São Luís Maria nos ensina como viver a devoção a Virgem Maria na sagrada comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus Cristo.
No livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, São Luís Maria Grignion de Montfort nos ensina como praticar a devoção a Virgem Maria na sagrada comunhão do Corpo e do Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta devoção mariana, primeiramente nos ajuda a preparar nosso coração para receber a comunhão eucarística. Num segundo momento, a devoção a Maria nos ajuda a receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Por fim, no terceiro momento, a verdadeira devoção a Nossa Senhora nos ajuda a viver bem o momento de ação de graças, depois da comunhão. Estes são os três momentos dos consagrados a Nossa Senhora no momento da comunhão, que se realizam por Maria e em Maria e nos ajudam a receber com fruto o Corpo e do Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.
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A princípio, São Luís Maria nos ensina qual deve ser a nossa atitude interior antes da comunhão. Para recebermos o Corpo e o Sangue de Cristo, devemos nos humilhar profundamente diante de Deus, renunciar ao nosso fundo mau e às nossas más disposições interiores, embora o nosso amor próprio faça com que estas pareçam boas. Depois, renovamos a nossa consagração a Maria dizendo: “’Todo Vosso sou, ó querida Mãe, e tudo o que tenho é Vosso!’ (Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt!)”1. A esta boa Mãe suplicamos que nos empreste o seu Coração Imaculado, para n’Ele recebermos seu Filho, com as disposições de Maria. Diremos a ela que a glória de seu Filho exige que Ele não seja recebido num coração tão manchado e tão inconstante como o nosso. Nossa Senhora pode habitar em nosso coração para receber seu Filho, pois tem domínio sobre os corações. No coração de Maria, seu Filho será bem recebido, sem mancha nem perigo de ser ultrajado ou perdido. Com confiança, dizemos a Mãe de Deus que tudo que lhe oferecemos dos nossos bens é bem pouca coisa para honrá-la, mas que desejamos dar-lhe, pela comunhão do Corpo e do Sangue de seu Filho, o mesmo presente que o Altíssimo lhe deu na Anunciação da Encarnação do Verbo2. Deste modo, a Virgem será mais honrada do que se lhe oferecêssemos todos os bens do mundo. Podemos dizer a Maria que Jesus a ama muito particularmente, e que Ele quer ter nela as suas complacências e o seu repouso, mesmo que agora seja em nossa alma, mais suja e pobre que o estábulo onde Jesus quis vir ao Mundo, porque sua Mãe lá estava. Por isso, com confiança, peçamos a Nossa Senhora o seu Coração Imaculado: “Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o Vosso Coração, ó Maria!” 3
O Santo de Montfort ensina que quando estivermos para receber Jesus Cristo na comunhão eucarística, depois da oração do “Pai-Nosso”, devemos dizer três vezes: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo!”4 Na primeira vez, dizemos ao Pai Eterno que não somos dignos “de receber seu Filho Unigênito, por causa dos teus maus pensamentos e ingratidões para com um Pai tão bom”5. A Virgem Maria, a Serva do Senhor, está conosco, representa-nos e dá-nos confiança e esperança singulares6 junto do Deus Altíssimo. Na segunda vez, diremos ao Filho: “Senhor, eu não sou digno…” Dizemos a Jesus que não somos dignos de recebê-lo por causa das nossas inúteis e más palavras, por causa da nossa infidelidade ao Seu serviço. Reconhecendo nossas fraquezas, supliquemos a Cristo que tenha piedade de nós, porque O introduziremos na casa da Sua própria Mãe e nossa. Falaremos ao Filho que não O deixaremos partir sem que venha morar na casa de Maria: “Detive-o e não o deixarei até o introduzir na casa de minha Mãe e no quarto daquela que me gerou”7. Peçamos a Jesus que se levante e venha descansar no lugar do Seu repouso, na arca da Sua santidade8. Diremos a Cristo que não colocamos nenhuma confiança em nossos méritos, nas nossas forças e na nossa preparação, mas nas mãos de Maria, Sua querida Mãe, como o jovem Jacó nos cuidados de Rebeca9. Embora pecadores como Esaú, ousamos aproximar-nos da Sua santidade apoiados e revestidos dos méritos e virtudes de sua Mãe Santíssima. Na terceira vez, diremos ao Espírito Santo: “Senhor, eu não sou digno…” Diremos ao Espírito que não somos dignos de receber a obra prima da sua caridade, Jesus Cristo, por causa da tibieza e da iniquidade das nossas ações e das nossas resistências às suas inspirações, mas que toda a nossa confiança está em Maria, sua Fiel Esposa. Devemos dizer como São Bernardo: “Ela é a minha grande confiança, é toda a razão da minha esperança!”10 Neste momento de graça, podemos pedir que o Espírito Santo venha mais uma vez a Virgem de Nazaré, sua esposa inseparável.
