A devoção a Nossa Senhora do Carmo

A Virgem Maria é a “glória de Jerusalém, alegria de Israel, honra do nosso povo” (Jt, 15, 10).

A Santíssima Virgem Maria é, na verdade, “a glória e a honra do nosso povo”, venerada não somente pelos membros da Ordem dos Carmelitas, mas também por uma imensa multidão de fiéis espalhados pelo mundo inteiro como Rainha e formosura do Monte Carmelo. O culto que lhe é prestado sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo remonta às origens da Ordem Carmelita, cuja tradição o relaciona com a nuvem branca divisada do alto do monte Carmelo, enquanto o profeta Elias pedia insistentemente a Deus que desse fim a uma terrível seca.

A Virgem Maria é a “glória de Jerusalém, alegria de Israel, honra do nosso povo” (Jt, 15, 10).

Nossa Senhora do Carmo e santos carmelitas.

Nessa nuvenzinha, – “pequena como a palma da mão” (I Rs 18, 44), que subia do mar e rapidamente cobriu o céu com grandes e densas nuvens ameaçando chuva abundante – a Igreja Católica reconheceu a figura da Virgem Maria que, ao dar ao mundo o Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, foi portadora da água vivificadora da graça. “Ó nuvens, mandai o Justo” (Is 45, 8), canta a Igreja no tempo Advento, repetindo um versículo do livro do profeta Isaías. A mística nuvem, que dá ao mundo o Salvador, é a Virgem bendita entre as mulheres (cf. Lc 1, 42) e cheia de graça (cf. Lc 1, 28) desde o primeiro momento da sua Imaculada Conceição.

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A oração de Maria e a espiritualidade do Carmo

Os seus filhos comprazem-se em atribuir a Maria, em uníssono com a Liturgia, o cântico do profeta Isaías: “Com grande alegria rejubilei no Senhor e o meu coração exulta no meu Deus, porque me revestiu com a roupagem da salvação e me cobriu com o manto da justiça” (Is 61, 10). Estas palavras, que são como que um prelúdio do Magnificat, também chamado de Cântico de Maria, manifestam muito claramente o reconhecimento da Santíssima Virgem pelos privilégios com que Deus Altíssimo a adornou, preparando-a para ser a Mãe do Seu divino Filho. Na verdade, como em um jardim maravilhoso, em Nossa Senhora “o Senhor fará germinar a justiça” (Is 61, 11), isto é, Jesus Cristo, que por Deus foi feito para nós: “sabedoria justiça, santificação e redenção” (I Cor 1, 30).

Maria Santíssima não retém somente para si os dons sublimes com que foi enriquecida, mas zelosamente faz com que deles participem todos os homens. Ela entregou a todos nós Jesus Cristo e a todos quer revestir com a veste da salvação e a túnica da justiça (cf. Is 61, 10), ou seja, da graça merecida pelo seu divino Filho. É este o significado do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, símbolo expressivo da sua ação maternal em favor de todos aqueles que lhe professam a sua devoção e a escolhem como a sua padroeira especial.

Os primeiros eremitas do Monte Carmelo que construíram, no meio das suas celas, um oratório dedicado a Virgem Maria, veneravam a Mãe de Deus como modelo perfeito da sua vida contemplativa e apostólica. A partir de então, Nossa Senhora do Monte Carmelo foi considerada como modelo e sinal luminoso de comunhão íntima com Deus e de compreensão amorosa dos seus divinos mistérios; isto em sintonia perfeita com o Evangelho, que tão frequentemente a apresenta em atitude orante. “Na Anunciação do Anjo, na visita a Santa Isabel, no nascimento de Jesus, no Templo quando oferece o seu Filho ou quando O encontra no meio dos doutores da Lei, nas bodas de Caná, junto à Cruz ou no Cenáculo, a Virgem Maria aparece sempre em oração”[1]. A Virgem de Nazaré escuta a Palavra de Deus ou canta os Seus louvores, ou ainda medita, “conservando todas as coisas em seu coração” (Lc 2, 19), tudo o que via ou ouvia de Jesus, ou então faz-Lhe ver, com extrema delicadeza, as necessidades alheias (cf. Jo 2, 3) ou, também, pede o de Espírito Santo para a Igreja nascente (cf. At 1, 14ss). A sua atitude orante representa com evidência o carisma do Carmelo que, seguindo os passos da Virgem Maria, situa a oração no centro da sua vida, como meio essencial de união com Deus e de apostolado fecundo. Por esta razão, o Carmelo é todo mariano e contempla em Maria Santíssima o modelo e o guia da sua vida de oração.

