O que damos a Virgem Maria na consagração?

Saiba o que damos concretamente a Virgem Maria na consagração ou escravidão de amor.

Se compreendemos bem a natureza da consagração total ou escravidão de amor, será fácil para nós ter uma ideia exata do que realmente damos a Jesus Cristo, pelas mãos da Virgem Maria. Certas pessoas experimentam escrúpulos, dúvidas, inquietações e sentem dificuldades no que diz respeito à santa escravidão por não compreenderem qual é a extensão da consagração que fizeram. Dessa falta de conhecimento começam as críticas e objeções que as pessoas comumente fazem contra esta devoção.

Saiba o que damos concretamente a Virgem Maria na consagração ou escravidão de amor.

Nossa Senhora Imaculada Conceição

São Luís Maria Grinion de Montfort explica o que damos a Nossa Senhora pela consagração: 1º nosso corpo, com todos os seus sentidos e membros; 2º nossa alma, com todas as suas potências; 3º nossos bens exteriores, aos quais chamamos bens presentes ou futuros; 4.° nossos bens interiores ou espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e boas obras, passadas, presentes e futuras. Em poucas palavras, entregamos tudo o temos na ordem da natureza, da graça e da glória. Tudo isso, entregamos sem reservas e para toda eternidade, sem pretender nem esperar outra recompensa que não seja a honra de pertencermos a Jesus Cristo por Maria e em Maria[1]. Isto significa que todo o nosso ser, todos os nossos membros, todas as nossas ações devem ser dirigidos para a maior glória de nosso Senhor Jesus Cristo, sob a direção de Maria Santíssima.

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A consagração do corpo e da alma

Na fórmula da consagração, dizemos: “Eu vos escolho hoje, ó Maria, para serdes minha Mãe e Senhora”. Não é sem razão que a palavra Senhora está no final da frase. São Luís Maria quis responder primeiramente àquelas pessoas que pensam que a consagração é contrária ao espírito de infância, de liberdade e de amor, que faz parte do cristianismo.

Na consagração, somos e permanecemos filhos de Maria, mas proclamamos a Virgem Maria como nossa “Senhora”. Dizendo-nos seus escravos, ultrapassamos os limites dessa filiação. Ao nosso título de filhos de Maria, acrescentamos outro, que exprime um abandono muito maior.

Longe de rejeitarmos o nosso título de filhos, o elevamos e servimo-nos dele para nos aproximar ainda mais de Nossa Senhora. É como se disséssemos a Santíssima Virgem: eu sou vosso filho, amo-vos como um filho à sua mãe. Mas, desejo amar-vos ainda mais! Por isso, quero ser vosso escravo, para melhor vos servir e amar. Quero humilhar-me aos vossos pés, para mostrar melhor a vossa grandeza.

O amor se manifesta melhor no servir uma mãe do que na simples alegria de ter uma mãe. É esta doação de amor que exprime a Consagração: “Entrego-vos e vos consagro, como escravo, meu corpo e minha alma”.

Entregamos a uma pessoa o que é devido, o que lhe pertence, segundo um acordo ou contrato. O que entregamos são mercadorias, propriedades. Mas, ao contrário, consagramos uma coisa que nos pertence e que nos pertencerá mesmo depois dessa consagração, mas de outro modo e para outro fim. Por isso, dizemos que consagramos uma igreja, que consagramos a vida ao estudo.

Quando dizemos a Nossa Senhora que lhe entregamos nosso corpo e nossa alma, reconhecemos que pertencemos a Virgem Maria, que por natureza somos seus escravos. Mas, quando nos consagramos, confirmamos essa entrega de bom grado, livremente, oferecendo-nos a ela, prontos para sofrer todas as consequências deste ato de escravidão.

A consagração dos bens exteriores e interiores

Em primeiro lugar, oferecemos a Virgem Maria o nosso corpo e nossa alma, como coisas que já lhe pertencem. Depois, oferecemos os bens interiores e exteriores, como coisas nossas, que nos pertencem por direito. Primeiramente, a doação é “a perfeita renovação dos votos ou promessas do santo batismo”[2]. Mas, essa entrega vai ainda mais longe, porque consagramos a Maria Santíssima o que Deus quis que dispuséssemos livremente.

A entrega total de nossos “bens exteriores e interiores” é o que distingue a verdadeira devoção a Santíssima Virgem de todas as outras consagrações semelhantes.

Nosso corpo, com todos os seus sentidos e membros, pertence a Virgem Maria. Por isso, primeiramente devemos usar as insígnias de Nossa Senhora. Em segundo lugar, devemos dedicar-nos ao seu serviço pela ação e pelo sofrimento.

Padre Zucchi, Jesuíta, (1586-1670) corrigiu o pecado de impureza de grande número de fiéis somente pela recitação desta breve oração: “– Ofereço-me a vós todo inteiro. E para provar meu devotamento, consagro-vos hoje meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração, e todo o meu ser. E já que vos pertenço, ó Mãe, guardai-me, defendei-me, como vosso bem e vossa propriedade”[3]. Esta oração contém, em poucas palavras, todas as condições da santa escravidão a Jesus e a Maria.

Os presentes do espírito são certamente superiores aos da carne, mas, se estes faltarem, a oferta principal terá muito menos valor. Para compreender melhor essa realidade, meditemos na seguinte aparição da Virgem Maria:

Certo dia a Mãe de Deus apareceu a um jovem libertino, que, apesar de ter má vida, a invocava muitas vezes. Vinha Nossa Senhora acompanhada por duas donzelas, que traziam manjares delicados em pratos nojentos. O moço recusou tocar neles pela falta de asseio dos pratos. “Os louvores que me ofereces, disse-lhe a Santíssima Virgem, são de certo belos e bons; mas vindas de um coração corrompido, não me posso comprazer neles”[4].

