Saiba se Jesus Cristo desprezou a Virgem Maria, chamando-a de mulher.
Podemos nos escandalizar com a Palavra de Deus quando, no Evangelho de João, Jesus Cristo parece ter maltratado a Virgem Maria, chamando-a de mulher1. A este respeito, São Luís Maria Grignion de Montfort nos convida a aprofundar nosso conhecimento do Filho do Altíssimo e da Virgem de Nazaré2. No início do “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, o Santo nos fala sobre Nossa Senhora: “foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo”3. Maria tem um papel fundamental no desígnio da salvação da humanidade. Mas, durante a vida, Maria permaneceu oculta, por isso “o Espírito Santo e a Igreja lhe chamam Alma Mater, Mãe escondida e secreta. A sua humildade foi tão profunda, que não teve na Terra atrativo mais poderoso nem mais contínuo que o de se esconder de si mesma e de toda criatura, para que só Deus a conhecesse”4. Em Jesus Cristo, Deus revelou-se ao mundo e, ao mesmo tempo, escondeu a Virgem Imaculada, em vista da sua participação no desígnio de Deus para a salvação dos homens.
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Deus fez da Virgem Maria uma mulher pobre, oculta, humilde, escondendo-a na sua concepção imaculada e nascimento, na sua vida, mistérios, ressurreição e assunção, aos olhos de quase toda criatura humana. Poucas pessoas são capazes de compreender as maravilhas que Deus fez em Nossa Senhora5. Até mesmo seus pais não a conheciam, e os anjos perguntavam muitas vezes entre si: “Quem é esta?”6. O Senhor a escondia e, se alguma coisa lhes revelava sobre ela, mais ainda lhes ocultava.
São Luís ensina que “Deus Pai consentiu em que Ela não fizesse milagres em vida, pelo menos manifestos, embora lhe tivesse dado poder para isso. Deus Filho permitiu que ela quase não falasse, embora tendo-lhe comunicado a sua sabedoria. Deus Espírito Santo deixou que os Seus Apóstolos e Evangelistas falassem muito pouco sobre Ela, apenas o necessário para dar a conhecer Jesus Cristo”7. Dessa forma, a Santíssima Trindade não quis revelar a grandeza da Virgem Maria durante a sua vida terrena, mantendo-a oculta para as pessoas de seu tempo, nos primórdios da Igreja e também na Palavra de Deus.
Montfort diz que a Santíssima Virgem é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cuja posse e conhecimento Ele reservou para si8. Maria é a Mãe admirável do Filho, que quis humilhá-la e escondê-la durante a vida, para favorecer a sua humildade. Para mantê-la oculta, tratava-a por “Mulher”9. Por vezes, Jesus tratava Maria “como a uma estranha, embora no seu Coração a estimasse mais do que a todos os anjos e a todos os homens”10. Além disso, Jesus Cristo é o grande mestre espiritual da Virgem Maria, que a formou continuamente, na humildade e no silêncio, para ser Mãe, Senhora e Rainha dos Céus e da Terra.
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Durante muito tempo, a reflexão sobre a Mãe do Senhor permaneceu sem grandes avanços, mas nos últimos séculos a doutrina mariológica e a devoção a Santíssima Virgem tem ganhado uma expressão cada vez maior na Igreja. Além disso, as aparições de Nossa Senhora tornaram-se cada vez mais frequentes nos últimos tempos. Todas essas mudanças na teologia, na devoção e nas aparições de Maria estão relacionadas com a segunda vinda do Senhor, como explica São Luís Maria: “na segunda vinda de Jesus Cristo, Maria tem de ser conhecida e, por isso, deve ser manifestada pelo Espírito Santo. Por Ela fará Conhecer, Amar e Servir Jesus Cristo, uma vez que já não subsistem as razões que o levaram a ocultar, durante a vida, a sua Esposa”11.
Assim, Deus favoreceu a humildade da Virgem Maria ocultando-a durante muito tempo, em vista do Seu desígnio salvífico para a humanidade. Mas, nos últimos tempos, a Mãe de Deus tem sido cada vez mais conhecida e amada pelos cristãos e suas aparições são cada vez mais frequentes, o que nos ajuda a entender que a segunda vinda do Senhor está próxima. Nossa Senhora é aquela alma escondida e orante da Igreja, própria da Mãe, que nos prepara para acolher Jesus Cristo e a Sua vontade em nossas vidas. A vida da Santíssima Virgem é silenciosa e oculta, como ela mesma disse a Santa Faustina: “vossa vida deve ser semelhante à Minha: silenciosa e oculta, continuamente unida a Deus, em súplica pela humanidade e a preparar o mundo para a Segunda vinda de Deus”12. Em obediência às suas palavras, nossas vidas devem ser semelhantes à de Maria, silenciosas e ocultas, por isso, o Senhor permite que às vezes sejamos humilhados, maltratados, como também foi sua Mãe. Deus procede dessa forma para que Jesus Cristo seja gerado em nossas almas, pelo Espírito Santo, para, à semelhança de Maria, nos fazer humildes, silenciosos, orantes, fecundos. Com a Santíssima Virgem – que nos faz conhecer, amar e servir seu Filho – permaneçamos continuamente unidos a Deus em súplica pela humanidade, preparando um povo bem disposto para a segunda vinda de Jesus Cristo, que por ela reinará no mundo. “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”13. Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!
Referências:
1 Jo 2, 4; 19, 26.
2 Cf. Lc 1, 26-38.
3 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Anápolis: Fraternidade Arca de Maria, 2002, 1.
4 Idem, 2.
5 Cf. Lc 1, 49.
6 Ct 8, 5.
7 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 4.
8 Cf. idem, 5.
9 Jo 2, 4; 19, 26.
10 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 5.
11 Idem, 49.
12 SANTA MARIA FAUSTINA KOWALSKA. Diário: A Misericórdia Divina na minha alma. 36ª ed. Curitiba: Apostolado da Divina Misericórdia, 1995, 625.