Assista vídeo do Padre Paulo Ricardo sobre a “Devoção à Santíssima Virgem Maria“:
Ouça áudio do Padre Paulo Ricardo sobre a “Devoção à Santíssima Virgem Maria”:
Depois da santa comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor, interiormente recolhidos, com os olhos fechados, entronizamos Jesus Cristo no Coração Imaculado de Maria. Nós daremos o Filho “à sua Mãe, que O receberá amorosamente, O instalará honorificamente, O adorará profundamente, O amará perfeitamente, O abraçará com amor e Lhe tributará, em espírito e verdade, várias homenagens que nos são desconhecidas, a nós, envoltos nessas densas trevas”11. Permaneceremos profundamente humilhados em nosso coração, na presença de Jesus morando em Maria. Estaremos como um escravo à porta do palácio, onde o Rei fala com a Mãe Rainha. Enquanto Eles conversam, vamos em espírito ao Céu e à Terra inteira, pedindo a todas as criaturas que agradeçam, adorem e amem Jesus em Maria por nós. Neste momento de comunhão, peçamos “a Jesus, em união com Maria, a vinda do seu Reino sobre a Terra, por intermédio de sua Santa Mãe”12. Podemos pedir ainda a Sabedoria Divina, o Amor Divino, o perdão dos nossos pecados, ou qualquer outra graça que precisamos, sempre por Maria e em Maria.
Com Jesus em nosso coração, devemos olhar para nós mesmos com desconfiança e dizer: “Senhor, não olheis para os meus pecados, mas que os Vossos olhos só vejam em mim as virtudes e os méritos de Maria”. Recordando-nos dos nossos pecados, acrescentamos: “Foi o inimigo que fez isto!”13 Somos o maior inimigo com quem temos de lutar, pois fomos nós mesmos que cometemos estes pecados. Podemos dizer ainda: “Livrai-me, Senhor, do homem perverso e enganador!”14 que somos nós mesmos; meu Jesus, é necessário que Tu cresçais em minha alma e que eu diminua!15; “ó Maria, é necessário que cresçais em mim, e que eu seja menor que nunca! […] ó Jesus e Maria, crescei em mim, e multiplicai-Vos fora de mim nos outros”16.
Assim, percebemos que o Espírito Santo nos dá uma infinidade de pensamentos e inspirações, se formos interiores, mortificados e fiéis a esta grande e sublime devoção ensinada por São Luís Maria. Recordemos que quanto mais deixarmos Maria agir em nossa comunhão eucarística, mais Jesus será amado e glorificado. Quanto mais profundamente nos humilhamos e escutamos a Mãe e o Filho, em paz e silêncio, sem procurar ver, gostar ou sentir, mais deixaremos agir Maria por Jesus e Jesus em Maria. Pois, o justo vive, em tudo, da Fé17, especialmente na sagrada comunhão do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, que é um grande ato de fé. Que a Virgem Maria, a “Mulher Eucarística”18, nos ajude a receber com fé o Corpo e o Sangue de seu Filho Jesus Cristo. Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!
Referências bibliográficas:
1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Anápolis: Fraternidade Arca de Maria, 2002, 266.
2 Cf. Lc 1, 31.
3 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 266.
4 Idem, 267.
5 Idem, ibidem.
6 Sl 4, 10.
7 Ct 3, 4.
8 Sl 131, 8.
9 Cf. Gn 27, 1ss.
10 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 269.
11 Idem, 270.
12 Idem, 272.
13 Mt 13, 28.
14 Sl 42, 1.
15 Cf. Jo 3, 30.
16 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 272.
17 Hb 10, 38.
18 SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 53.