora do Rosário de Fátima – seja presença verdadeira, desde o início deste ano, a partir da celebração da toda Santa Mãe de Deus e também a nossa Mãe.
Fonte: PADRE PAULO RICARDO. Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. O Ano da Virgem Maria.
TODO DE MARIA. A tristeza de Jesus no ventre de Maria.
TODO DE MARIA. Três propósitos para 2017, o Ano Mariano.
Referência:
[1] Cf. BASÍLICA DE SANTA TERESINHA. Por que eu te amo, Maria.