O autoconhecimento na consagração a Maria

Saiba por que a busca do autoconhecimento é de suma importância para quem faz ou renova a sua consagração a Virgem Maria.

Na primeira semana de preparação para consagração, depois dos doze dias preliminares, São Luís Maria Grignion de Montfort, no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, recomenda que apliquemos todas as nossas orações e atos de piedade para pedir o autoconhecimento, o conhecimento de nós mesmos, e o arrependimento de nossos pecados, em espírito de humildade1.

Saiba por que a busca do autoconhecimento é de suma importância para quem faz ou renova a sua consagração a Virgem Maria.

A Virgem Maria e São Pedro, arrependido por ter negado Jesus Cristo.

Nestes dias de preparação2, devemos recorrer à Santíssima Virgem Maria, pedindo a ela a grande graça do autoconhecimento, que deve ser o fundamento de todas as outras que nos serão necessárias para a consagração3. Este conhecimento de nós mesmos é necessário porque a nossa alma, manchada pelo pecado original e pelos pecados atuais, precisa ser renovada para receber o vinho novo4 da graça de Deus. Para tanto, precisamos nos despojar do “homem velho”5, e revestir-nos do “homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”6.

Inscreva-se e receba o conteúdo deste blog gratuitamente em seu e-mail.

O conhecimento de nós mesmos e a graça do autoconhecimento

Para pedir o conhecimento de nós mesmos e a contrição pelos nossos pecados, São Luís Maria recomenda que meditemos sobre o nosso fundo mau, nossas misérias, fraquezas. Para quebrar o nosso orgulho e conhecer o nosso nada, podemos fazer o exercício de considerar-nos, durante esses dias de preparação, “como caracóis, lesmas, sapos, porcos, serpentes, bodes”7. Podemos ainda meditar “estas três palavras de São Bernardo: “Pensa no que foste, um pouco de lama; no que és, um vaso de estrume; no que serás, alimento de vermes!”8. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao divino Espírito Santo que nos esclareça a respeito de nós mesmos, repetindo as palavras: “Senhor, que eu veja!”9; ou, “Que eu me conheça!”; ou ainda, “Vinde, Espírito Santo!”10.

Nesta busca pelo autoconhecimento, precisamos fazer a nossa parte, especialmente meditando sobre nosso fundo mau, e fazer penitências, jejuns, sacrifícios. Além disso, também devemos estar atentos às inspirações e à providência de Deus. Em nosso dia a dia, podemos ser visitados por Deus em nossas orações e iluminados a respeito de nossas misérias ou de situações que estamos vivendo que não estão de acordo com a vontade do Senhor. Ademais, nestes dias, podem acontecer fatos desagradáveis, inesperados, ou até mesmo pecados de nossa parte, para que conheçamos a nossas limitações, as nossas fragilidades. Atentos aos sinais de Deus, com profunda humildade, peçamos ao Espírito Santo a graça do conhecimento de nós mesmos. No Espírito, saibamos reconhecer quando somos visitados por Deus, às vezes em situações de angústia, de sofrimento, ou de decepção, talvez com nossas próprias fragilidades.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “O grave pecado da indolência”:

O conhecimento da corrupção causada pelos pecados original e atual

São Luís Maria ensina que “as nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós”11. Para exemplificar essa realidade espiritual, ele diz que quando colocamos água límpida e clara numa vasilha com mau cheiro, ou vinho bom numa garrafa com o interior azedado por causa de outro vinho que estava nela antes, a água pura fica facilmente com mau cheiro e o vinho bom logo fica estragado12. “Do mesmo modo, quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho delicioso do seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente manchados e estragados pelo mau fermento e mau fundo que o pecado deixou em nós”13.

Os nossos atos mais elevados, mesmo as virtudes mais sublimes, sofrem as consequências desse fundo mau. Por isso, é da “mais alta importância, para adquirir a perfeição – que só se alcança pela união com Jesus Cristo – esvaziarmo-nos do que há de mau em nós”14. Se assim não fizermos, Nosso Senhor – que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha que vê em nossa alma – afastará de nós os Seus olhos e não se unirá a nós15.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Idolatria e sexo desordenado”:

O autoconhecimento e o despego de nós mesmos

Para nos desapegar de nós mesmos, precisamos “conhecer bem, pela luz do Espírito Santo, o nosso fundo mau, a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação, a nossa fraqueza em todas as coisas, a nossa permanente inconstância, a nossa indignidade de toda a graça, a nossa iniquidade em toda a parte. O pecado dos nossos primeiros pais arruinou-nos a todos quase por completo, azedou-nos, corrompeu-nos, fez-nos inchar como o fermento faz à massa em que é lançado.

Os pecados atuais que cometemos, quer mortais, quer veniais, embora tenham sido perdoados, aumentaram-nos a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e corrupção, deixando maus vestígios na nossa alma. O nosso corpo é tão corrupto que é chamado pelo Espírito Santo corpo de pecado16, concebido no pecado, alimentado no pecado, capaz de todo pecado e sujeito a mil enfermidades. Corrompe-se de dia a dia, e gera somente sarna, vermes e corrupção. A nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal que chega a ser chamada carne: ‘Toda a carne tinha corrompido o seu caminho’17.

