O nosso maior sonho é também o sonho de Deus, a santidade, a comunhão plena com Ele: queremos ser deuses.
A vinda de Jesus Cristo e a nossa união com Ele pelo Batismo realizam em nós um antigo e maior sonho do ser humano: ser deus. Pois, como disse Santa Terezinha, o Senhor não coloca no coração humano um desejo irrealizável. Deus colocou no nosso coração o desejo de sermos deuses, pois fomos criados à Sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), para a comunhão plena com Ele. Este desejo foi usado pela serpente para fazer o homem pecar (cf. Gn 3, 5ss). O pecado do homem foi querer fazer-se deus por si mesmo, sem o auxílio da graça, o que lhe é impossível. Mas, com a vinda de Jesus nos são abertas novamente as portas do Paraíso, pois, pelo Batismo, podemos novamente participar da vida da Santíssima Trindade, da vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Catecismo da Igreja Católica, 265).
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No Natal celebramos a alegria pela vinda de Jesus Cristo, pois, por Ele recebemos o Espírito de adoção e podemos participar da vida divina (cf. Rm 8, 14-16). Santo Atanásio de Alexandria disse que Deus se fez homem para que o homem pudesse se tornar divino. Com a presença de Cristo na Sua Igreja e no mundo, realiza-se o antigo sonho de Adão e Eva no Paraíso, que também é o sonho de todo o gênero humano. Segundo o Papa Bento XVI, “o Verbo assumiu a nossa humanidade e, em troca, a natureza humana foi elevada à dignidade divina.” Jesus assumiu a nossa natureza, a nossa carne, para que pudéssemos ser elevados à natureza divina.
A realização desse sonho, de sermos deuses, participarmos da natureza divina, se deu por causa de um intercâmbio, de uma troca entre a divindade a e humanidade. Esse “admirável intercâmbio”, expressão de Santo Atanásio, se dá entre a Santíssima Trindade, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e a Virgem Maria. Segundo a vontade do Pai, o Filho se encarna pelo Espírito Santo no ventre de Maria. Ela, por sua vez, neste mesmo ato, dá sua carne, sua humanidade ao Verbo de Deus, que se torna Jesus Cristo, Deus feito homem, Filho de Deus Pai e de Nossa Senhora. Por isso, com muita razão Maria é solenemente proclamada Mãe de Deus, em 431, no Concílio de Éfeso.
Este sonho se realizou em Jesus Cristo, no ventre da Virgem Maria. Mas, para que possamos viver continuamente essa comunhão com Deus, precisamos permanecer Nele. Pelo Batismo, Cristo permanece em nós pelo Espírito Santo, mas da nossa parte também precisamos permanecer Nele (cf. 1 Jo 2, 27). Segundo Bento XVI, este intercâmbio entre nós e Deus, o permanecer em Jesus se dá, de forma mais concreta, na Eucaristia: “Quando participamos da Santa Missa, apresentamos a Deus o que é nosso: o pão e o vinho, fruto da terra, para que Ele os aceite e transforme, doando a Si mesmo e fazendo-se nosso alimento, a fim de que, recebendo seu Corpo e Sangue, participemos de sua vida divina”.
Jesus se entrega inteiramente à vontade do Pai para elevar a nossa natureza decaída pelo pecado, mas nós precisamos igualmente nos confiar a Deus. O Papa Bento XVI diz que só se nos abrimos para Deus, como fez a Virgem Maria, se nós confiamos toda a nossa vida ao Senhor, como a um amigo em quem nós confiamos completamente, somente dessa forma tudo muda. A nossa vida passa a ter um novo significado e um novo rosto: o de filhos de um Pai que nos ama e nunca nos abandona.
Assim, deixemos que o nosso maior sonho e o sonho de Deus a nosso respeito se realizem. Façamos a nossa parte nesse “admirável intercâmbio” entre Deus e os homens, pois Deus está sempre à espera de que correspondamos ao Seu amor. São Luís Maria Grignion de Montfort nos ajuda a acolher Jesus em nossa vida, pois ele nos ensina a nos confiar totalmente a Deus pelas mãos da Virgem Maria. Ela não tem pecado, não tem medo de Deus como nós (cf. Gn 3, 10), por isso, saberá nos ensinar a acolher sem medo o seu Filho em nós. Nossa Senhora, que gerou o menino Jesus, também O gerará em nós. Esse intercâmbio entre Deus e o homem teve a participação de Maria e continuará a ter (TVD 22), até que venha o Reino dos Céus e a vida eterna (cf. 1 Jo 2, 28). Nesse Reino se realizará plenamente nosso sonho e o sonho de Deus desde o princípio: seremos deuses. Pois, no Reino dos Céus acontecerá a comunhão plena entre Deus e os homens.