Nosso corpo é o vaso no qual apresentamos dons, é o instrumento necessário das afeições da nossa alma e dos nossos pensamentos. Por isso, se queremos merecer os favores da Rainha do Céu, revistamos este vaso com pureza e com graça.

Gravemos em nosso corpo, ou seja, em nossos sentidos, a marca, o monograma de Maria, a fim de que, uma vez feitos sua propriedade, sejamos dignos de lhe ser consagrados.

A consagração dos nossos sentidos

Dissemos que nosso corpo deve trazer a marca de Maria Santíssima. Esta marca se identificam com as virtudes da incomparável Virgem Mãe. As virtudes: fé, esperança, caridade, humildade, obediência e tantas outras virtudes, tem sua sede na alma e se servem do corpo para serem colocadas em prática. As seguintes, foram chamadas de pequenas virtudes: a modéstia, a doçura, a indulgência, a afabilidade de espírito, a caridosa dissimulação das faltas, este “quê” de simplicidade e de nobreza, que atrai, acalma, anima e fortalece a tantos quantos se acercarem. Estas devem ser as marcas distintivas de nosso corpo.

Nossos sentidos devem ser empregados no serviço de Nossa Senhora. Para tanto, devemos frutificar o duplo talento que nos foi dado: a ação e o sofrimento. “Se todos os nossos sentidos – escreveu Santo Agostinho – se todos os membros do nosso corpo se transformassem em línguas, não seria muito para pregar as grandezas da Mãe de Deus”[5]. Este piedoso pensamento é, ou pelo menos deveria ser, o sonho dos verdadeiros devotos: consagrar todo o nosso ser ao louvor da Virgem Imaculada.

O segredo para realizar essas aspirações de amor, estes deveres da santa escravidão de amor, está na intenção de fazer tudo para a glória da Virgem Maria, pronunciando frequentemente seu nome, numa vida de intimidade com a doce Rainha de nossos corações.

A consagração dos nossos sofrimentos

Sofrer por nosso Senhor é servi-lo melhor ainda do que trabalhando pela sua causa. Podemos dizer o mesmo em relação ao sofrimento por amor de Maria Santíssima. Este sofrimento pode acontecer de duas formas: pode exercer-se nos sentidos corporais, na imolação dos desejos inúteis em honra da Virgem Imaculada, ou por meio de mortificações voluntárias; ou então, na entrega do corpo às exigências da justiça de Deus, para suportar os golpes que lhe enviar a santidade infinita, como aconteceu com Santa Teresinha, com Santa Elisabete da Trindade e tantos outros santos. O sofrimento ativo e o sofrimento passivo são os dois elementos desta imolação.

Nosso corpo pertence a Nossa Senhora, por isso, deve sofrer a mortificação ativa dos sentidos. Isto é absolutamente necessário para nos tornar dignos da Mãe de Deus. Esta mortificação não é somente a repressão dos desejos culposos, mas é a crucifixão livre e inspirada. Maria Santíssima precisa desta imolação, para cumprir sua missão de Medianeira entre Deus e os homens. Penitência! Penitência! Penitência!, repetia a Imaculada Conceição a Santa Bernadete. No cume dos Alpes, em La Salette, Nossa Senhora pedia com lágrimas que a ajudássemos a suster o braço de seu Filho, que se torna muito pesado pela crescente impiedade do mundo!

Somos escravos de uma Rainha lacrimosa, sofrida, amargurada, por isso devemos ter uma verdadeira paixão por mortificar nossos sentidos. É necessário que pertençamos de tal modo a Nossa Senhora, que nossos olhos, incessantemente, fixem-se nela; que nossos ouvidos apreciem as melodias nas quais ressoem seu nome bendito; que nosso corpo seja todo pleno de modéstia, de pureza, de sacrifício!

Pela sua natureza corrompida, por suas inclinações perversas, nosso corpo é inimigo de Maria Santíssima. Por isso, se amamos verdadeiramente a nossa Rainha e Soberana, não podemos amar nosso corpo, que é seu inimigo. Ao contrário, devemos combatê-lo, vencê-lo, e lançá-lo como troféu a seus pés abençoados. Aí, ela há de ditar-lhe sua vontade, pois nosso corpo deve ser escravo de Maria.

Devemos nos servir do corpo para o serviço e a vontade de nossa Rainha e Senhora. Dessa forma, ela nos levará a proceder na modéstia, na castidade, no afastamento da vida sensual e na mortificação da carne!

Com o corpo, devemos dar a Virgem Maria os bens e os males corporais, que podemos resumir nos bens e males físicos: a saúde, a doença, a morte. Os recebemos estes das suas mãos e à sua vontade os submetemos.

Que caminho aberto à confiança, seja para orar, seja para nos manter no abandono! Ele nos permitirá viver sob a dependência de Maria Santíssima, obedecendo-lhe em tudo, e não concedendo nada a nosso corpo que esteja em oposição com os desejos desta boa Mãe.

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A consagração a Maria como escola espiritual.

TODO DE MARIA. O rito de consagração e a bênção das cadeias.

TODO DE MARIA. Por que nos consagrar no Ano Mariano?

Referências:


[1]  Cf. SÃO LUÍS MARIA GRINION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 121.

[2]  Idem, 126.

[3]  Padre Júlio Maria de Lombaerde. O Segredo da Verdadeira Devoção para com a Santíssima Virgem Maria, p. 97.

[4]  Idem, ibidem. Bourdaloue – Summa aura. – t. XII. col.

1082.98.

[5]  Idem, p. 97.

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