Saiba o que dizem os ensinamentos da Igreja Católica sobre os supostos irmãos de Jesus, que dizem ser filhos da Virgem Maria.
Nas Sagradas Escrituras, ha várias passagens que mencionam os “irmãos” de Jesus (cf. Mt 13,55; Lc 8,19, Jo 2,12; At 1,14) e, a partir dessas, há pessoas que afirmam que a Santíssima Virgem Maria teve outros filhos, além do Filho de Deus. Para quem tem somente a Bíblia, realmente parece inegável que a Mãe de Deus teve outros filhos e que, sendo assim, Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (cf. Mt 13, 55-56).
Diante de controvérsias como essa, nós católicos temos a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, que são os fundamentos necessários para entender as verdades da fé católica. A partir desses fundamentos, vejamos se é verdade que Nossa Senhora teve outros filhos além do Filho de Deus. Começaremos nosso estudo a partir da Sagrada Tradição da Igreja, que deu origem às Sagradas Escrituras, e do Magistério da Igreja.
A questão dos irmãos de Jesus à luz da Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja
Ao conhecer um pouco mais a história da Igreja, vemos que a falsa ideia de que a Maria Santíssima teve outros filhos além do Verbo de Deus encarnado é quase tão antiga quanto a Bíblia. No século IV, São Jerônimo – o tradutor das Escrituras do hebraico e do grego para o latim – já combatia aqueles que usavam a passagem citada de Mateus e outras para sustentar que a Virgem Maria teve outros filhos. Comecemos nosso estudo a partir dessa mesma passagem. Na Sinagoga, diziam de Jesus: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13,55). A respeito desse trecho do Evangelho, Jerônimo ensina que são chamados de irmãos do Senhor os filhos de sua tia materna, Maria de Cléofas, mulher de Alfeu e mãe de São Tiago e de José[1]. A Tradição da Igreja – desde os primórdios da Igreja até os Santos Padres – e depois os Santos Doutores da Igreja, afirmam unanimemente que a Mãe de Deus não teve outros filhos, e que ela permaneceu Virgem antes, durante e depois do parto do Filho de Deus.
O Magistério da Igreja – em conformidade com as Sagradas Escrituras e a Sagrada Tradição da Igreja – proclamou como dogma de fé a virgindade perpétua de Nossa Senhora, ainda no tempo dos Santos Padres, em 649, no Concílio de Latrão:
Se alguém, segundo os Santos Padres, não confessa que própria e verdadeiramente é Mãe de Deus a Santa e sempre Virgem e Imaculada Maria, já que concebeu nos últimos tempos sem sêmen, do Espírito Santo, o próprio Deus-Verbo (…), e que deu à luz sem corrupção, permanecendo a sua virgindade indissolúvel mesmo depois do parto, seja anátema[2].
Tendo em vista que o Magistério da Igreja Católica proclamou como dogma de fé a virgindade perpétua da Virgem Maria, nós católicos devemos crer nessa verdade de fé. Sendo assim, se ainda não cremos nesse dogma mariano, devemos nos esforçar para crer, para que, então, possamos entender, como bem ensinou o grande Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja: “Não queirais entender para crer, crê para que possas entender. Se não crês, não entenderás”[3].
Passagens das Escrituras sobre os “irmãos” de Jesus
Nas Sagradas Escrituras, há várias passagens nas quais são mencionados os “irmãos” de Jesus Cristo. Dentre estas, tomaremos, primeiramente, a seguinte passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13,55). Nessa citação, temos um Tiago, e sabemos que havia dois apóstolos com esse nome: “Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4). Mateus ainda nos dá a conhecer que entre as mulheres que seguiam Jesus está a mãe de Tiago e de José: “Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu” (Mt 27,56). Como também sabemos que Tiago, filho de Zebedeu, é irmão de sangue de João, então, Tiago, filho de Alfeu, é irmão de José. Apesar disso, a polêmica permanece, pois não sabemos quem é a Maria, mãe de Tiago e de José. No entanto, há uma passagem que esclarece a questão.
Por meio das passagens acima, verificamos que Alfeu, também chamado Cleofas, era o pai de Tiago e de José, os mesmos que são chamados “irmãos” de Jesus, e que mãe deles se chamava Maria, um nome muito comum naquele tempo. Mas a identidade dessa Maria é conhecida por uma passagem do Evangelho segundo São João, na qual esta Maria está ao lado da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, aos pés da cruz: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleofas, e Maria Madalena” (Jo 19,25).
Dessa forma, compreendemos que a Maria, mãe de Tiago e de José, era irmã da Santíssima Virgem, e que esses supostos irmãos de Jesus são, na verdade, seus primos. Essa explicação, provavelmente, não convenceu os incrédulos, e estes, talvez, perguntem sobre os outros dois irmãos: Simão e Judas. Mas não perderemos tempo em mais explicações, pois, além de tornar muito longo o nosso estudo, para quem não tem fé católica é quase certo que não servirão os nossos argumentos.
