Abraão e Maria na fé da Igreja

Abraão e Maria são dois personagens importantes para a fé da Igreja de todos os tempos.

Abraão e a Virgem Maria na fé da IgrejaAbraão, na Antiga Aliança, e Maria, na Nova Aliança, são dois personagens importantes para a fé da Igreja. Na narrativa da Anunciação, o Evangelho de Lucas iluminou a realidade ação salvífica de Deus, com um paralelo entre Abraão (cf. Lc 1, 32-33; 1, 55; 1, 69; 1, 72-73), o pai dos crentes, e ela, a Mãe dos crentes. “Estar em graça significa: ser crente. A fé inclui os elementos da fortaleza, da confiança, da dedicação, mas também o da obscuridade” (Joseph Ratzinger, Maria, Primeira Igreja, p. 67). Em nossa relação com Deus, a abertura da alma a Ele é a fé. Isso quer dizer que nesta relação do humano com o divino existe uma distância infinita entre nós e o Criador. Por isso, sem a fé não somos capazes de perceber a presença de Deus em nossas vidas nem de compreender os momentos de escuridão e sofrimento.

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O paralelo entre Abraão e Maria começa com a alegria da promessa do filho (cf. Gn 15, 4ss; Lc 1, 31ss), mas continua na hora sombria da subida do monto Moriá (cf. Gn 22, 1ss), e na crucifixão e morte de Cristo; até o milagre da salvação de Isaac (cf. Gn 22, 11ss), e até a ressurreição de Jesus Cristo (cf. Lc 24, 1ss). Abraão é considerado pai dos crentes tanto para a piedade de Israel, quanto para a fé da Igreja. Sem tirar a posição de Abraão em relação à formação do Povo de Israel, no início do novo povo de Deus temos uma mãe dos crentes: Maria. A fé da Virgem Maria, como a de Abraão, é confiança e obediência a Deus, aos seus desígnios, embora não os compreendesse totalmente.

Maria ouve o Anjo falar do Filho, ao qual “porá o nome de Jesus” (Lc 1, 31), que significa Salvador, e lhe é revelado que “o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David” (Lc 1, 31), que ele “reinará sobre a casa de Jacob eternamente e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 32-33). Nesse sentido se orientava toda a esperança de Israel. O Messias prometido devia ser grande e o mensageiro celeste anuncia que “será grande”, quer pelo nome de “Filho do Altíssimo”, quer pelo fato d’Ele assumir a herança de Davi, de reinar “sobre a casa de Jacob” (cf. Lc 1, 32).

Como os judeus, “Maria tinha crescido no meio desta expectativa do seu povo” (Papa João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater, 15). Mediante a fé, ela pode ter compreendido naquele instante que seria mãe do Messias esperado por Israel, contudo respondeu com humildade: “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). “Desde o primeiro momento, Maria professou sobretudo ‘a obediência da fé’, abandonando-se àquele sentido que dava às palavras da Anunciação, Àquele do qual elas provinham: o próprio Deus” (Papa João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater, 15).

A reposta final de Maria a Deus através do Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38), foi a expressão acabada da fé de Abraão e de todo Povo de Israel. Abraão ofereceu seu filho Isaac, o filho da promessa, dom concedido pela sua fé, num sacrifício completo a Deus (cf. Gn 22, 1-10), interrompido no plano material pelo Anjo (cf. Gn 22, 11-12). Com Maria, Deus vai até as últimas consequências, “pois na cruz, sob a qual ela está, nenhum anjo não salvador intervém e ela deve restituir a Deus o seu filho, o filho da promessa cumprida, numa obscuridade da fé para ela incompreensível e impenetrável” (Joseph Ratzinger, Maria, Primeira Igreja, p. 102-103”.

Assim, da mesma forma que Abraão é nosso pai na fé, a Virgem Maria é a nossa Mãe na fé. Pois, como Abraão, Maria acolheu com fé e obediência o desígnio de salvação do Pai, ainda que ela não compreendesse tudo que aconteceria. A fé inabalável de Nossa Senhora ilumina as nossas vidas. Ainda que passemos por momentos de incertezas, dificuldades e sofrimentos, apoiados na fé da nossa Mãe, podemos olhar com esperança para o futuro. Da mesma forma que Maria esteve de pé junto à cruz de Cristo (cf. Jo 19, 25), ela permanece conosco todos os dias de nossas vidas, especialmente nos momentos de sofrimento, cuidando de cada um de nós, para que alcancemos um dia a salvação.

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