A nossa única herança é o orgulho e a cegueira de espírito, o endurecimento do coração, a fraqueza e a inconstância da alma, a concupiscência, a revolta das paixões e as doenças do corpo. Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões, mais apegados à Terra que os sapos, piores que os bodes, mais invejosos que as serpentes, mais gulosos que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais preguiçosos que as tartarugas, mais fracos que caniços e mais inconstantes que os cata ventos. De nosso, só temos o nada e o pecado, e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno”18.

A princípio, estas palavras de São Luís Maria podem parecer exageradas ou passar uma visão extremamente negativa do ser humano. Mas, iluminados pelo Espírito Santo, podemos perceber que esta é a nossa realidade espiritual, que por vezes se reflete em nossas quedas, em nossas misérias, em nosso egoísmo, em nossa falta de amor a Deus e ao próximo. Conhecendo melhor as nossas fraquezas, precisamos nos desapegar de nós mesmos, do orgulho, da concupiscência, da dureza de coração, para acolher Jesus Cristo em nossas almas.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Consagração a Nossa Senhora, um caminho de santidade”:

A consagração e a santidade by Todo De Maria on Mixcloud

O autoconhecimento e o caminho para a salvação e a santidade

Portanto, nesta primeira semana de preparação para a consagração, peçamos a Deus, com humildade, a graça do conhecimento de nós mesmos e a contrição dos nossos pecados. Pois, para fazer a consagração a Jesus em Maria, necessitamos conhecer o nosso fundo mau, a herança que trazemos por causa do pecado original e a corrupção causada pelos nossos pecados atuais, por todo de mal que fizemos contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos.

O autoconhecimento é importantíssimo para fazer a consagração, além do desejo de romper com pecado e buscar a santidade. Mas, isso não significa que precisamos ser perfeitos para fazer a consagração. Pois, a consagração é um caminho de salvação e de santificação19. Sendo assim, se queremos ser salvos, ou ainda ser santos, devemos nos consagrar.

Muitas pessoas desistem de se consagrar porque se deparam com suas fraquezas e não se sentem dignas da consagração, o que ninguém é realmente. A esse respeito, dou o meu testemunho, pois isso aconteceu comigo. Depois que li o Tratado, eu não me sentia preparado e desisti da consagração. Passados mais de dez anos, em agosto 2011, ouvi uma palestra do Padre Paulo Ricardo sobre a consagração, na qual ele disse justamente que a consagração não é para os santos, mas é um caminho para aqueles que desejam alcançar a santidade. Foi assim que, mesmo consciente de minhas fragilidades, eu resolvi me consagrar a Nossa Senhora. Naquele mesmo ano, li novamente o Tratado, fiz a preparação e me consagrei dia 8 de Dezembro.

Ainda não sou santo, e sei que dificilmente a alcançarei a santidade neste mundo, mas reconheço que a consagração tem me ajudado a cada dia em meu processo de santificação e certamente me ajudará a alcançar a salvação. Então, se reconhecemos as nossas fragilidades e estamos dispostos a nos despojar do velho homem20, marcado pelo pecado, e buscar a salvação e a santidade, estamos prontos para os próximos passos para a consagração a Jesus por Maria.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição, rogai por nós!

Observações:

– Para fazer ou renovar a consagração no dia 8 de dezembro, na solenidade da Imaculada Conceição, devemos fazer as orações da primeira semana de 20 a 25 de novembro;

– Para fazer ou renovar a consagração no dia 12 de dezembro, na festa de Nossa Senhora de Guadalupe, devemos fazer as orações da primeira semana de 24 a 29 de novembro.

– As orações preparatórias estão disponíveis em algumas edições do Tratado. Para as pessoas que não as têm, disponibilizamos as orações em formato .pdf: Exercícios espirituais preparatórios para a consagração a Virgem Maria.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A consagração a Maria e o combate espiritual.
TODO DE MARIA. A consagração a Maria passo a passo.
TODO DE MARIA. A consagração e o conhecimento de nós mesmos.
TODO DE MARIA. Fazer ou não a consagração a Maria?

Referências:

1 Cf. TVD 228.
2 As três semanas de preparação, conforme ensina São Luís Maria, são de seis (06) dias.
3 Cf. idem, ibidem.
4 Cf. Mt 9, 17.
5 Ef 4, 22.
6 Ef 4, 23.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, ibidem.
9 Lc 18, 41.
10 Cf. TVD 228.
11 TVD 78.
12 Cf. idem, ibidem.
13 Idem, ibidem.
14 Idem, ibidem.
15 Idem, ibidem.
16 Cf. Rm 6, 6; Sl 50, 7.
17 Gn 6, 12.
18 TVD 79.
19 Idem, 43.
20 Cf. Ef 4, 22.

Comments

comments