O verdadeiro significado da palavra “irmãos” na Bíblia
Depois de nos debruçar sobre a questão dos “irmãos” de Jesus do ponto de vista da Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja e, depois, das Sagradas Escrituras, vimos que nós católicos não temos razões para dúvidas, pois cremos, firmemente, que Nossa Senhora foi a Mãe de Jesus Cristo e que permaneceu virgem. Sendo assim, ela não poderia ser a mãe dos supostos “irmãos” do Senhor. Entretanto, podemos ainda nos questionar: se a Virgem Maria não teve outros filhos, por que Tiago, José, Simão e Judas são chamados de “irmãos” de Jesus? A resposta a esta pergunta é muito mais simples do que imaginamos.
Em hebraico, língua dos judeus, a palavra irmão: א ח, que transliterada se lê: ach, é usada para vários tipos de parentesco, pois, na língua hebraica, não há palavras específicas para primo, prima e outros graus de parentesco. Quando a Bíblia foi traduzida para o grego, a palavra “ach” foi traduzida por “adelfos”, que significa literalmente irmão, e não “anepsios”, que significa primo. Posteriormente, a palavra “irmão” foi traduzida para o latim “fratres”, que também significa irmão. As traduções da Bíblia em grego e em latim foram feitas dessa forma para não perder a originalidade e eram naturalmente compreendidas pelas pessoas, pois conheciam a fé católica e a cultura judaica.
Procuremos, portanto, conhecer a fé católica, a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja, e, pelo menos, um pouco da cultura judaica, antes de ler as Escrituras Sagradas. Lembremos sempre o que o Magistério da Igreja nos ensina: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da Palavra de Deus”[4], ou seja, a Bíblia só é Palavra de Deus se está unida à Tradição da Igreja. Conhecendo e aplicando esse princípio fundamental de interpretação em nossos estudos, a Bíblia não será para nós “pedra de tropeço” (1 Pd 2,7), e, certamente, evitaremos pensamentos contrários à fé católica.
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Referências:
[1] SÃO JERÔNIMO. Contra Helvidium, 14. In SANTO TOMÁS DE AQUINIO. Catena Aurea.
[2] DS 255, 649.
[3] SANTO AGOSTINHO. Serm. 118, 1.
[4] CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum, 10.
A verdade é que pra mim Nossa Senhora nunca irá deixar de ser a Mãe de Deus e nossa Mãe Santíssima, como também minha mãe biológica, nunca deixará de ser minha mãe, com suas qualidades e defeitos. A diferença é que Nossa Senhora, somente por ser a Mãe do Salvador, já é tudo: santa, pura e imaculada!!! Ademais, se Deus pode operar milagres em nossa vida (que é o menos), e nos deu seu próprio Filho pra nos salvar, porque não operaria esse milagre: deixar virgem e imaculada Aquela que disse sim em receber o Verbo encarnado, sendo assunta ao céu (???). Como o próprio texto diz, tem que crer pra entender, porque o que me adiantaria eu saber as leituras se não as vivesse/praticasse (???). A Fé é um mistério e só os que creem pode compreender. Por isso, eu creio, eu tenho fé em Cristo e peço a intercessão da Virgem Maria Santíssima por todos aqueles que não creem e não tem fé!
Qual a diferença dela ser virgem ou não? Não entendo a discussão vã!
A diferença é que a vocação e missão de Maria, que deveria ser aquela a ser perfeitamente configurada a Cristo e à Sua Missão, pressupõe que ela vivesse de tal modo que sua virgindade fosse como que um “sacramentum” (um sinal visível que mostra e realiza uma realidade invisível) de sua perfeita e insuperável configuração e entrega exclusiva a Deus, como fez o Cristo ao Pai. É por esse sinal que o segundo acontece: ela é elevada ao Céu de corpo e alma (dogma da assunção), ou seja, ressuscitada por sua perfeita comunhão com Deus e por sua consequente missão para com os homens, ao longo da História da Igreja (“eis aí a sua mãe”), o que não poderia aguardar a Parusia.
Assim, tal sinal seria superior, e não inferior ao matrimônio, nesse caso, de modo que seria algo bem “ordinário” e estranho se ela simplesmente “superasse” Jesus e sua vocação de Mãe do Redentor, para ser uma mulher comum mãe de família da Galiléia. Sua virgindade perpétua afirma o primeiro dos dogmas: Ela é, ontem hoje e sempre, a Mãe de Deus na plenitude de sua vocação para tanto (Theotókos) e, assim, pode hoje ser também, desde a Cruz, Mãe da Igreja.
Aquela preparada desde sua concepção no ventre de Santa Ana para ser a Mãe de Deus e da Igreja, possui, antes de si mesma, uma vocação única, uma missão específica de se dar de toda a Deus (como resposta da humanidade), como configuração à missão do Cristo, de se dar de todo ao Pai. Essa preparada desde sua concepção, isenta do pecado original por essa razão (a Nova Eva), é aquela que permaneceria sempre “olhando fixo para Jerusalém”, como o fez seu Filho, seria assunta ao Céu e, sendo Mãe de Deus e da Igreja, seria a colaboradora na Pedagogia Divina não só na origem da Igreja, mas até a sua plena consumação escatológica.