O carácter da oração de Maria, mais especialmente vivido e querido no Carmelo, é aquele que a contempla aos pés da Cruz, quando o Senhor Jesus agonizante a proclama Mãe da humanidade, dizendo a São João e, nele, a todos nós: “Eis aí a tua mãe” (Jo 19, 27). Naquele momento, a oração de Nossa Senhora alcança o ponto mais sublime da sua oblação: oferece o seu Filho muito amado ao Pai, pela salvação dos novos filhos, confiados aos seus cuidados e amor maternos. Na oblação do Filho, está incluída a sua própria oblação, porque está intimamente associada a Sua Paixão. “Reviver a oração de Maria significa acompanhar a própria oração com o sacrifício até a transformar em oblação de si mesmo, juntamente com a de Nossa Senhora e a do seu divino Filho”[2]. Esta é a oração que, tal como a de Maria Santíssima, atrai o Espírito Santo sobre Igreja, suplica a graça e a salvação para toda a humanidade e dá verdadeiramente glória a Deus.

Oração a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja

Como foste familiar ao Senhor, ó Mãe nossa! Mereceste ser feita tão próxima, ou melhor, tão íntima! Quantas graças mereceste de Deus! Ele está em ti e tu n’Ele; viste-O e foste por Ele revestida. Viste-O com a substância da carne e Ele veste-te com a glória da Sua majestade. Viste o sol através da nuvem e foste revestida de sol…

E agora, ó Mãe de misericórdia, humildemente prostrada a teus pés, como a luz, a Igreja pede-te, com devotíssimas súplicas que, pois foste constituída medianeira entre ela e o Sol de justiça, por aquele sinceríssimo afeto da tua alma, Ihe obtenhas a graça de que, na tua luz, chegue a contemplar a luz desse Sol resplandecente que te amou verdadeiramente mais do que a todas as outras criaturas, e te adornou com as mais preciosas galas de glória, colocando na tua cabeça a coroa da formosura. Estás cheia de graça, cheia do celeste orvalho, sustentada pelo Amado e transbordante de delícias. Senhora, alimenta hoje os teus pobres; os mesmos cachorrinhos também comem das migalhas que caem da mesa, dá-lhes de beber da tua copiosa hídria (S. Bernardo, De duodecim praerogativis, B.M.V.).

Ó Maria, tu és o modelo das almas de vida interior, dessas criaturas que Deus escolheu para viverem dentro de si, no fundo do abismo sem fundo. Com quanta paz e recolhimento te submetias e prontificavas, ó Maria, a todas as coisas! E como até as mais vulgares ficavam por ti divinizadas, pois em todos os teus atos permanecias em adoração ao dom de Deus! Esta atitude não te impedia dedicar-te a outras atividades externas quando se tratava de praticar a caridade (S. Isabel da Trindade, 1º Retiro, 10, 1).

Ó Maria, Rainha das Virgens, és também Rainha dos Mártires. Mas a espada atravessou somente o teu coração porque em ti tudo te realiza no interior… Oh! quão formosa apareces quando te contemplo no teu prolongado martírio! Quão serena e envolta numa espécie de majestade que revela, ao mesmo tempo, mansidão e fortaleza! Tinhas aprendido do próprio Verbo como devem sofrer aqueles que o Pai escolheu como vítimas e determinou associar à grande obra de redenção, aqueles que conheceu e predestinou para serem conformes à imagem do Seu Cristo, o Crucificado por amor.

Tu estás ali, de pé junto à Cruz, com valor e fortaleza. É então quando o meu divino Mestre me diz: “Eis aí a tua mãe”. Assim dá-te a mim como Mãe. Agora que Ele regressou para o Pai e me pôs em Seu lugar sobre a cruz para que complete o que falta aos sofrimentos de Cristo para a salvação do Seu Corpo que é a Igreja, tu, Virgem Santa, permaneces a meu lado para me ensina a sofrer como Ele, para fazer-me sentir e compreender os últimos acentos da Sua alma que, somente tu, podes compreender (S. Isabel da Trindade, 2º Retiro, 15)[3].

Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A Senhora do Carmo e as aparições de Fátima.
TODO DE MARIA. O Escapulário e a espiritualidade do Carmo.
TODO DE MARIA. O que é e como usar o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo?
Rito de benção e imposição do Escapulário (em formato .pdf).

Referências:


[1]  PADRE GABRIEL DE SANTA MARIA MADALENA. Intimidade Divina: Meditações sobre a vida interior para todos os dias do ano, p. 1232.
[2]  Idem, ibidem.
[3]  Idem, p. 1232-1233.

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