Meditemos e contemplemos a Santíssima Virgem Maria, a Rainha do Carmelo, com Santa Elisabete da Trindade.
No dia 14 de Agosto de 1906, já na cela de enfermaria, Santa Elisabete da Trindade (1880-1906) – também conhecida como Santa Isabel da Trindade – anunciou à Madre Maria de Jesus, então Prioresa do Carmelo de Dijon, na França, que no dia seguinte à noite, começaria o seu retiro anual, o último de sua vida, como ela sabia muito bem:
Alegro-me por vos reencontrar nesta minha grande viagem: parto, com a Virgem Santa na tarde da sua Assunção, a fim de me preparar para a vida eterna; a Nossa Madre [Madre Germana] fez-me tanto bem ao dizer-me que este retiro ia ser o meu noviciado do Céu, e que a 8 de Dezembro [quinto aniversário da sua tomada de hábito], se a Santíssima Virgem me visse pronta, me haveria de revestir com o manto de glória. Cada vez me atrai mais a Beatitude: entre mim e o Mestre de nada mais se trata senão disso, e todo o seu cuidado é o de me preparar para a vida eterna[1].
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No décimo quinto dia de seu último retiro, Santa Elisabete da Trindade nos dá a conhecer a sua profunda confiança na Santíssima Virgem Maria, especialmente naqueles seus últimos dias antes de partir para a eternidade:
A simplicidade e a humildade da Virgem Maria
40. Depois de Jesus Cristo, sem dúvida na distância que vai do Infinito ao finito, há uma criatura que foi também o grande louvor de glória da Santíssima Trindade. Foi ela quem respondeu plenamente à eleição divina, de que fala o Apóstolo: manteve-se sempre “pura, imaculada, irrepreensível” (Col, 1, 22) aos olhos de Deus três vezes santo. A sua alma é tão simples. Os movimentos de tal modo profundos que não se pode surpreendê-los. Parece reproduzir na terra essa vida que é a do Ser divino, o Ser simples. Pois é tão transparente, tão luminosa que seria possível tomá-la pela luz, e, no entanto, não é senão o “espelho” do Sol de justiça: “Speculum justitiae!”[2].
“A Virgem conservava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2, 19.51): é a inteira história dela, que assim se pode resumir nestas breves palavras! Foi no seu coração que ela viveu e em tal profundidade que o olhar humano não a consegue seguir. Quando leio no Evangelho “que Maria percorreu diligentemente as montanhas da Judeia” (Lc 1, 39) para ir cumprir o seu ofício de caridade junto a sua prima Isabel, vejo-a passar tão bela, tão calma, tão majestosa, tão recolhida interiormente, com o Verbo de Deus. Também a sua oração, como a d’Ele, foi sempre esta: “Ecce eis-me aqui!” Quem? “A serva do Senhor” (Lc 1, 38), a última das suas criaturas: ela, a sua Mãe! E tão verdadeira foi na sua humildade, porque sempre de si mesma esquecida, ignorante e liberta. Por isso, podia cantar: “O Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas, doravante as nações chamar-me-ão bem-aventurada” (Lc 1, 49)[3].
Nossa Senhora, a Rainha dos mártires
41. Esta Rainha das virgens é também Rainha dos mártires; mas é ainda em seu coração que a espada a trespassou (cf. Lc 2, 35), porque nela tudo se passa no interior!… Oh! como é bela de contemplar durante o seu longo martírio, tão serena, envolvida numa espécie de majestade que inspira, ao mesmo tempo, força e doçura… É que aprendeu com o próprio Verbo como devem sofrer aqueles que o Pai escolheu como vítimas, esses que resolveu associar à grande obra da redenção, os que “conheceu e predestinou para serem conformes ao seu Cristo” (Rm 8, 29), crucificado por amor.
Ela ai está, junto da Cruz, de pé, forte e corajosa e eis o meu Mestre que me diz: “Ecce Mater tua” (Jo 19, 27), Ele dá-ma por Mãe… E, agora, que Ele voltou para o Pai, que me pôs a substitui-lo em seu lugar na Cruz para que “sofra no meu corpo o que falta à sua paixão, por este seu corpo, que é a Igreja” (Col 1,24), a Virgem aí está ainda para me ensinar a sofrer como Ele, para me dizer, para me fazer ouvir os últimos cânticos da Sua alma em que, a não ser ela, sua Mãe, ninguém mais, pôde reparar.
Quando eu tiver dito o meu “consummatum est” (Jo 19, 30), é ainda ela, “Janua coeli”[4], que me há de introduzir nos átrios divinos, segredando-me a misteriosa palavra: “Laetatus sum in his quae dicta sunt mihi, in domum Domini ibimus!…”[5] (Sl 121, 5)[6].
Assista ao programa do Padre Paulo Ricardo sobre “Santa Elisabete da Trindade”:
Poema de Santa Isabel da Trindade: “Louvor da Rainha do Carmelo”
Tuas duas filhas contigo, boa Mãe,
Quereriam festejar a Rainha do Carmelo
Devotando-lhe nossa vida também,
Da Rainha imaculada
Seremos louvores d’amor
Ó nossa Mãe bem-amada,
Guarda-nos em fiel louvor.
Cedo, na Pátria,
Ó Mãe, acolhe-nos,
Na vida eterna
Põe-nos junto de vós.Desde há muito o santo Deus nos atrai
E caminhamos de claridade em claridade.
É p’ra plena luz que nossa aspiração vai
Para ver enfim sua divina beldade!…
E no segredo da sua Face
Deus quer para sempre nos ocultar.
Mãe, na ação da graça
Seus dons havemos de celebrar.
Do mistério invisível
Tudo será desvelado
E o Incompreensível
Nos será revelado[7].
Links relacionados:
TODO DE MARIA. A devoção de São Francisco de Sales a Virgem Maria.
TODO DE MARIA. A infância espiritual e a devoção a Virgem Maria.
TODO DE MARIA. Frases e pensamentos dos Santos sobre a devoção a Maria.
[1] SANTA ISABEL DA TRINDADE. Obras completas. Edições Carmelo, 2008, C 306.
[2] Espelho de Justiça: um dos títulos da Virgem Maria na Ladainha de Lauretana ou de Loreto.
[3] SANTA ISABEL DA TRINDADE. Op. cit., Último Retiro.
[4] “Porta do Céu”: da Litania de Loreto. É um nome que Santa Isabel dava a Virgem Maria, durante os últimos meses de sua vida (cf. R 204).[5] “Alegrei-me na palavra que me foi dita: Iremos para a casa do Senhor” (Sl 121, 1). (Salmo recitado pelas irmãs carmelitas, três vezes ao dia, ao entrarem no coro).
[6] SANTA ISABEL DA TRINDADE. Op. cit., Último Retiro.
[7] Idem, P 103. (Quando Santa Isabel diz: “tuas duas filhas”, refere-se a ela e a Madre Germana, que no dia 16 de Julho de 1906 homenageiam a Rainha do Carmelo).